Wuhan. Há um ano chegavam os repatriados do epicentro da pandemia

Faz hoje um ano que Miguel Matos, treinador de guarda-redes, chegou de Wuhan. Pensava que ia ficar apenas por “um ou dois meses” mas acabou por ser contratado pelo Gil Vicente. Nem sempre achou que tinha feito a escolha certa, mas acabou por decidir ficar.

Foi em novembro de 2019 que foram confirmados os primeiros casos de infeção por covid-19 no mundo. Wuhan, na República Popular da China, foi o local de nascimento de uma pandemia, que rapidamente daria a volta ao globo. No dia 24 de janeiro, quase dois meses depois, soube-se que tinham sido pela primeira vez contactados pela embaixada portuguesa em Pequim, portugueses que se encontravam na cidade. A 2 de fevereiro partia de China um voo que trazia a bordo 18 repatriados, que ficaram em isolamento no Hospital Pulido Valente durante 14 dias. Um deles foi Miguel Matos.

O português de 44 anos era treinador de guarda-redes no clube Hubei Chufeng Heli e na altura em que foi decretado o primeiro confinamento tinha acabado de chegar do sul da China, onde a equipa esteve a realizar um estágio. No início de fevereiro, Miguel regressou a Portugal não sabendo (ainda) o que era contrair o vírus que durante os últimos três meses o tinham rodeado. O objetivo inicial era o de regressar à China “passados dois ou três meses”, conforme contou o próprio ao i.

O treinador explica que “estava longe de acreditar que aquele vírus se transformasse numa pandemia”. Mas transformou e passado um ano Miguel já não é treinador do Hubei Chufeng Heli mas sim do Gil Vicente. A proposta foi-lhe feita no final de julho “e, por coincidência” os seus colegas “voltaram para Wuhan uns dias mais tarde”. Estar perto da família foi um dos pontos que o fez ficar na sua terra natal. No entanto, nem sempre achou que tinha feito uma boa escolha: “Houve alturas em que pensei que tinha feito mal em ter voltado para Portugal. Quando lá a situação ficou melhor, aqui piorou. Nessa altura estava com receio de perder o meu trabalho. Foram coisas que me passaram pela cabeça uns três ou quatro meses depois de ter chegado a Portugal”. 

Cerca de um mês e meio depois de começar a ser treinador de guarda-redes no Gil Vicente, Miguel Matos viu-se infetado com o novo coronavírus, ao qual tinha escapado há 9 meses. Esteve, no entanto, assintomático mas o clube viu-se perante um surto que infetou 15 pessoas, desde treinadores e jogadores a membros da estrutura do clube. Miguel passou sempre “por entre os pingos da chuva” e sente-se estável na sua terra natal.

Como está a china hoje? Wuhan festejou o início do novo ano como provavelmente quase nenhuma outra cidade no mundo. O Governo chinês pareceu querer dar um sinal de esperança e de relativa normalidade aos habitantes da cidade onde tudo começou e apesar de uso de máscara ser obrigatório, o distanciamento social foi algo que no primeiro dia do ano foi posto de lado. 

O país tem tentado controlar os surtos, mantendo atualmente uma média diária de cerca de 100 novos casos de infeção. Por isso mesmo começou na semana passada a fazer testes via anal. De acordo com os órgãos de comunicação chineses, o vírus é mais fácil de detetar através deste tipo de testagem visto que, segundo especialistas, pode viver mais dentro no interior do ânus do que nas vias respiratórias. Para que o cenário do ano passado não se repita, a China está a realizar campanhas de testagem massiva. Neste momento, a zona que mais preocupa o Governo chinês é a do norte do país, estando a ser feitos os possíveis para conter os surtos. O uso de máscaras em público é obrigatório em todo o país e a medida é cumprida pelos cidadãos. Quando é detetado um caso positivo, a circulação é, regra geral, imediatamente bloqueada nesse distrito ou cidade.

Visita da OMS A Organização Mundial de Saúde (OMS) chegou na semana passada a Wuhan para visitar os hospitais que trataram os primeiros pacientes e o mercado de Wuhan, o primeiro local conhecido do surto. O espaço comercial onde eram vendidos animais selvagens vivos está encerrado desde janeiro de 2020 e a entrada foi apenas permitida aos investigadores da OMS. Os dados recolhidos através desta visita deverão ser o ponto de partida para um trabalho de investigação que deverá demorar vários anos.