Com 60,7%, Marcelo até venceu a abstenção que teve 60,2%, mesmo reforçada com o recenseamento obrigatório dos emigrantes, o que para mim foi a grande vitória da noite. Rio, foi o enorme derrotado, por mais que tivesse trazido à ribalta a derrota de Costa que assistiu de cadeirinha a estas eleições, ao estilo de ‘digladiem-se lá e vejam se arrumam a Ana Gomes!’.
Rio teve nestas eleições a prova evidente que há um eleitorado moderado, que rejeita extremismos, que anseia por um líder com o perfil de Marcelo, agregador e conciliador. No entanto, em sondagem à boca das urnas, apenas cerca de 23% dos eleitores vota PSD e 35% continua a preferir o PS. Razões? Para mim, a principal, é que a maioria do eleitorado não perceciona Rio como alternativa a Costa, mesmo depois de quase 11 meses de pandemia e de uma gestão desastrosa, como o demonstra a triste liderança de Portugal nos contágios de covid a nível mundial.
Que resta a Rio? As autárquicas. Ou assume que são para ganhar e apresenta candidatos credíveis e com carisma, pelo menos em todas as capitais de distrito, ou é varrido da liderança logo a seguir em qualquer congresso a convocar. Problema maior? Diz quem o conhece que adora pensar pela sua cabeça, sem ouvir ninguém. A verdade é que, por muito bem que pense, todo e qualquer líder precisa de ter consultores que o desafiem, que contestem os seus argumentos, para depois decidir.
Vencedor da Câmara do Porto, acho que confunde o município com o país. Continua sistematicamente no seu ‘casulo’, saindo para raros discursos, todos sempre pensados e bem construídos (exceção ao da noite das eleições em que se lembrou de louvar o Chega), mas regressando de imediato à clausura. Com a agravante do resto do PSD, com tantos e tão bons quadros, estar igualmente confinado, com raras aparições. Surpreende que a maioria das pessoas não percecione o PSD como alternativa?
Em suma, a margem de manobra cada vez se estreita mais para Rio a quem compete recuperar rapidamente o PSD, neste cenário em que à sua direita viu o CDS implodir e Ventura sair das presidenciais aparentando ser o líder da oposição. Tão simples como isto.
2. Alguém achou que Marta Temido devia ir a uma entrevista na televisão. Com uma entrevistadora soft, a ministra teve tudo para brilhar. Tudo, exceto ela! Estoirada, nervosa, sentiu o ‘rastilho aceso’ com algumas perguntas e ‘explodiu’. Utilizou expressões como ‘bullying’ (considerando-se vítima) ou ‘criminosos’ (a quem ousa criticar), escuda-se no seu esforço que ninguém nega, mas demonstrando estar à beira de um esgotamento – o que nem surpreende nas circunstâncias.
Por isso, vou apenas relembrar que qualquer ministro é escrutinável em democracia. Ou que quando um Governo toma posse, é porque há uma maioria de portugueses que o viabilizam para liderar o país, confiando nele como um todo e, individualmente, nos escolhidos pelo primeiro-ministro.
Mas quando os números de uma pandemia atingem a expressão de liderança a nível mundial, qualquer coisa correu mal forçosamente, como Costa, aliás, reconheceu. Terá sido a falta ou um planeamento mal pensado, terão sido os quadros que incumbidos de o executar foram incompetentes, terá sido o Natal que de forma imprudente foi oferecido, algo garantidamente foi. A conclusão é óbvia: o Governo não esteve à altura da confiança que lhe foi depositada.
Costa bem podia ser magnânimo e poupá-la a mais esforços, fazendo uma remodelação governamental bem alargada, nunca individualizada, revigorando o Governo para uma segunda fase. De uma penada, resolvia vários problemas que desgastam o país e respondia aos recados de Marcelo.
P.S. 1 – João Ferreira viu o seu caminho para Secretário-geral marcado com 4,3%, o que demonstra que o PCP deveria ter preservado as suas soluções de futuro. O Bloco, insistindo com Marisa, viu os seus votos fugirem para Ana Gomes. Agora? Certamente que irão fustigar o Governo para reconquistar o eleitorado, mas só lhes resta apoiar a Geringonça nas votações!
P.S. 2 – A ideia de dar prioridade aos políticos nas vacinas é mais ‘um tiro no pé’. Se ficassem pelos titulares de altos cargos seria compreensível, alargar isto a todo e qualquer um, é dar trunfos a Ventura.
P.S. 3 – Segundo o CM, o candidato que se apresentou com 11 assinaturas a eleições teve 5 mil votos. Ninguém é despedido por o seu nome ter ido até ao boletim de voto?
P.S. 4 – No índice mundial de perceção da corrupção descemos de 30.º para o 33.º lugar, com 61 pontos, o pior score desde 2012! Sem comentários.