Covid-19. Cientistas querem saber se misturar vacinas funciona

Tomar vacinas diferentes na primeira e na segunda toma pode ser uma estratégia para enfrentar eventuais variantes da covid-19 perigosas.

O Reino Unido quer saber se inocular vacinas diferentes, na primeira e segunda dose, será eficaz contra a covid-19, ou se até poderá aumentar a proteção contra o vírus. Os 800 participantes no ensaio clínico, que deverá durar uns 13 meses, receberão uma primeira dose da vacina desenvolvida pela AstraZeneca e Universidade de Oxford, com uma segunda dose da vacina da Pfizer e da BioNTech, variações a periodicidade.

Caso os resultados do estudo sejam positivos, isso “poderá aumentar muitíssimo a flexibilidade da distribuição de vacina, e providenciar pistas sobre como aumentar o espetro de proteção contra novas estirpes do vírus”, explicou Matthew Snape, um investigador da Universidade de Oxford especializado em vacinação, à CNN.

O ensaio – que o Governo britânico financiou com o equivalente a oito milhões de euros – surge numa altura em que o Reino Unido já inoculou 10 milhões de pessoas, boa parte com a vacina da Pfizer, produzidas na Bélgica, tem um stock enorme de vacinas da AstraZeneca, mas arrisca perder o fornecimento da Pfizer, com a União Europeia a proibir a sua exportação.

Mesmo assim, a recomendação continua a ser para que os britânicos tomem duas doses da mesma vacina. “De momento, não vamos mudar nada, de todo”, pelo menos até ao verão, quando deverão sair os resultados preliminares do ensaio clínico, assegurou Nadhim Zahawi, o ministro britânico encarregue da vacina, à BBC. 

Além disso, se alguma variante da covid-19 afetar a imunidade dada pelas vacinas, obrigando as farmacêuticas a desenvolver outras versões, combinar vacinas pode ser crucial para proteger contra estirpes novas e antigas.

Anticorpos ineficazes Até agora, esses receios não se concretizaram, mesmo com o surgimento da variante britânica, sul-africana e brasileira, muito mais transmissíveis. Mas o assunto tornou-se ainda mais prioritário após a descoberta de que os tratamentos com anticorpos monoclonais em estudo, a grande esperança de uma cura para a covid-19, perdem eficácia contra novas variantes.

Entre os tratamentos mais promissores, criados pelas farmacêuticas Eli Lilly, Regeneron – cujo medicamento foi utilizado para tratar Donald Trump, que o apelidou como “milagroso” – e GlaxoSmithKline, não há nenhum que funcione contra todas as variantes, avançou o Guardian.

Já sabemos que o tratamento da Eli Lilly, por exemplo, é eficaz contra a variante brasileira e sul-africana, mas falha contra a variante britânica. Não é por acaso que esta farmacêutica anunciou um ensaio clínico conjunto com a GlaxoSmithKline, a semana passada, juntando o medicamento de ambas. 

O falhanço dos anticorpos monoclonais contra variantes não implica que a eficácia das vacina diminua, atenção. Estes medicamentos são feitos clonando anticorpos contra a covid-19 e injetando-os, em vez de esperar que o corpo os produza naturalmente – algo que a vacina estimula. Contudo, os anticorpos não são a única defesa que uma vacina estimula, explicou o virologista Pedro Simas, investigador do Instituto de Medicina Molecular, ao Nascer do SOL.

“Os anticorpos são importantes para a proteção contra a infeção, mas o mais importante na resposta imune contra a doença grave é a resposta celular. São as células imunológicas geradas para eliminar do nosso corpo as células contaminadas”, explicou o virologista. “A forma como essa imunidade funciona e reconhece células infetadas não é igual à forma como os anticorpos o fazem, é muito mais robusta face a mutações”.