Ihor Homeniuk foi reanimado durante mais de 20 minutos

O médico que certificou o óbito de Ihor Homeniuk chegou às instalações do SEF no aeroporto de Lisboa 27 minutos após o cidadão ucraniano ter sofrido a paragem cardiorrespiratória.

Inquirido como testemunha no julgamento do homicídio do cidadão ucraniano Ihor Homeniuk, o médico que certificou o óbito deste nas instalações do SEF foi ouvido, esta quinta-feira, e revelou que tentou durante 23 minutos reanimar o homem, que tinha sofrido uma paragem cardiorrespiratória e apresentava um «hematoma em cima do olho».

O profissional de saúde, João Pascoal Valente, explicou em tribunal que a emergência médica de Santa Maria foi alertada por volta das 18h10 do dia 12 de março, tendo o próprio chegado às instalações do SEF no aeroporto de Lisboa alguns minutos depois, mas Homeniuk tinha sofrido a paragem cardiorrespiratória há já 27 minutos.

De acordo com Pascoal Valente, a vítima estava no chão, na presença de uma enfermeira do aeroporto de Lisboa que já tinha tentado, sem êxito, realizar as manobras «básicas de reanimação».

Assim, terá prontamente acionou o «suporte avançado de vida», realizando alegadamente todas as manobras avançadas de reanimação, que se prolongaram por mais 23 minutos, mas que se mostraram infrutíferas. Deste modo, entre o início da paragem cardiorrespiratória e o fim das tentativas avançadas para reanimar Homeniuk terão decorrido cerca de 50 minutos.

Uma noite de agonia
«Ouvi vozes e gritos», declarou a testemunha Ana Sofia Lobo ao terceiro dia do julgamento do alegado homicídio – de que são acusados três inspetores do SEF – do cidadão ucraniano Ihor Homeniuk, que morreu a 12 de março do ano passado, enquanto permanecia à guarda do serviço de segurança no aeroporto de Lisboa. A vigilante chegou a levar um copo de água para ser entregue a Ihor quando este foi isolado numa sala sem mobiliário e apenas com um colchão, tendo admitido que, durante a madrugada, abriu um armário com lençóis descartáveis. Estes, em dada altura, terão servido para amarrar as mãos do passageiro, que estava «agitado e a dar murros» na parede, bem como a atirar-se contra as paredes da sala.

A testemunha alegou inicialmente não ter conhecimento de que, mais tarde, Ihor Homeniuk foi atado com fita adesiva, mas perante a insistência do juiz presidente, Rui Coelho, e confrontada com imagens de videovigilância, reconheceu ter visto um colega sair da sala com fita adesiva e uma tesoura nas mãos. Acrescentou também que chegou a ser preciso levar fita adesiva suplementar para a sala onde se encontrava o ucraniano.

Ana Sofia Lobo também teve dificuldades em explicar por que razão, de manhã, só saiu uma hora depois de terminar o seu turno normal, tendo tentado justificar com a chegada de mais passageiros.

Recorde-se que os acusados da morte de Ihor Homeniuk estão em prisão domiciliária desde a sua detenção, em 30 de março de 2020, razão pela qual este é considerado um processo urgente que prossegue mesmo em tempos de pandemia de covid-19.