Mariana Alvim: “Demorei tempo a ganhar coragem para seguir os meus sonhos”

Dá-nos o ‘Bom Dia’ de segunda a sexta-feira com o ‘Café da Manhã’. À hora a que conversamos, o dia já vai longo para a locutora da RFM, mas o entusiasmo e o sentido de humor continuam no ‘ar’. Além da rádio, a escrita é outra das paixões de Mariana Alvim. Depois de ter publicado…

Mariana Alvim: “Demorei tempo a ganhar coragem para seguir os meus sonhos”

Já diz o provérbio que de manhã é que se começa o dia. Estás no ‘Café da Manhã’ há oito anos. Qual é a sensação de todos os dias ajudares milhares de portugueses a acordar? É uma responsabilidade enorme, mas também um grande prazer. Não fazia ideia de que iria ficar tanto tempo neste horário, cheguei a dizer: ‘Hoje em dia é tudo muito volátil, devem ser para aí dois anos’. Porque eu sofro imenso com este horário, sou dorminhoca. E de repente faz agora oito anos.

A que horas acordas? Às 5.40h.

É duro… É duro é [risos]. E, ao contrário do que se acha, não nos habituamos. Todos os dias menos ao fim de semana, que acordo às 8h e acho fantástico [risos].

Tens bom acordar ou acontece chegar à rádio e ter que ter aquela energia extra para o ouvinte, mesmo naqueles dias em que se está mal disposta e, se calhar, não apetecia tanto? Parece um bocado clichê mas, de facto, na rádio tu ligas o microfone e esqueces-te de tudo. Todos nós temos dias assim, ainda por cima de manhã sou pouco faladora. Não sou mal disposta, mas não fales comigo [risos]. Agora, claro, com filhos já não posso fazer isso há muito tempo. Mas, às vezes, acontece isso, entramos pouco faladores mas, de repente, entramos no ar e tudo se esquece. Também ajuda não estar sozinha. Se estivesse, talvez ficasse mais apagada fora do ar, mas assim que chego à rádio já tenho lá os meus amigos e, obviamente, já estamos a falar uns com os outros. Mesmo que tenha tido uma má noite ou que esteja numa fase menos boa nem pensar mostrar isso no ar.

A rádio tem de estar sempre a reinventar-se, sobretudo nos dias de hoje. Com o confinamento foi ainda mais complicado? O carro é o sítio onde mais se ouve rádio, foi difícil fazer esta adaptação de modo a que as pessoas não perdessem o hábito e continuassem a querer ouvir? Foi um desafio enorme, porque não sabíamos o que nos esperava no primeiro confinamento. Estivemos no Facebook também, durante a emissão na rádio, mas fora do ar. Ou seja, quando saíamos do ar da rádio e passavam músicas, continuávamos com o público, mas no Facebook. Eram três horas intensivas de programa e tivemos de criar ‘castigos’ para envolver as pessoas e fazer com que viessem para o Facebook. Foi desgastante, mas muito giro. Valeu.

Apesar de estares no ‘Café da Manhã’ há oito anos, já estás na RFM há 12. Como vês este processo de mudança no que respeita à imagem? Ou seja, antigamente podíamos ouvir o locutor durante anos e não associar uma cara àquela voz. Agora, a rádio também se faz – e cada vez mais – de imagem… Foi gradual. Confesso que adorava o anonimato da rádio. Se o meu filho fizer uma birra no supermercado ou se eu apanhar um ‘pifo‘ com uma amiga num restaurante ninguém sabe quem é que eu sou [risos]. Eu gosto do anonimato, muito sinceramente. Eu nem queria ter Facebook. Na altura era quase 100% anónima. Agora há as redes, e eu fui obrigada a ter. O Instagram acho graça, de resto não ligo muito e, mesmo assim, devia ser mais ativa e não sou. Mas foi gradual, eu continuo a achar que sou um bocado anónima, na rua as pessoas não viram o pescoço, e ainda bem [risos]. Mas, ao princípio, foi um bocadinho contra a minha vontade, sobretudo os vídeos no estúdio, a minha primeira reação foi: ‘Então mas ninguém me perguntou? E se eu não quiser?’. Mas, de facto, tens que te adaptar e não podes dizer que não. Faz parte, os tempos mudaram, mas, apesar de tudo, continuo a sentir-me reservada.

E isso levou a que tivesses que acordar ainda mais cedo de manhã, para te arranjares?

[Risos]. Não. Nisso confesso que, para desgosto da minha mãe, ainda sou um bocadinho trapalhona [risos]. Eu acordo o mais perto possível da hora a que tenho que sair de casa, tenho a roupa preparada. Depois, com os meus amigos, que são os meus colegas, ganhei à vontade muito rapidamente, não tenho outro remédio, então maquilho-me ao lado deles. Hoje, por exemplo, nem sequer me maquilhei. Depois, se calhar, vou ter pena quando vir o vídeo [risos].

Mas depois esquece-se e volta-se a fazer igual, não? Sim, repito o erro [risos]. Ok, se calhar aos 40 anos já me devia maquilhar mais, mas a preguiça e o conforto ganham. Mas continuo a ir também com roupas descontraídas, claro que se for uma coisa mais especial faço um esforço. Mas continuo a achar que tenho a desculpa de a rádio ser descontraída e eu sou muito honesta com aquilo que sou. Por favor, não me peçam para ir de saltos altos, porque eu nunca gostei. Se querem a Mariana, deixem-na de ténis para estar confortável e feliz [risos].

Por falar nisso, a rádio foi ficando cada vez mais descontraída… Explora-se mais o lado pessoal, as brincadeiras entre os locutores e o humor também é obrigatório. Como vês esta transição? Sem dúvida. Eu tinha acabado de entrar na rádio, há onze ou doze anos, e a RFM tratava as pessoas por ‘você’ e passou para o ‘tu’. Fez-me muita confusão, mas eu estava lá há pouco tempo, para os meus colegas que já estavam na RFM há anos fez-lhes a maior das confusões e houve pessoas que não concordaram, foi polémico até. Tanto internamente como com os ouvintes, mas deram-me um argumento que comprei imediatamente e ainda hoje vendo. Era assim: ‘Antigamente, as pessoas de 40 anos usavam fato e tratavam-se por ‘você’; hoje as pessoas de 40 anos usam ténis e jeans e tratam-se por ‘tu’’. Eu tinha 30 anos quando houve esta conversa, mas agora, que tenho 40, ainda concordo mais [risos]. E depois, apesar de eu gostar mais de dizer locutora e não animadora de rádio – mas por hábito, porque é o nome da profissão que ouvi toda a vida -, realmente antes eram locutores, pessoas que tinham de colocar a voz e falava-se mais devagar. Hoje em dia somos, de facto, animadores, porque animar é exatamente a nossa função. Mais do que procurarem vozes, procuram personalidades e faz todo o sentido. Dizem-me que coloco a voz mas eu não o faço, por acaso tenho a voz um bocadinho grossa, mas se tivesse a voz fininha talvez não conseguisse fazer rádio. Mas é pela personalidade que se escolhem as pessoas e isso traz o natural e orgânico em que a rádio se tornou.

Antes da rádio, ainda trabalhaste em marketing. Achas que foi uma área que te ajuda ainda hoje no processo criativo de algumas rubricas? O marketing deu-me ferramentas. Não sei se diretamente para as rubricas de humor, porque aí acho já tenho mais sangue de rádio do que de marketing. Lembro-me de que quando fui para a rádio pensei que foi uma estupidez ter ficado tantos anos no marketing [sete]. O meu sonho era escrever e a rádio. Achei que tinha demorado muito tempo a ganhar coragem para seguir os meus sonhos, mas depois percebi que não, no fundo não foi tempo perdido, mas sim tempo investido. Trouxe-me ferramentas a todos os níveis, não só indiretamente nas rubricas como na gestão dos bastidores, na preparação do programa… Há toda uma exigência que consegui ter desde muito cedo, porque vinha deste mundo de mercado de marketing.

Pode dizer-se que a passagem pelo marketing foi o tempo que precisou até ter a coragem para tentar a rádio? A minha primeira paixão foi a escrita, aos treze anos já dizia que queria ser escritora quando fosse grande. Na faculdade é que me apaixonei pela rádio. Tive uma cadeira de rádio onde tirei um 19 em 20, apaixonei-me mesmo. Ainda na faculdade fiz um estágio obrigatório e fui parar a uma multinacional de marketing (Unilever) e achei, na altura, que era só para fazer currículo e depois ia curtir e fazer o que queria. Tinha tempo. Só que na altura, tempo de vacas gordas, ganhava bem para xuxu e fui ficando, mas sempre a pensar na rádio. Mas essa mudança para a rádio implicava regredir, tanto na carreira como na remuneração. Fui fazendo cursos de rádio, já que estava num emprego fixo e tinha que pagar contas, além de que casei nova, tinha que ser responsável. Não podia arriscar muito, mas fui tirando cursos de comunicação no CENJOR, sempre em regime pós-laboral, e tirava férias para fazer cursos de comunicação. Fiz castings de rádio e ganhei alguns, mas acabava por não ir, porque isso significaria perder o emprego e voltar a um estágio não remunerado. Ainda cheguei a fazer um estágio em que estive quinze dias numa rádio a escrever um programa da manhã e foi nessa altura que pensei: ‘Pronto, vou ganhar coragem para dizer aos meus pais e vou largar tudo, é isto que eu quero’. De repente, convidaram-me para ir para a TVI, também em marketing, mais uma proposta financeira maravilhosa, ainda pensei conciliar com a rádio… Não deu. Passaram mais dois anos, tive um filho e, portanto, sem querer, fui ficando no marketing a achar que a minha paixão era a rádio, mas não pagava contas. A minha paixão também eram os livros e fui parar a uma editora onde estive só seis meses, mas aí o que aconteceu é que os livros eram 2% do meu trabalho. Uma mulher de letras, de comunicação, que não se cala como já deu para reparar [risos], a trabalhar muito [Microsoft] Excel. Era tão sénior que, em vez de ser operacional e de agir, eu era chefe. E não tenho jeito nenhum para ser chefe, não gosto. Era muito análise, Excel, números, estava infelicíssima e não podia ser. Acabei por fazer uns testes de guionismo para a Casa da Criação.

Dá a sensação que fizeste um percurso muito certinho: boa aluna, emprego estável, casaste cedo… Tiveste medo de desiludir os teus pais caso seguisse o caminho da rádio? Eu tenho uma história muito gira. [Espera só um bocadinho que tenho que pôr isto [telemóvel] a carregar e no meu quarto apanho muito mal a internet, mas tenho três filhos na sala. Estou a fugir do barulho [risos]. Mas estava a dizer… Eu fui realmente certinha mas de feitio, foi a sorte dos meus pais. Já eu tenho três filhos malandros. Quando comecei a sentir que queria arriscar, mas seria duro dizer aos meus pais… Estava com um bocado de medo, sim. Já casada e mulher feita, mas sofria com isso. Não é o peso dos pais mas é, no fundo, tudo aquilo que me incutiram toda a vida e acaba por fazer parte de nós, de quem somos. O meu pai foi engenheiro civil toda a vida, muito certinho também, mas sempre adorou tocar saxofone. Antes de se reformar comprou um saxofone, quando se reformou meteu-se em aulas – onde já está há 10 anos – e agora o meu irmão também é músico e nós brincamos com ele a dizer que sai ao pai, mas que o pai só se revelou aos 60. Quando eu fui a casa dos meus pais dizer que decidi largar o marketing para ir escrever novelas foi um desgosto enorme. Cheguei e disse: ‘Pai e mãe, ganho um super ordenado, mas vou passar a ganhar uma miséria porque vou escrever telenovelas para a TVI. Não venho pedir opinião, venho informar-vos’. Foi um choque, a minha mãe estava sempre muito orgulhosa por ter uma filha na editora Bertrand, era diretora de marketing e, de repente, ia escrever novelas a recibos verdes e a ganhar literalmente um quarto do que ganhava. Mas eu, como ganhava bem, tinha poupanças, mas acabou o ir à Zara, as babysitters para ir jantar fora com o marido… Foi um sacrifício pessoal, mas o meu marido apoiou-me e os meus pais ficaram tristes, claro, com medo. Mas eu disse ao meu pai: ‘Eu não quero comprar o meu saxofone aos 60. Quero mais cedo’. Daí a história que contei do meu pai ser tão importante. Fui escrever novelas durante dois anos, estava felicíssima. Se tens um sonho tens de caminhar para ele e, antes, eu estava na estrada ao lado. Entretanto, eis que surge o casting para a RFM. Várias amigas disseram-me que tinha que concorrer e fui a feliz vencedora. Mais uma vez tinha a rádio à minha porta, era a última chamada e fui.

Foste guionista da série juvenil ‘Morangos com Açúcar’, um enorme sucesso à época. Houve alguma coisa que tenhas escrito que ficou na memória, tipo o mítico Bar do Fred ou alguma coisa do género? [Risos]. Escrevi a quinta e sexta temporadas. Eu era a mais conservadora da equipa e aquilo tinha cenas de adultos protagonizadas por adolescentes. E eu, conservadora, dizia: ‘Mas ela só tem 15 anos!’ [risos]. Marquei a equipa no sentido em que consegui manter algum conservadorismo, também porque as minhas colegas eram um bocadinho mais novas do que eu e diziam: ‘Mariana, hoje em dia os adolescentes são assim’. E eu respondia: ‘Mas também há pudor e raparigas mais tímidas’ [risos]. Era polémico e eu sofria um bocadinho com isso mas, claro, aceitei muitas coisas. Eu nessa altura tinha 25 anos, já não era adolescente. Depois dos ’Morangos com Açúcar’ escrevi a novela ’Meu Amor‘ e foi muito giro porque foi a primeira novela a ganhar um Emmy. Adorei, porque eu tenho a mania que sou engraçadinha e, nessa novela, tudo o que era personagens cómicas, era eu que escrevia e dava-me um gozo enorme. Tenho imensas saudades. Quando larguei o guionismo para fazer rádio a tempo inteiro foi uma decisão que me custou.

Gostavas de voltar a trabalhar nessa área?

Também escrevi livros juvenis. Escrevi dois livros que se chamavam ‘Os fininhos’, entretanto tive o segundo filho e, anos mais tarde, escrevi o terceiro volume e reescrevi o primeiro e o segundo porque foi há tanto tempo que nem havia redes sociais. No primeiro livro as miúdas de 15 anos trocavam e-mails e não tinham Wi-Fi no verão, é assustador a velocidade com que as mudanças ocorrem. Então acabei de reescrever e lancei a coleção ‘Estou tramada’, que são os três livros juntos. Consegui continuar um bocadinho dessa forma e ainda escrevo guiões.

Com três filhos [Vasco, Diogo e Matias, 14, 9 e 4 anos, respetivamente], o modo como as crianças têm hoje acesso à internet e ao mundo digital assusta-te? O mais velho já tem o telemóvel dele. Desde os 9 anos que me pedia, mas eu só dei para aí aos 12, quando foi para o 7o ano, até porque aí precisava. A mim o que me assusta é o excesso de informação que eles têm, não têm maturidade para saberem certas coisas que já sabem. No nosso tempo, os nossos pais achavam que nós não sabíamos certas coisas que entretanto aprendemos com os nossos amigos e isso continua a ser assim – e às vezes até há certas coisas que prefiro que sejam os amigos a explicar do que eu [risos]. Mas assusta-me o acesso a tanta informação. Obviamente que o meu filho irá ter segredos. Para já, eu sei o que ele vê online, mas quando está com os amigos claro que eu não controlo. Mas acho que estou a passar bem o aviso com o cuidado a ter com os conteúdos que partilham e vamos sempre controlando. À noite, quando vai dormir, o telemóvel dele fica comigo, senão passa a noite agarrado àquilo. Houve uma situação em que apanhei assim um choque, eu também sou um bocado mãe galinha e se calhar exagerei, mas eu não queria que ele visse a série Stranger Things, achava que não tinha idade para ver. Um dia disse-me: ‘Mãe, mãe, já estou a ver a segunda temporada do Stranger Things’. E eu: ‘Como assim? Eu nem sequer te vi a ver isso na televisão’. E ele responde-me: ‘Ah, está aqui no meu telemóvel’. Disse-lhe: ‘Tu no ano passado pediste-me e eu disse-te que não!’. E ele: ‘Sim, mas este ano o meu amigo enviou-me’. Não queria acreditar.

Como se gere o confinamento com três filhos, sobretudo agora com o regresso das aulas em casa? No ano passado [primeiro confinamento] foi muito giro, eu sou caseira e os meus filhos também. Adorámos e adoro que estejam todos em cima de mim, correu muito bem. O de 9 anos é muito responsável com a escola, o mais velho é malandrão e de vez em quando apanhava-o com o Minecraft [jogo de computador] em cima da cara da professora [risos]. Mas correu muito bem, a incógnita à volta de tudo era chata, mas como achávamos que iria passar rápido foi muito giro. Agora está mais difícil, continuamos a ser muito caseiros e a adorar estar todos em cima uns dos outros, mas os miúdos andam mais às turras, estão mais cansados desta situação. Está mais difícil e estão a embirrar uns com os outros sem razão, eu vou tentando explicar que isto não está fácil para ninguém e que temos de tentar com que haja harmonia para que corra melhor. Eu própria, que tenho o pavio curto, às vezes estou refilona. Estamos todos cansados. Em termos de telescola não há outro remédio, tem que correr bem [risos].

No último ano, partilhaste nas redes uma fotografia em que celebravas 17 anos de casada. O confinamento foi mais uma prova de fogo inesperada? Passámos no teste, como digo a brincar. 17 anos de relação também ajuda a tornar muita coisa sólida. Somos uma equipa. Por exemplo, no ano passado ficámos em casa, mas este ano, por enquanto, estamos na rádio. Infelizmente o negócio do meu marido depende de turistas, é na área da restauração, portanto não está a correr bem. A vantagem – que não é vantagem nenhuma -, é que eu posso ir à rádio enquanto o meu marido acompanha os miúdos na escola online. Mas eu também chego sempre para ajudar. Agora estou aqui a falar contigo e o meu marido está na sala com eles para controlar as birras [risos]. Somos uma equipa, mas não nos podemos esquecer de namorar dentro de uma rotina que isto está a criar. São muitos anos de relação e, graças a Deus, passámos no teste e continuamos a apoiarmo-nos um no outro.

Tanto em casa como no trabalho, estás rodeada de homens… Só tens irmãos? Tenho dois irmãos, um deles é gémeo. Portanto, até na barriga da minha mãe eu estava com um homem ao meu lado [risos].

Como se gere tantos homens nestas ‘equipas’ todas? É giro. Quando fui guionista trabalhei quase só com mulheres e também correu muito bem. Não posso dizer que prefiro trabalhar com mulheres ou com homens. Tem que ver com feitios. Eu acho que sou um bocadinho ‘maria-rapaz’, no sentido em que sou pragmática e tento não ser complicada. Se calhar por ter dois irmãos… e então agora com três filhos rapazes. Eu gosto imenso e claro que, às vezes, com a minha equipa na rádio e mesmo cá em casa penso que já não aguento mais tanta energia masculina [risos]. Mas é muito giro e eles têm uma boa energia. Se tivesse uma filha enchia-a de laçarotes e era super pirosa, mas não sei se teria feitio para isso [risos].

No trabalho, por vezes, sentes que tens que te impor? Sim, eles fora do ar às vezes têm conversas que eu tenho que travar, mas eles dizem que já sou um rapaz para eles [risos].

Aí entra a Mariana conservadora guionista dos ‘Morangos com Açúcar‘? [Risos] Às vezes há assuntos que eu não quero saber. Mas é tranquilo e eles respeitam. Mas quatro malandros juntos, às vezes, fazem bullying para cima de mim e estou tramada [risos].

Também por isso podes ter sentido a necessidade de criar o ‘Entre Amigas’, um blogue dedicado ao universo feminino? Olha, boa pergunta, se calhar foi inconscientemente. Comecei por querer partilhar livros e eu leio imensos romances. Eu gosto muito de ler, não sou nenhuma intelectual mas leio muito. Quando eu leio um livro muito bom recomendo ao meu pai, mas depois há muitos livros que leio que nem ao meu pai nem aos meus amigos homens recomendo porque são romances, não de má qualidade, mas não deixa de ser literatura feminina. Há um preconceito com este termo, mas há boa literatura feminina. Recomendo às minhas amigas, que lêem mais do que os meus amigos. Acabou por ser mais esse o objetivo e escrevo também alguns contos e diálogos entre amigas.

Li que gostarias de publicar um romance. É um objetivo a curto prazo? Há anos que falo nisso e, de facto, era um bocadinho utópico, mas finalmente tenho muita coisa escrita já. Estou longe de acabá-lo, vai demorar, sobretudo com três filhos fechados em casa, é difícil. Mas já tenho as minhas personagens e ideias e estou a construir. Já não será para adolescentes, é mesmo para nós mulheres.

Os teus filhos mais velhos já leram os teus livros juvenis? Gostam de ler? É difícil hoje em dia incentivar o gosto pela leitura aos mais jovens… É verdade. Azar o deles, eu obrigo-os [risos]. Obviamente que não quero que seja um castigo, mas com o mais velho descobri finalmente livros de que gosta. Por ele não lê, mas nós implementamos a pausa de ecrãs e se quer voltar a ter os ecrãs tem de ler primeiro. O de 9 anos foi um desafio maior, mas houve um de que gostou e eu fui a correr à livraria ver livros do mesmo género.

Quando (re)escreveste a ‘Estou Tramada‘ reviveste memórias da tua adolescência? Não é autobiográfico, de todo, mas eu era como a protagonista [Margarida], que é magra demais e tem complexos por causa disso. Eu era magra demais e tinha complexos por causa disso, aí sim, vem da minha realidade. Mas a Catarina é a boazona que quer roubar o namorado à Margarida e nada disso me aconteceu [risos].

O que recordas da tua infância? Sou daquelas pessoas que não poderá ir àqueles programas de desgraças, chorar baba e ranho porque, graças a Deus, tive uma infância equilibrada. Os meus pais estão juntos, têm uma ótima relação, tenho dois irmãos praticamente da mesma idade – um gémeo e o outro dois anos mais velho -, chegámos a ter uma casa em Azeitão onde íamos passar todos os fins de semana e verões e as minhas amigas da adolescência ainda o são hoje. Não tem muita graça [risos].

Com o contexto pandémico, começaste a fazer alguma coisa que não fazias antes? Comer! Beber! [risos]. Mas é verdade. Eu engordei para aí quatro quilos no confinamento passado e já tinha começado a perder, mas já os recuperei outra vez [risos]. Estar em casa dá fome e eu sou gulosa. Este fim de semana fiz bolachas no sábado e bolo no domingo [risos]. Gosto de vinho ao jantar, mas bebia de vez em quando. No confinamento passou a ser quase todos os dias, até ao almoço. Mas agora já parei, porque não quero engordar mais.

Que livro estás a ler neste momento? Li como nunca este ano, cheguei a ler dois livros por semana. Comecei ontem a ler o último livro de sete de uma coleção que devia ter lido há anos e quem não o fez tem de fazê-lo… O Harry Potter. Giríssimo, é giríssimo. A autora tem todo o mérito e o seu sucesso não foi nada exagerado. Não é o meu género de literatura, mas que giro que é o Harry Potter. De resto, tento pôr as minhas recomendações no meu Instagram, deixa-me ver… Li o Untamed, de Glennon Doyle, não sei como é em português porque eu leio os originais, é mais barato. Gosto imenso da Colleen Hoover, uma autora americana, gosto imenso da Liane Moriarty, uma australiana incrível. Também aconselho Where the crawdads sing [Delia Owens]; Eleanor Oliphant is completely fine [Gail Honeyman]; The giver of stars [Jojo Moyes]; To kill a Mockingbird [Harper Lee] e, mais leve, Grown ups [Marian Keys]…

Gostavas de fazer outro horário na rádio? No início do ‘Café da Manhã‘ custou-me imenso o horário, não queria, não queria, não queria. Agora não quero outro, primeiro porque estou a divertir-me imenso, esta equipa é especial e quero continuar a trabalhar com eles, tem sido muito giro. Vale a pena sair da cama para ir trabalhar para o sítio de que se goste. E, honestamente, a nível financeiro é o melhor horário da rádio. Eu tendo três filhos e bastantes contas para pagar dá-me jeito. Isto não é uma razão muito romântica mas… [risos]. Neste momento, estou bem e gosto muito do horário. Custa-me acordar cedo, mas estou tão contente que espero não mudar tão cedo.

A curto prazo, o próximo projeto passa pela publicação do romance de que falámos? Sim, adorava. Em Portugal é frustrante escrever, porque não se ganha dinheiro com isso e as pessoas não lêem. Até os jornais estão a fazer apelos. Porque estão a dar cabo das livrarias, das editoras. O facto de não se poder vender livros nos supermercados. É escandaloso o que está a acontecer, é um mercado que não trata bem os livros. É uma das minhas queixas para Portugal, é pena. Realmente não dá para viver da escrita em Portugal. Adorava conseguir escrever mais.

Para terminar, lanço-te um dilema e… ‘Agora safa-te’. Basicamente, estás numa troca de presentes de amigas secretas; e costumas reciclar presentes que recebes em anos anteriores; não te recordavas e o presente que ofereces à tua amiga nesse ano foi te dado por outra amiga, que também está nessa troca de presentes e confronta-te com a situação… Agora safa-te…

[Risos] Ouve, gostei tanto da camisola que tu me deste que comprei igualzinha para oferecer [risos].

Foi demasiado fácil… [Risos] Isso é giro, vou colocar essa questão na rádio aos meus colegas.