Arrendamento ganha com perda de AL

A perda de negócio está levar investidores a apostarem no arrendamento de longa duração, levando preços a descer. Para quem comprar, os valores ainda estão aquém do desejado.

O ‘fim’ do alojamento local – uma consequência da pandemia que afastou turistas do mercado nacional – já está a ter efeitos no mercado do arrendamento. Os últimos dados do setor já mostram essa tendência: preço médio do arrendamento caiu 13,5% em janeiro quando comparado ao mesmo mês do ano passado. No entanto, em sentido inverso, e na comparação feita com dezembro do ano passado, este indicador regista um crescimento de 1,2%.

Questionado sobre se a crise já conhecida no alojamento local pode ditar aumento da oferta e logo redução de preços, o presidente da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP) não tem dúvidas que sim. E justifica: «Se numa primeira fase os operadores de AL estavam na esperança de uma célere recuperação do mercado, até pelos sinais mais ou menos positivos que tivemos aquando o primeiro desconfinamento e no período de verão, nesta fase já começam a sentir há demasiado tempo as consequências da crise sanitária, pelo que é expectável que se assista a um crescimento da oferta disponível de ativos que advêm deste mercado», diz Luís Lima a este jornal.

Da mesma opinião é Ricardo Sousa, CEO da Century 21 Portugal. No entanto, defende que esta aspeto não será determinante. «São mercados muito distintos e a caracterização dos imóveis – em termos de tipologias e localização – na sua maioria não se ajusta às necessidades de procura das famílias portuguesas para o arrendamento de longa duração»

No caso da ERA, seu diretor-geral lembra que o turismo em Portugal «tem uma forte influência no mercado de imóveis de alojamento local». Uma vez que neste momento ainda pouco se sabe sobre a recuperação deste setor «iremos continuar a verificar a conversão de muitos destes imóveis para arrendamento de longa ou média duração, o que irá estabilizar os preços e, possivelmente, registar um ligeiro decréscimo no valor dos imóveis», diz Rui Torgal, acrescentando que antecipa «que este seja o caminho para o mercado do arrendamento em 2021, embora tenhamos sempre o fator da incerteza agregado às nossas previsões para este ano»

Na mesma linha de pensamento está a opinião de Patrícia Barão, Head of Residential da JLL. A responsável diz que, «a procura acabou por não acompanhar o crescimento da oferta, o que pressionou os valores de renda em baixa». E este efeito já é sentido desde o confinamento anterior. 

A baixa de preços no arrendamento pode ser justificada pelas restrições ao crédito. «O arrendamento passará a ser a única alternativa disponível para muitas pessoas que não conseguirão aceder ao crédito à habitação pela via normal, mas é preciso que a oferta em arrendamento seja adequada às suas possibilidades», diz  Luís Lima.
 
Compra com tendência contrária 

Já o segmento de compra, onde era esperada uma redução grande de preços devido à pandemia, não mostrou essa tendência. Em grande parte devido às moratórias. A explicação é simples: os proprietários conseguem arrastar os pagamentos e, como tal, não são pressionados a vender o seu imóvel, logo os preços não descem tanto como era esperado.

Por isso, é natural que os responsáveis do setor afastem esta ideia de queda de preços e justificam a ligeira quebra com a tendência de ajuste do mercado. «Neste momento de maior incerteza poderá haver uma diminuição da procura e uma revisão dos preços em baixa que, no meu entender, poderá ser inferior a dois dígitos, até porque uma desvalorização superior poderia ser insuportável. Mas havendo sinais positivos e de confiança, a procura poderá retomar e os preços readequarem-se à realidade de cada momento», justifica o presidente da APEMIP.

o entanto, deixa o alerta de que a instabilidade laboral das famílias portuguesas «acaba por aumentar o risco para a concessão de crédito, levando o setor financeiro a proteger-se, o que acaba por dificultar ainda mais o acesso à habitação pelos jovens e famílias que não conseguem comprar casa sem recorrer a empréstimo».