As vidas que as vacinas vão salvar e as vidas perdidas

Além da situação epidémica, mais favorável, as vacinas e a mortalidade foram dois dos tópicos aprofundados na 15.ª reunião do Infarmed.

A 15.a reunião do Infarmed arrancou com o ponto de situação epidemiológico, agora mais favorável, com o país já com um RT de 0,78, revelou Baltazar Nunes, do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, que com base nos modelos matemáticos recomendou que o confinamento com escolas fechadas dure pelo menos 60 dias. Nesse cenário, em março, o SNS terá baixado das atuais 800 camas de cuidados intensivos ocupadas por doentes com covid-19, que obrigaram a cancelar toda a atividade cirúrgica não urgente, para 300 camas, e em abril poderão ser 200. Já a incidência poderá passar dos atuais 1132 casos por 100 mil habitantes a 14 dias para menos de 120. Nem no Natal chegou a estar tão baixo mas, agora, tanto Baltazar Nunes, do INSA, como o epidemiologista Manuel Carmo Gomes defendem que se corte mais a transmissão.

 

Salvar 3500 vidas

Além da situação epidemiológica, a vacinação foi um dos tópicos do encontro. O epidemiologista Henrique Barros apresentou a modelação que está a ser feita no Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, mas começou por contrariar a ideia de que as medidas não estivessem a ter impacto antes do fecho das escolas. Defendeu que é preciso aprofundar quer o efeito das temperaturas na dinâmica da pandemia, quer as diferenças na letalidade por região. Quanto à vacinação, a estimativa é que, com o atual plano de vacinação e uma eficácia de 90%, será possível salvar 3500 vidas até ao final de setembro. O perito defendeu, no entanto, uma aceleração para obter mais ganhos.

O novo coordenador da task force de vacinação refreou pouco depois as expetativas. As primeiras palavras do vice-almirante Gouveia e Melo foram logo para assumir um “estrangulamento” nas entregas: no primeiro trimestre, as vacinas são metade do que estava acordado. O problema não é logístico, reiterou. Ainda assim, apontou para que, no final de agosto, 70% da população esteja vacinada e deixou a garantia de que, até ao final do ano, toda a população receberá a vacina.

 

Homens com o dobro da mortalidade em UCI

Além dos resultados do barómetro feito desde o início da pandemia – que revela agora que 75% dos portugueses já querem fazer a vacina, recuperaram os cuidados que relaxaram no Natal, mas voltou o medo de procurar cuidados de saúde por causa da covid – Carla Nunes, diretora da Escola Nacional de Saúde Pública, trouxe ao encontro uma análise inédita sobre a mortalidade de doentes com covid-19 nos hospitais. Respeita apenas a 2020 e revela que no final do ano, um quinto (21%) dos doentes morreram no hospital. Entre os doentes admitidos em UCI, a letalidade era de 7%, melhor do que nas primeiras vagas. A idade é o que mais pesa: quase metade dos doentes com mais de 90 anos morrem no hospital. Ter um cancro metastático foi a doença associada a maior letalidade. A investigadora chamou a atenção para várias conclusões, entre as quais que a letalidade em UCI é o dobro nos homens.

Até ao final de janeiro, a covid-19 representou 40 958 anos de vida potencialmente perdidos no país – em média, 39 anos por 100 mil habitantes –, revelou a investigadora, isto quando se tem em conta a idade das vítimas e a esperança de vida. Inglaterra é o país europeu onde se perderam mais anos: mais do dobro. Portugal regista, no entanto, mais anos de vida perdidos do que Noruega e Alemanha, com epidemias mais controladas.