Médico que administrou 10 doses sobrantes de vacinas contra a covid foi despedido e acusado de roubo

“Administrem a vacina nas pessoas. Não queremos desperdiçar nenhuma dose. Ponto”, foi destas palavras, ditas numa formação sobre a administração da vacina da Moderna, que um médico, dos EUA, se lembrou quando se deparou com dez doses sobrantes da vacina contra a covid-19.

Médico que administrou 10 doses sobrantes de vacinas contra a covid foi despedido e acusado de roubo

Um médico de Houston, no Texas, Estados Unidos da América, foi despedido e acusado de roubo após ter administrado dez doses sobrantes da vacina contra a covid-19 a pessoas que, apesar de terem os critérios para a receberem, não constavam na lista do plano de vacinação que o médico estava a supervisionar. 

No dia 29 de dezembro, Hasan Gokal ficou responsável por supervisionar a vacinação contra a covid-19 que decorreu num parque de estacionamento, nos arredores de Houston, e estava direccionada a profissionais de saúde. No entanto, segundo conta o The New York Times, a adesão foi baixa e foram administradas apenas 250 doses. Perto do final do serviço, uma pessoa apareceu e foi vacinada, tendo sido necessário abrir um frasco. Depois da abertura de cada frasco, as doses sobrantes têm de ser administradas num período de seis horas ou perdem a validade. Dos profissionais de saúde e polícias presentes no local, uns não quiseram ser vacinados e outros já tinham sido.

"Administrem a vacina nas pessoas. Não queremos desperdiçar nenhuma dose. Ponto", foi destas palavras, ditas numa formação sobre a administração da vacina da Moderna, que o médico se lembrou. Então decidiu seguir todas as indições: primeiro os profissionais de saúde e residentes em casas de saúde e depois quem tivesse mais de 35 anos e uma doença de risco associada à covid-19. Assim, entrou em contacto com o responsável do Departamento de Saúde Pública do condado de Harris, no Texas, de quem obteve um parecer positivo para colocar o "plano" em ação.

Decidiu vacinar várias pessoas: uma mulher com cerca de 60 anos e uma doença cardíaca; uma mulher com mais 70 anos e vários problemas de saúde; na mesma casa, um homem de 60 anos também com problemas de saúde, a sua mãe com cerca de 90 anos, a sogra com mais de 80 anos e a mulher, cuidadora da mãe; numa outra casa vacinou uma mulher com mais de 70 anos; por fim, vacinou uma mulher de 50 anos, rececionista numa clínica de saúde e uma mulher de 40 anos, com um filho que esteve a vida toda ligado a um ventilador.

Hasan Gokal tinha ainda combinado vacinar uma pessoa considerada "prioritária", mas esta cancelou. Ora, desde a abertura do frasco – por volta das 18h45 – até ao fim de todas as voltas do médico, já tinham passado quase as 6h de validade. Assim, decidiu vacinar a sua mulher de 47 anos, que sofre de uma doença inflamatória que causa insuficiência cardíaca.

O médico considerava que tinha feito tudo bem: submeteu a informação de todas as pessoas vacinadas e justificou o porquê de as vacinar aos seus colegas e superiores. Mas o seu mundo acabou por "ruir" após ter sido despedido e acusado de roubar as dez doses da vacina. "O meu mundo ruiu. (…) Deus, foi o pior momento da minha vida", disse ao The New York Times.

"É difícil compreender qualquer justificação para acusar qualquer médico bem-intencionado nesta situação com uma ofensa criminal", justificou o juiz responsável pelo caso, Franklin Bynum. No entanto, a procuradora distrital prometeu levar o caso a um grande júri. Considerado pelos promotores da acusação como um "oportunista", Hasan Gokal é considerado por outros como um "herói".