Israel. Regressar à normalidade após a vacinação em massa

Israel reabriu, com quase metade da população inoculada. Mas deixou de fora os palestinianos, pelos quais é responsável à luz da lei internacional.

Israel caminha a passos largos rumo à normalidade, com quase metade da população vacinada contra a covid-19, permitindo reabrir as lojas, este domingo. Ginásios, cinemas, hotéis e e sinagogas também abriram, mas apenas para aqueles que foram inoculados com a segunda dose há mais de uma semana, ou que já foram infetados pelo vírus, através da app Green Pass, criada pelo ministério da Saúde, que acede automaticamente aos registos médicos. O mundo observa atentamente os benefícios do ambicioso programa de vacinação israelita – ao mesmo tempo que a vacinação de palestinianos – responsabilidade de Israel enquanto força de ocupação, segundo a ONU – é deixada para trás. 

A ampla cobertura da vacinação de Israel – numa altura em que se estima que apenas 5% dos europeus tenham sido inoculados – foi possível graças a um acordo com a Pfizer, prometendo enormes quantidades de dados médicos a troco de fornecimento continuado de vacina, tornando o país numa espécie de estudo a larga escala.

Até agora, os resultados são muito encorajadores. O risco de adoecer com covid-19, após a tomar a segunda dose da vacina da Pfizer, desce 95.8%, segundo dados de Israel, divulgados este domingo. Verificou-se ainda uma diminuição de 98% nos problemas respiratórios, bem como de 98,9% nas hospitalizações e mortes.

Agora, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, até promete que 95% da população acima dos 50 anos será inoculada dentro das próximas duas semanas. No entanto, isso não implica que todas as restrições sejam todas levantadas. O uso de máscara e o distanciamento social continuam a ser obrigatórios, e os espaços religiosos a funcionar a meia capacidade. 

Entretanto, os alunos dos últimos dois anos do secundário, bem como do básico, puderam voltar às aulas este domingo, em localidade com os contágios sob controlo. Já os restantes alunos continuam em ensino à distância, levando muitos a questionar as prioridades do Governo israelita.

Alguns até protestaram em centros comerciais. “Eu não vou à escola há um ano”, disse um dos manifestantes, Rotem Bachar, de 14 anos, citado pela Reuters. “Como é que faz sentido abrir os centros comerciais para multidões, enquanto nós não podemos ir às aulas, mesmo com limite máximo de 15 ou 20 alunos e outras precauções?”. 

Já em território palestiniano, está-se longe de chegar a esse ponto. Aliás, ainda a semana passada o primeiro carregamento de cinco mil doses de Sputnik V, a vacina russa, dirigido aos médicos intensivistas da Faixa de Gaza, foi impedido de passar num posto fronteiriço israelita, avançou o Guardian.

Após muita pressão internacional, Israel acedeu em enviar 10 mil doses da vacina da Moderna para Gaza, que mantém sob cerco. Mas os palestinianos terão de contar sobretudo com a Covax, uma iniciativa da OMS e da Fundação Bill Gates, para levar a vacina a países pobres – enquanto o país que ocupa o seu território faz manchetes como pioneiro da vacinação.

“A prevenção da covid-19 é crucial em todos os países, mas especialmente no território palestiniano ocupado, incluindo a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, devido à capacidade limitada de lidar com uma onda de casos”, avisava um artigo na Lancet. “Israel é cúmplice na crescente vulnerabilidade da população palestiniana à covid-19. Israel não só tem responsabilidade legal de assegurar a disponibilidade de vacinas, mas também moral”.