Coordenador admite adiamento da toma da segunda dose da vacina contra a covid-19

Alteração permitiria chegar de forma mais mais rápida a uma maior percentagem da população.

O vice-almirante Henrique Gouveia e Melo, coordenador da task force para o plano de vacinação contra a covid-19 em Portugal, admitiu, esta quarta-feira, adiar a toma da segunda dose da vacina, de forma a chegar a mais 200 mil idosos até ao final de março.

Gouveia e Melo, que foi ouvido numa Comissão de Saúde na Assembleia da República, a pedido do PSD, começou por realçar que há um “constrangimento difícil” no plano de vacinação devido ao facto de a vacina da AstraZeneca não poder ser administrada aos idosos, o que levou a uma concentração das outras vacinas (Pfizer e Moderna) nessas faixas etárias e deixando em dúvida o cumprimento dos objetivos inicialmente delineados. Assim, alargando o período entre a administração das duas doses, poderá ser possível chegar a mais 200 mil idosos a partir dos 80 anos até ao fim de março.

"Está a ser estudado, a meu pedido, pela Direção-Geral da Saúde e pelo Infarmed, se podemos alargar este período por duas semanas, de forma a conseguirmos antecipar a vacinação a cerca de 200 mil pessoas. É muito importante pelos 70% da proteção que pode dar. Reforçar a vacinação uma ou duas semanas mais tarde praticamente não vai fazer grande variação no processo de defesa da pessoa que já foi vacinada com a primeira dose", admitiu o vice-almirante Henrique Gouveia e Melo.

O coordenador adiantou ainda que já pediu aos centros de saúde e aos poderes políticos locais que convoquem mais idosos para a vacinação, de forma a colmatar o problema da iliteracia digital, uma vez que os utentes são alertados para a vacinação, inicialmente, por SMS.

Na mesma audição, Gouveia e Melo notou que, neste momento, Portugal tem capacidade para administrar até 70 mil vacinas por dia em esforço. Contudo, admite que essa capacidade tem de ser estendida a 100 mil vacinas por dia num prazo relativamente curto. Este objetivo pode ser cumprido a partir de abril, desde que sejam cumpridos os prazos de entrega, e através de postos de vacinação rápida, que já estão a ser preparados.

O coordenador reiterou que, mais do que olhar para fases, a prioridade é salvar vidas, ganhar resiliência na resposta do Estado e libertar a economia e a sociedade.

Uma possibilidade para aumentar a rapidez da vacinação é desviar enfermeiros dos centros de saúde para centros de vacinação rápida. Gouveia e Melo defende que ou se mantêm “os centros de saúde a funcionar como estão”, e vão-se “encontrar outros enfermeiros para fazer processos de vacinação rápida” ou são desviados “parte desses enfermeiros nos centros de saúde" para os "centros de vacinação rápida, onde a capacidade de vacinação é maior”.

 “Quanto mais tempo se demora a alargar o prazo, menos antecipamos a vacinação de pessoas em maior risco”, destacou.

Questionado sobre os atrasos na entrega de vacinas pela farmacêutica AstraZeneca, Gouveia e Melo admitiu que poderá ser necessário fazer ajustes ao plano atual. 

“Devemos estar abertos a fazer um novo plano”, disse, reforçando que não será necessário, contudo, um plano totalmente novo.