Dona Rosa, sua filha ainda não chegou

Os consulados são invadidos por centenas de chamadas e emails aos quais não conseguem dar a resposta que é solicitada. Uma total descoordenação do Ministério dos Negócios Estrangeiros e do Ministério da Administração Interna decidiu fechar administrativamente os voos.

Portugal suspendeu os voos de e para o Brasil às zero horas do dia 29 de janeiro. E, assim, Portugal abandonou os portugueses que queriam regressar – que nem sequer tiveram tempo para fazer o teste à covid obrigatório para embarcar, porque a medida foi anunciada com 24h de antecedência. Mas, até aqui, tudo tranquilo, porque o Governo excecionou os chamados voos humanitários, ou melhor, voos de repatriamento de portugueses e residentes em Portugal. Só que nunca aconteceram, tendo o abandono sido total.

Os consulados são invadidos por centenas de chamadas e emails aos quais não conseguem dar a resposta que é solicitada. Uma total descoordenação do Ministério dos Negócios Estrangeiros e do Ministério da Administração Interna decidiu fechar administrativamente os voos.

Poder-se-ia dizer que a medida foi tomada por questões de saúde pública, mas o inacreditável é que existem formas de voar do Brasil para Portugal e sem nenhum controlo por parte das nossas autoridades de saúde. Tranquilamente, via Paris ou Suíça chega-se a Portugal. Só que como os passageiros vêm de Paris ou da Suíça não são obrigados a fazer quarentena. E aí as variantes podem alegremente entrar no país.

É inglório ver o esforço permanente da DGS e do primeiro-ministro na luta contra a pandemia e assistir a uma total desorganização do MNE e do MAI, que, por falta de mundo ou por impreparação, em nada contribuem para o combate à pandemia. Se em dezembro os passageiros vindos do Reino Unido fossem obrigados a viajar, embarcando apenas com teste negativo, o impacto da variante inglesa teria sido outro e, provavelmente, muitos cuidados de saúde e algumas vidas ter-se-iam poupado.

Não se compreende, com a eficácia comprovada dos testes rápidos, que no controlo das fronteiras terrestres, todos os que entrem não sejam sujeitos a um. Diria mesmo, pelo menos nesta fase de maior confinamento, até nas chegadas de todos os voos oriundos de países terceiros. 

Não se compreende porque, à semelhança de outros países, não garantimos voos de repatriamento com obrigatoriedade de teste PCR negativo antes do embarque, com 71h, quarentena obrigatória à chegada e novo teste após seis dias. Não se compreende porque, à semelhança de outros países europeus, nesses mesmos voos de repatriamento regulares, possam vir passageiros em trânsito para voos intercontinentais do hub de Lisboa.

Não se compreende porque os mais endinheirados possam comprar uma nova passagem e entrar em Portugal sem qualquer controlo. Aliás, via Paris entram viajantes vindos dos quatro cantos do mundo. Vêm das Américas, África e Ásia.
Mas Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros e Senhor Ministro da Administração Interna: Não abandonem os Portugueses que tiveram de ir trabalhar para outros países, como o Brasil. Em 18 dias ninguém lhes deu respostas (artigo escrito a 16 de fevereiro). Deem a cara, assumam e digam-lhes olhos nos olhos, com o que podem contar para regressar a casa. Afinal, não é para isso que nós, portugueses, vos pagamos o ordenado?