Provas de vida

O importante na estratégia governamental é prometer apoios. Isto é que dá votos e sondagens positivas – isto e… a inexistência de oposição…

1. Ascenso Simões, conhecido militante do PS, estava há algum tempo no anonimato e decidiu fazer ‘prova de vida’. Entre outras frases ‘brilhantes’ como o de lamentar «não ter havido sangue no 25 de Abril», recomendou «o derrube do Padrão dos Descobrimentos». Podia ter acrescentado os Jerónimos, mas esta sugestão deve vir a seguir quando estiver novamente no esquecimento a que o PS o terá de remeter.

Frases destas têm o condão de acicatar ânimos bem como o sério risco de encostar tolerantes de esquerda à direita (muito do eleitorado do PS está neste ‘centrão’ que define as eleições) e quiçá empurrar uns quantos de direita para a extrema-direita. Claro que há uns ‘iluminados’ da esquerda revolucionária que louvam estas tiradas como ‘bandeiras de luta’, sempre prontos a radicalizar ideias e a criar temas fraturantes.

Se formos à procura das razões para tanto dislate é impossível não dissociar dos últimos anos da ‘geringonça’, liderada por um PS carente de governar e que procurou, nestas alianças que a democracia permite, o suporte necessário para o fazer. O apoio governamental implica contrapartidas e a esquerda radical aproveita o enfraquecimento negocial deste PS para introduzir discussões fraturantes e conseguir pequenas vitórias que o tradicional PS nunca permitiria.

2. Sobre os apoios da esquerda ao Governo é curioso ver o que se passa noutras matérias, como as económicas, particularmente relevantes para o equilíbrio orçamental que João Leão tanto reclama, ‘encostado às cordas’ pela dívida pública de cerca de 134% e pelas agências de rating que olham desconfiadas para Portugal.

No segredo dos gabinetes, estas agências, sabendo que é insustentável que o BCE continue a suportar a emissão de dívida portuguesa por muito mais tempo, obrigam João Leão a cortes na despesa pública como se viu na execução real de 2020 em que fomos surpreendidos por ter ficado abaixo quer do OE aprovado inicialmente quer do Suplementar. Pouco lhe interessa os compromissos negociais assumidos pelo PS com a esquerda na discussão e aprovação do OE porque tendo ‘a faca e o queijo na mão’, faz também a sua ‘prova de vida’ ao ferreamente controlar a despesa. Surpreendente neste caso é a cumplicidade desta esquerda que sustenta o Governo e nunca tal permitiria se fossem outros a governar.

Similarmente, o importante na estratégia governamental é prometer apoios. Isto é que dá votos e sondagens positivas – isto e… a inexistência de oposição. Alguém se lembra de ir verificar o que se passa depois dos anúncios com pompa e circunstância? Por exemplo, se os apoios chegam nos prazos prometidos? Lembram-se dos computadores prometidos por Brandão Rodrigues, algures nos primórdios da pandemia em 2020? Quantos foram de facto adquiridos em 2020 e quantos apenas em 2021 se encomendaram? Daria um excelente trabalho de jornalismo estas análises entre o prometido e o real quando se constata que na execução orçamental os apoios à pandemia ficaram aquém do aprovado.

3.O PSD continua a ser tema incontornável na política portuguesa. Rio está convencido que o poder lhe cairá na mão por exaustão do Governo e que os portugueses não se esquecerão como foi construtivo nas críticas que fez durante a pandemia. De vez em quando faz ‘prova de vida’ em discursos bem construídos e assim vai vivendo, isolado do país e das sondagens.

Há muitos anos, num seminário sobre ‘Liderança’, fiz um exercício muito interessante que me deixou estupefacto – a ‘Janela de Johari’. O objetivo era confrontar a perceção que temos de nós próprios com a forma como os outros nos vêm. Comigo, o resultado foi tão diferente que me serviu de lição. Recomendo a Rio fazer este exercício e se nem mesmo assim concluir sobre os seus resultados, o problema é muito grave, sobretudo para ele.

P.S. 1 – Notícias publicadas sobre a Câmara Municipal de Penamacor dão conta que a dívida da água ao município triplicou nos últimos anos e que haverá investigações sobre dívidas estranhamente prescritas, sem os respetivos processos executórios de cobrança. Não sei se será caso isolado ou haverá outros, mas, como cidadãos, exigimos resultados públicos e não secretismo estratégico. Já agora: seria possível pedir aos partidos para ‘cortarem a direito’ e não ficarem ‘cegos’ em função da cor dos seus autarcas?

P.S. 2 – No Andebol, ficou bem demonstrado que existem valores e a solidariedade não é palavra vã. A infelicidade de um enfarte atingiu Quintana (FC Porto) e fico orgulhoso de saber que nesta modalidade à qual estive ligado mais de 25 anos, pelo menos Benfica e Sporting souberam dar o exemplo que a vida está à frente dos clubes ao ostentarem na última jornada o nome de Quintana nas suas camisolas.

P.S. 3 – Um avião com 500kg de droga foi e é notícia no Brasil e em Portugal. Saber que viria para Tires é preocupante, sobretudo quando ouvimos responsáveis confessar que a fiscalização neste aeroporto é escassa por falta de meios. Há quantos anos se ouve referir isso, sobretudo desde reportagens sobre alegadas malas de dinheiro a entrar por Tires? Subsiste a questão: porque não se reforça a segurança nacional (e europeia)?