Venda de carteiras de malparado em Portugal caiu 87,5% em 2020

Conclusão é do novo estudo da Prime Yield, que identifica que a transação de carteiras de crédito malparado em Portugal terá ficado em torno dos 1.000 milhões de euros em 2020. Por outro lado, nos primeiros meses de 2021 já foram concretizados negócios no valor de 700 milhões.

A transação de carteiras de crédito malparado (Non-Performing Loans ou NPL na sigla inglesa) em Portugal terá ficado em torno dos 1.000 milhões de euros em 2020, segundo a consultora Prime Yield. O estudo intitulado “Keep an Eye on the NPL&REO Markets” conclui que “tal atividade apresenta uma queda assinalável de 87,5% face ao volume de cerca de 8.000 milhões transacionados em 2019, num impacto direto da pandemia, que congelou as operações e que redirecionou a o foco do sistema financeiro para o apoio extraordinário à economia”.

O interesse dos investidores neste tipo de ativos mantém-se, contudo, em alta, antecipando-se um ano de intensificação na venda de portefólios de malparado em Portugal. De tal forma que, nos primeiros meses de 2021, foram já concretizados negócios de carteiras de malparado no valor de 700 milhões, identificando-se “um pipeline de outros 1.200 milhões entre carteiras que já estão a ser negociadas ou que estão em oferta no mercado”, de acordo com a consultora.

Francisco Virgolino, Head and Partner of NPL&REO Portugal da Prime Yield, explica que “o surgimento da pandemia veio atrasar ou até obrigar à reestruturação de vários processos de venda de malparado em 2020. Apesar de já se esperar um abrandamento no ano passado mesmo num cenário pré-Covid, seria expetavelmente da ordem dos -25% para cerca de 6.000 milhões, e o ano acabou por ser bastante fustigado neste setor, com pouco menos de 1.000 milhões transacionados O mercado esteve praticamente parado até setembro, quando se notou uma dinâmica renovada e vários negócios acabaram por ser fechados na reta final do ano”.

“Contudo, 2021 deverá ser um ano de dinâmica renovada. Por um lado, os negócios que já vinham de 2020 decorrem a bom ritmo, com perto de 2.000 milhões de portefólios no mercado entre operações já concretizadas e outras identificadas ou em negociação. Por outro lado, a par do interesse dos investidores por este segmento, a oferta de portfeólios de malparado deverá crescer bastante ainda este ano. Com o final das moratórias em setembro, é de esperar um aumento no incumprimento e, mantendo-se a pressão da Banca para a desalavancagem, poderão surgir novas operações muito interessantes em oferta no mercado”, comenta ainda Francisco Virgolino.

“De acordo com uma projeção da Prime Yield realizada para este estudo, se 15% do montante sujeito a moratória vier a tornar-se em malparado, tal significaria a entrada de mais 6.900 milhões em NPL no stock nacional. Para termo de comparação, tal montante corresponde a mais de metade do atual stock de malparado. Contudo, esse impacto só será visível na reta final do ano e especialmente em 2022”, nota Francisco Virgolino.

No final setembro de 2020, existiam cerca de 46.000 milhões em créditos alvo de moratória em Portugal, um valor que corresponde a cerca de 19% do total do crédito concedido pelo sistema financeiro. No mesmo período, o stock de crédito malparado no país ascendia a 13.400 milhões, o que reflete um rácio de 5,5% face ao total do crédito.

Banca reduz malparado em 32%. O estudo da Prime Yield evidencia ainda que, apesar do surgimento da pandemia, a banca portuguesa continuou a dar passos positivos na redução do NPL em 2020. Entre o terceiro trimestre de 2019 e o terceiro trimestre de 2020, o stock de NPL em Portugal reduziu 32% de 19.600 milhões para 13.400 milhões. O maior volume de NPL em Portugal continua a estar concentrado nas empresas, num total de 8.700 milhões em malparado no 3terceiro trimestre de 2020, dos quais 70% dizem respeito às pequenas e médias empresas. De notar ainda que 3.800 milhões do crédito malparado nas empresas é colaterizado por imóveis comerciais. No segmento das famílias, o NPL totaliza 3.700 milhões, dos quais 2.100 milhões dizem respeito ao crédito à habitação, com garantia do imóvel.

Em termos do rácio de NPL – o peso do crédito malparado face ao crédito total –, os 5,5% observados no terceiro trimestre de 2020 apresentam também uma forte redução face aos 8,3% registados um ano antes. Não obstante, continua a tratar-se de um dos rácios mais elevados no contexto Europeu, onde a média é de 2,8%. O rácio português é apenas superado pelo registado na Grécia, Chipre e Bulgária.

Além disso, Portugal apresentava um dos maiores volumes de crédito sujeito a moratória na Europa no terceiro trimestre de 2020. Em termos absolutos, apenas a Itália, França e Espanha superam os 46.000 milhões sob moratória registados em Portugal. Em termos relativos, os 19% que tal montante pesa no total do crédito em Portugal apenas são superados pela quota de 22% registada na Hungria e de 24% no Chipre. Na média Europeia, as moratórias, num total agregado de 586.900 milhões, correspondem a 3% do crédito total.