Capatazes brancos e escravos negros

Quem nunca foi escravo foi o herói português tenente-coronel Marcelino da Mata. Seja lá o que tenha tido que fazer. 

Atente-se na genética e na geografia de origem da ‘mixórdia’ surgida nos EUA e Canadá, e exportada para a Europa – de onde, via França, a importaram os órfãos caseiros das grandes narrativas totalitárias (do Ocidente).

Receita nova do prato velho da tirania, logo validada pelos partidos ditos de esquerda e de centro, propagandeada nas TVs pelas Catarinas, Mortáguas e Louçãs, e promovida pelo Governo que nos desgoverna. Tudo a fazer de nós, como nunca o tínhamos sido tanto, ‘os cafres da Europa’, como escreveu o padre António Vieira.

Repare-se de onde veio esta nova/velha iluminação demiúrgica ‘libertadora’, de que brotará finalmente – insistem – o ‘homem novo’. 

Não vem da Guiné, do Senegal, de Moçambique ou de Lisboa – vem dos países ocidentais. São todos brancos ou ‘brancisados’ (voilà!) nas universidades e centros de estudos sociais do Ocidente (também temos cá ‘lixo’ desse, bem pago por nós todos). 

Meia dúzia de exemplos instrutivos do linguajar ‘descolonial’:

‘Branchité’: forma de dominação branca nas sociedades… ocidentais. 

‘Racismo sistémico’: discriminação infligida por instituições do Estado às minorias não brancas. Opõe-se à definição universalista do antirracismo, que considera o óbvio: que o racismo surge no seio de todas as sociedades. Para eles, só há racismo branco.

‘Racialidade’/‘racializados’: termo forjado pela socióloga francesa Colette Guilaumin, para quem o racismo não é reflexo de ódio interpessoal mas consequência da dominação dos brancos no Ocidente

.‘Interseccionalidade’: palavra usada pela afro-feminista académica ‘brancisada’… norte-americana Kimberlé Williams Crenshaw. Aborda o conjunto de parâmetros numa situação de dominação, como raça, género e classe social.

‘Privilégio branco’: produto da académica… norte-americana Peggy McIntosh. Espécie de ‘cartão epidérmico’ invisível dos brancos que lhes destinou o estatuto social privilegiado. Conclusão: nenhum branco escapa a esse pecado original (só ela, branquíssima, escapou…).

‘Fragilidade branca’: invenção da académica… norte-americana Robin DiAngelo. Incapacidade dos brancos para reconhecer o seu racismo intrínseco. Por isso, não reconhecemos o racismo sistémico, e adotamos uma lógica de suspeita e negação. Ora, ao negarmos, tornamo-nos parte do problema.

E eis a suprema ironia!  Servos alegres  da mixórdia  de que a gente negra fragilizada, esteja onde estiver, é já e será a maior vítima, as elites africanas na América e na Europa, os activistas que agora também aqui engordamos,  são mais escravos do que eram os escravos dos fazendeiros brancos… Mais escravos porque julgando-se livres e até colonizadores, são escravos por dentro.

Como os quer e faz um novo ‘Grande Irmão’, mais temível por ser insidioso, sem um centro para ser atacado por gente que já não há, erguida por um Churchill que não se vislumbra.

Quem nunca foi escravo foi o herói português tenente-coronel Marcelino da Mata. Seja lá o que tenha tido que fazer. E só ouço dizer a quem o conheceu que o admiravam como militar e como homem.