Franscisco Camacho: “Nunca vi o meu país a crescer e a dar respostas de uma forma sólida”

Depois do adiamento em novembro, decorre este fim de semana o Congresso Nacional da Juventude Popular, que escolherá o seu líder.

Inicialmente marcado para novembro de 2020, o Congresso Nacional da Juventude Popular foi adiado, devido às limitações impostas pela pandemia da Covid-19, e vai-se realizar neste fim de semana, online. À frente da única candidatura à liderança está Francisco Camacho, com a moção Responder ao Futuro, em que defende, entre outras propostas, benefícios fiscais para promover a natalidade e um estreitamento de relações com os países da CPLP.

O que traz de novo à JP?

Sou um jovem que viu o seu país, nos últimos 20 anos, a estagnar. Sinto todas as questões que são muito associadas à nossa geração, com ambições e aspirações de mobilidade, de querer conhecer o país mas também o mundo, e tenho presente que o nosso sistema político e o nosso sistema atual ficou de tal forma condicionado que deixou de dar respostas às novas gerações. Como qualquer pessoa da minha geração e das gerações que se seguiram, nunca vi verdadeiramente o meu país a crescer e a dar respostas de uma forma sólida, com uma economia competitiva e como um país que dê aspirações para não estarmos condenados, quase, ou a herdar uma fortuna interessante e ter qualidade de vida, ou a emigrar. Quero trazer isto ao debate político. Queremos que o país resgate um bocadinho esta capacidade de pensar sobre o seu futuro como um país que não esteja sucessivamente condenado a só pensar em fundos europeus.

Que nova dinâmica seria então esta da JP?

Temos quatro quatro bandeiras que são determinantes. Em primeiro lugar, a questão da família e da natalidade. Hoje em dia, nas novas gerações, parece que, com algumas exceções, aqueles que constituem família antes dos 30 anos são ou uns heróis ou uns loucos. As políticas públicas e o nosso modelo social têm de estar propensos à natalidade, com fortes incentivos fiscais que não se reduzam a meia dúzia de euros, que é o que hoje temos em vigor. Depois, a sustentabilidade da segurança social. Temos um sistema de pensões que teve os seus méritos mas hoje, está à vista de todos, para mais com a crise pandémica, que é brutalmente insustentável, e nós temos uma visão de reforma do sistema de segurança social com um teto máximo de pensões, e um teto máximo de contribuições. Por outro lado, outro dos grandes temas que acho que pode ser muito inovador é a questão da Nação Marítima. Nós temos um país onde parece que a única solução está em Bruxelas, nos fundos europeus. Não defendemos que Portugal vire costas à Europa, mas efetivamente temos uma hipótese grande, dentro do nosso potencial de língua, de país e de posicionamento geo-político, relacionado com o mar, que não tem sido desenvolvido, ora pela relação que podemos ter mais intensa com a CPLP, ora colocando Portugal numa relação com o mundo que se faça através do mar, zelando também por este ecossistema. O ponto principal, no entanto, é a questão da participação política. Sabemos que exite uma descrença muito grande nas novas gerações em torno do sistema político, e portanto defendemos uma reforma deste sistema, começando desde logo pela Assembleia da República, onde defendemos uma reformulação, não com a diminuição do número de deputados, mas com uma reforma que procure, por um lado, estimular a representatividade, e por outro a proximidade entre os deputados e os eleitores.

Como é se pode resolver a crise por que o partido está a passar?

Parece-me que é negar a realidade se respondesse que as coisas estão todas bem e que o partido está numa onda de popularidade. As sondagens são indicadores, e sabemos muito bem que não são muito benéficas ao CDS. O que acredito, e na JP temos feito essa reflexão, é que a única maneira para que o partido cresça e arranje apoios, é ter uma agenda que mobilize o eleitorado. Nesse sentido, o Conselho Nacional foi antagónico, mas acredito que a única solução para voltar a ter a confiança dos eleitores e na minha geração é mostrando causas consequentes com o nosso legado e com o futuro. 

O que lhe parece que levou a uma diminuição tão drástica do eleitorado do partido?

Há um clima de dispersão do voto, que pode não ajudar nessa situação, sendo que o único indicador real que tivemos foram as eleições nos Açores, ainda que num contexto muito particular. O barómetro fundamental da popularidade do partido serão as eleições autárquicas. A nossa representação parlamentar, por outro lado, já não é o que era, e isso prejudica o mediatismo que o partido consegue. Mas não gosto de me basear nas causas das coisas, porque isso são só justificações, e temos é de tentar resolver os problemas. Temos é de ter uma agenda para o país, clara, com três ou quatro bandeiras. A partir daí é estar no terreno, apresentar soluções e fazer crítica e oposição. Se há momento para fazer isso, é exatamente neste, em que temos um PS com uma fragilidade gritante, com os seus ministros a fazer declarações disparatadas. 

O que lhe parece que falhou ou podia ter sido melhor na gestão da pandemia no país?

No primeiro momento, na resposta à primeira vaga, apesar de tudo, as coisas até correram bem, muito fruto da iniciativa dos portugueses. A partir daí foi um descalabro considerável. Na resposta às restantes vagas, houve muita falta identificável de planeamento. Quase que parece que o PS acreditava que a terceira vaga não vinha aí, e essa falta de planeamento deveu-se, por um lado, por incompetência, e por outro, por obstinação ideológica. Quando temos uma ministra da Saúde que olha com desconfiança para os hospitais privados, é um péssimo indicador de como gerir uma pandemia. Houve incapacidade neste Governo na questão da gestão das escolas. Vimos depois do encerramento, que acho que era indesejável, a proibição da prestação de qualquer tipo de ensino durante duas semanas, tanto público como privado. Não vejo outro fundamento senão preconceito ideológico. Há coisas que em pleno 2021 são totalmente injustificadas e mostram Portugal no topo do indesejável ranking a nível de mortalidade e carga viral em torno da pandemia. A maior crítica a fazer tem a ver com o planeamento, que em muitos casos não existiu, e noutras foi muito mal feito.

Chegado o primeiro dia da liderança da JP, o que está no topo da lista de prioridades?

Vamos ter duas prioridades logo desde o dia um. Em primeiro lugar, a questão que falamos, da reabertura das escolas, e vamos ser incisivos nessa matéria, vamos continuar a escutar a sociedade civil e a comunidade escolar para perceber quais são as perspetivas da mesma. Depois, há dois temas que também me parecem importantes, como a preparação para a cimeira de dia 17 de julho da CPLP, onde vão estar em cima da mesa várias matérias importantes como a questão da mobilidade internacional, e vamos querer ter um papel importante no esforço da cooperação, porque acreditamos que a mobilidade dos mais jovens deve ser mais alargada nesta comunidade. Também vamos preparar as eleições autárquicas, porque a JP tem um papel muito importante. É fundamental começar a preparar esse processo, criando um perfil de um ADN de militante da JP enquanto autarca, que tenha sinalizado um conjunto de realidades importantes para a juventude, de vários contextos.
Temos aqui uma preocupação constante, que é o escrutínio às opções que o Governo tem feito em torno das novas gerações, que na maioria dos casos não têm tido essa preocupação, e os jovens acabam por ir a reboque de uma agenda que, do ponto de vista da justiça intergeracional, é fraca e injusta.