Charles Michel diz que impaciência pelos atrasos da vacina é “legítima”, mas que não deve “cegar” os países

O presidente do Conselho Europeu alerta para que as pessoas não se deixem “enganar pela China e pela Rússia”, visto que “organizam operações altamente limitadas, mas amplamente divulgadas para fornecer vacinas a outros”.

Charles Michel diz que impaciência pelos atrasos da vacina é “legítima”, mas que não deve “cegar” os países

O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, disse, esta terça-feira, num texto divulgado no site do Conselho que a impaciência por parte dos países europeus em torno do ritmo da vacinação contra a covid-19 é “legítima”, mas não deve ser “cega”.

"As atuais dificuldades, por muito irritantes que sejam, não devem fazer-nos perder de vista o panorama geral e tudo o que foi e está a ser alcançado. A impaciência é legítima, mas não nos deve cegar para a perspetiva mais ampla", disse, enumerando de seguida vários factos.

Charles Michel admite que “sem a Europa, não teria sido possível desenvolver e produzir vários tipos de vacinas em menos de um ano”, um processo que demora por norma “pelo menos quatro ou cinco anos”, lembrando que a “UE foi a força motriz e principal doador na angariação internacional de fundos que permitiu o financiamento da investigação de vacinas”.

Avisa também que se a UE não tivesse uma estratégia comum para a Europa, de confiar à Comissão Europeia a compra das vacinas, muitos Estados-membros “não teriam ainda recebido uma única dose”, dado que “países maiores teriam sido os primeiros na fila” a serem servidos.

O presidente do Conselho Europeu considera a Europa uma potência mundial inclusiva e por isso fica “estupefacto” quando vê o continente a ser acusado de “não agir de forma solidária”.

“E é triste vê-la criticada por querer partilhar doses antes de ter vacinado todos os seus cidadãos. Desde o início, a Europa tem sido a mais fervorosa defensora de uma resposta internacional e do princípio de que as vacinas devem ser universalmente acessíveis e a preços acessíveis. Por razões de necessidade, bem como de solidariedade".

Charles Michel chama atenção para ter em conta a iniciativa internacional COVAX originada pela União Europeia “para fornecer vacinas aos países de menor rendimento do mundo”, que já investiu cerca de 2,7 mil milhões de euros nesta iniciativa.

Ao encomendar previamente mais de dois mil milhões de doses, “mais do dobro do que é essencial para vacinar a sua população”, as restantes doses dão a possibilidade de países terceiros conseguirem vacinar centenas de milhões de pessoas.

O presidente do Conselho Europeu alerta para que as pessoas não se deixem “enganar pela China e pela Rússia”, visto que “organizam operações altamente limitadas, mas amplamente divulgadas para fornecer vacinas a outros”.

Segundo os dados disponíveis, “estes países administraram metade das doses por 100 mil habitantes que a União Europeia. E a Europa não irá utilizar vacinas para fins de propaganda. Nós promovemos os nossos valores”, assinala Michel.

De tal modo, Charles Michel diz-se “chocado com as acusações de ‘nacionalismo vacinal’ contra a UE”, escrevendo que, “também neste caso, os factos não mentem”, dado que a UE implementou um sistema para controlar a exportação de doses produzidas na União, enquanto o “Reino Unido e os Estados Unidos impuseram uma proibição total à exportação de vacinas ou componentes de vacinas produzidas no seu território”.

Por último, o Presidente da Comissão Europeia admite, no seu entender, que a União Europeia está bem colocada na corrida para “vencer esta guerra contra a covid-19”, sendo que a Europa ficará preparada para se tornar o continente que mais produzirá vacinas antes do final de 2021, ao lado dos Estados Unidos, um potencial aliado devido ao novo laço desenvolvido pela administração de Biden com os europeus.

"Ganharemos esta guerra contra a covid-19. E a Europa será um grande aliado na libertação do mundo deste vírus", remata Michel.

É de realçar que em nenhum momento do texto, o presidente de Comissão Europeia refere ao facto de alguns Estados-membros terem comprado a vacina Sputnik V, mesmo não estando autorizada pela Agência Europeia do Medicamento a sua administração.