Governo de coligação ao centro

Os países têm a obrigação de proporcionar condições de saúde e bem-estar aos seus cidadãos. Só eles têm os meios e a legitimidade para o fazer. O Governo português está a dar-nos essas condições? Não. O vírus existe e outras variantes já por cá andam.

Pela primeira vez na história e principalmente na nossa geração existe uma crise à escala global, porém nenhum país está em guerra para defender as suas posições de qualquer invasão. Todos lutam pelo mesmo objetivo, defender-se de algo invisível que está a causar estragos irreparáveis.

Esta pandemia está a transportar-nos para outras realidades, a relação social e a violência verbal entre pessoas a diminuição da população a economia paralisada os empregos destruídos e problemas de saúde adiados. 

Mas sendo esta crise universal, cada país tem o seu Governo para proteger os seus cidadãos. Uns com mais eficácia que outros e por vários motivos: a sua situação geográfica, as condições climatéricas, o planeamento, a coragem de decidir e não adiar e acima de tudo saber dirigir.

Pensando que com a vacina tudo se resolvia, afinal é puro engano. Os cientistas, investigadores, médicos intensivistas, virologistas, epidemiologistas, imunologistas, farmacologistas e de saúde pública não estão otimistas. A vacina é uma esperança, mas ainda com uma eficácia reduzida. Apenas cerca de 75% da população vacinada pode ter sucesso, porque 15% a 20% dessas pessoas vacinadas, podem voltar a contrair o vírus. Também não sabemos o que virá a seguir, as novas variantes estão agora a ser identificadas e tem sido uma ameaça à eficácia da vacina.

Com tantas incertezas a Big Pharma numa cimeira mundial sobre saúde vaticinou que a guerra ao vírus com todas estas variantes pode ser longa e tornar-se permanente.

Os países têm a obrigação de proporcionar condições de saúde e bem-estar aos seus cidadãos. Só eles têm os meios e a legitimidade para o fazer. 

O Governo português está a dar-nos essas condições? Não. O vírus existe e outras variantes já por cá andam.

Portugal tem um SNS de excelência, médicos e outros profissionais de saúde do melhor. Na primeira vaga de pandemia fomos um caso de sucesso com notícias a nível mundial, e agora continuamos a ser notícia pelo insucesso.

Então o que se passou senhor primeiro-ministro? Tendo mais condições e mais meios hoje somos os piores na Europa e caminhamos para sermos os piores no mundo. Onde estamos a chegar? 

Neste momento de tanta incerteza, com uma crise de saúde e uma crise económica e social duradoura e com tão poucos recursos, fazer parte da União Europeia é algo que nos faz pensar, sem a sua ajuda financeira e de outros meios, hoje estávamos numa situação de catástrofe.

Muito se tem falado do nosso sistema político. As opiniões divergem, uns são a favor do atual Governo, outros de um Governo de salvação nacional, outros de um Governo de iniciativa Presidencial, outros de um Governo de coligação de esquerda, outros de um Governo ao centro de maioria no Parlamento e outros na demissão deste Governo. Na nossa Constituição todos eles são possíveis.

Não sou a favor de um Governo de salvação nacional, não sou a favor de um Governo de iniciativa presidencial, não sou a favor da demissão do Governo. Sou a favor que quem ganha as eleições mesmo em minoria deve ser convidado a formar Governo, mas não sou a favor de um Governo minoritário sem apoio Parlamentar apenas com acordos pontuais. 

De 2015 a 2019 o mundo esteve em grande desenvolvimento económico, social e político. Sem crises e como tudo correu bem a António Costa os acordos que tinha no Parlamento, dispensou-os. Mas na vida temos que estar preparados para tudo o que nem sequer imaginávamos. 

António Costa sabe melhor do que ninguém que com um Governo minoritário num país pobre e sem recursos, não é a ‘bazuca da UE’ que tudo resolve. O que resolve é saber interpretar a desigualdade, a pobreza e a falta de respostas que não existe. 

A democracia em Portugal está em perigo? Está sem qualquer dúvida. Estamos a enfrentar um grave problema de governabilidade de partido único. Hoje o PS tem uma hegemonia total nos órgãos do Estado: é o Governo e seus gabinetes, as direções-gerais e institutos públicos, o Tribunal Constitucional e o Tribunal de Contas, a Procuradoria-Geral da República, as Forças Armadas com a nova lei, as direções hospitalares, as direções regionais, as autarquias.

Dizer que o CRESAP avalia e escolhe os candidatos a esses lugares é apenas uma maneira habilidosa de enganar porque a escolha é sempre do membro do Governo. 

Já se verificou que todo este poder de uma só pessoa e de um só partido, foi-lhe dada sem nada em troca. Que importa vir o PCP ou o BE dizer que o Governo é mau e sem soluções, se quando precisa do seu apoio sabe que tem o voto, mesmo estando a esvaziá-los eleitoralmente.

Portugal pode ficar ingovernável? A democracia está em perigo? Sim tudo isto é verdade e está em curso. Um partido que ganha eleições com 36% dos votos, é minoritário na Assembleia da República e se torna dono do poder absoluto, não tenhamos qualquer dúvida a ‘mexicanização’ do regime está em curso.

Várias vezes nos meus artigos de opinião, manifesto que sou contra a um Governo minoritário, não sou a favor de simples arranjos para fazer passar leis ou orçamentos. Senhor primeiro-ministro a sua teimosia e o seu procedimento está errado. Portugal é o único país da Europa que tem um Governo minoritário.

A situação pandémica causou nas nossas vidas a crise económica e social e política pela qual estamos a passar.

Deixemo-nos de estratégias ou benefícios próprios. Portugal bateu no fundo, só um Governo maioritário de coligação ao centro identificado com a União Europeia nos pode dar alguma tranquilidade.

Ester Amorim

Professora universitária de Gestão e Economia