Cobertura noticiosa intensa de primeira vaga influenciou resultados

Menor cobertura na segunda vaga e uma mais tardia na terceira podem explicar menor adesão da população.

A cobertura noticiosa intensa da pandemia está ligada a melhores resultados no primeiro confinamento. Esta é a conclusão de um estudo levado a cabo por três universidades e um centro de investigação portugueses que analisaram aproximadamente 3 mil notícias publicadas no decorrer das diversas vagas pandémicas que o país atravessou. Dois terços foram publicadas na primeira vaga (63%), com menor cobertura noticiosa nas ondas que se seguiram.

Em comunicado, as investigadoras concluem que o “alívio do ‘alerta noticioso’ na segunda vaga e cobertura mais tardia na terceira vaga podem explicar menor adesão da população” às medidas de segurança, adiantando que “o jornalismo reforçou a sua importância em contexto da pandemia e constituiu uma ‘arma eficaz’ no combate contra a covid-19”.

“Na primeira vaga, a situação epidemiológica não era tão grave quanto pensávamos, mas a cobertura noticiosa foi muito intensa e antecipou-se ao agravamento do quadro sanitário, contribuindo para orientar o comportamento dos cidadãos no sentido de se protegerem”, diz Felisbela Lopes, investigadora da Universidade do Minho e coordenadora do trabalho.

Quanto às temáticas mais abordadas pelos media, os resultados mostram que, na primeira vaga, para além dos retratos epidemiológicos, as notícias aprofundaram sobretudo temas de índole social (21%), como o trabalho ou a educação. Já na segunda vaga, os jornalistas exploraram os temas sociais (7%) e a política nacional (20%). “A terceira vaga foi marcada por um noticiário particularmente negativo, que se debruçou sobre os retratos de situação (23%), nomeadamente no que concerne à contagem de mortos por covid-19”, conclui a análise. Acerca das fontes, as autoras do estudo frisam que os profissionais e os especialistas “ganharam mais terreno”, sendo que as fontes oficiais são as mais ouvidas quando o assunto é covid-19 –com resultados que oscilam entre os 22 e os 29% –, ainda que os profissionais de diferentes áreas e os especialistas tenham ganhado “uma nova força” com taxas entre os 20 e os 25%, percentagens que correspondem a profissionais que desempenham cargos. O estudo, que incide em dois jornais diários, Público e Jornal de Notícias, integra um projeto de investigação mais alargado, que visa analisar a Comunicação de Saúde sobre o novo coronavírus em Portugal. Junta investigadores do Instituto de Ciências da Universidade do Minho, Cintesis, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e Universidade Católica.