“O Padrão dos Descobrimentos é um Mamarracho?”

O não respeito pela identidade cultural de um Povo, como o é o Português, não representa, a meu ver, mais do que a revelação de um pensamento suportado na mediocridade.

por José Miguel Fonseca
Arquiteto e Urbanista   
  

 

"Mesmo o Padrão dos Descobrimentos, num país respeitável, devia ter sido destruído", afirmou  Ascenso Simões defendendo também que o "Salazarismo não morreu(Jornal i de 22 de Fevereiro de 2021).

Ascenso Simões sabe por quem foi este Monumento concebido, projectado e executado?

Foi o Arquitecto Cottinelli Telmo que o concebeu tendo convidado o Escultor Leopoldo de Almeida que, com muitos outros Colaboradores, participou na execução do mesmo, sob a coordenação do primeiro.

Resultou de uma encomenda feita pelo Ministro Duarte Pacheco para a Exposição do Mundo Português em 1940, promovida pelo então Presidente do Conselho Professor António de Oliveira Salazar.

Tenho-me também questionado de há muito, e a propósito, sobre qual poderia ter sido a razão que fez com que, alguns dos mais ilustres e brilhantes Arquitectos, Pintores, Escultores e Artesãos de então, tal como Cottinelli Telmo, tivessem aceitado encomendas de trabalho, para essa mesma Exposição do Mundo Português? Porque não as rejeitaram? Não entenderam, nesse momento que essa atitude poderia corresponder a um apoio ao Regime Ditatorial do Estado Novo?

Foi Duarte Pacheco, na qualidade de Ministro e também Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, que também decidiu encomendar outros  Estudos e Projectos (custeando algumas das mais significativas Obras Edificadas que ainda existem e funcionam em Portugal e nas Ex-Colónias ) a esses mesmos Arquitectos, Engenheiros, Pintores e Escultores de entre outros. Deste modo, e por este facto, não foi apenas ele que serviu o Estado Novo.

Estes ilustres Profissionais e Artistas, de inquestionável qualidade, aceitaram essas encomendas que passaram a fazer parte dos seus Curricula, constituindo, também por essa razão, um acrescento à sua qualificação quando do Exercício das respectivas Actividades.

Participaram neste processo, de entre outros, os Arquitectos Cottinelli Telmo, Pardal Monteiro, Carlos Ramos, Jorge Segurado, Raul Lino, Cassiano Branco, Keil do Amaral  João Simões, Rodrigues Lima, Veloso Reis Camelo ; os Pintores Bernardo Marques, Carlos Botelho, Almada Negreiros, Jorge Barradas, Lino António, Martins Barata, Estrela Faria e os Escultores Canto da Maia, Leopoldo de Almeida, Barata Feio, Ruy Gameiro, Martins Correia.

Todos souberam expressar o seu talento e competência no desempenho do seu papel.

Se não fosse a participação destes e de outros Profissionais e Colaboradores, quando das fases de Execução das Obras, seria possível terem existido, como existem ainda hoje, o Instituto Superior Técnico, a Casa da Moeda, o Instituto Nacional de Estatística, o Laboratório Nacional de Engenharia Civil, a Fonte Luminosa, o Aeroporto de Lisboa, a Ponte sobre o Tejo, os Edifícios Escolares, o Viaduto Duarte Pacheco e o Parque Florestal de Monsanto, de entre centenas de outros edifícios incluindo obras de Infraestruturas Gerais, nas quais cabe destacar a Barragem de C. Bassa em Moçambique? 

Deveremos reconhecer que o conjunto de Arquitectos, Pintores, e Escultores acima indicados, assim como todos os outros que produziram o seu trabalho durante o período do Estado Novo de 1926 a 1975 em Portugal e nas então Províncias Ultramarinas, conceberam e executaram obras "sem sentido no tempo de hoje"? E que as mesmas não representam mais do que "mamarrachos", como afirmou Ascenso Simões, em relação ao Padrão dos Descobrimentos?

Este senhor deputado entende que devem ser destruídas todas as obras que acima referi e uma imensidão de outras que, como exprimiu, "o Estado Novo fabricou "?

E entende também que devem ser demolidos todos os Monumentos e Edifícios, de diversa ordem e tipo, que dizem respeito aos Descobrimentos construídos ao longo dos últimos 500 anos em Portugal e em todos os outros Países e Terras por onde passaram os Portugueses?

De onde apareceu este Senhor? Quais são as suas origens? Que formação tem? O que sabe fazer? Representa o quê e quem ?

Fátima Bonifácio, insigne representante do Saber e da Sabedoria já o qualificou devidamente, quando afirmou "Perdoai-lhe, senhor, que não sabe o que diz"

Como também uso dizer não posso pedir a uma pessoa para dar o que não tem para dar.

O não respeito pela identidade cultural de um Povo, como o é o Português, não representa, a meu ver, mais do que a revelação de um pensamento suportado na mediocridade.

Falar e expor opiniões sem saber do que se trata considero-o como aviltante, É o que, a meu ver, Ascenso Simões e alguns outros têm vindo a fazer.