“O meu objetivo sempre foi regressar a Portugal”

A concluir um MBA no IESE, em Barcelona, Bernardo d’Alte já tem viagem de regresso para Lisboa ‘marcada’: ‘Já assinei contrato com uma consultora e em setembro começarei a trabalhar’

Estava há sete anos a trabalhar na Galp, mas despediu-se para ir tirar um MBA no Instituto de Estudos Superiores da Empresa (IESE Business School), em Barcelona, Espanha. Bernardo d’Alte tem 31 anos e conclui já no próximo mês de maio a mais recente etapa da sua vida. 

«Sou advogado de formação e trabalhei sete anos na Galp, na parte de exploração e produção de petróleo. Despedi-me porque queria garantir que adquiria bases fortes em gestão e finanças para uma carreira fora do Direito. Aqui, o IESE é uma das melhores universidades do mundo para quem quer tirar um MBA, então decidi candidatar-me e tive a sorte de entrar», conta.

Formou-se em Direito «porque nos ensina a estruturar o pensamento, a resiliência e a querermos ser bastante curiosos», mas, apesar de ter a cédula, nunca exerceu advocacia. «Trabalhei sempre na área de gestão e percebi que para seguir carreira em gestão precisava de ter outras bases. Fazer este MBA não só me dá a certeza de que terei essas bases, como também a segurança de que terei mais possibilidades de mercado, até porque o meu objetivo sempre foi regressar a Portugal», justifica. Desde o verão de 2019 em Barcelona, Bernardo relembra a fácil adaptação à cidade: «É uma cidade com uma escala bastante superior à de Lisboa, mas também tem muitas semelhanças. É uma cidade portuária desde a sua constituição, que está habituada a ter bastante contacto com outras culturas. É natural vermos pessoas de diferentes etnias, com diferentes hábitos alimentares e vestimentas… Ainda falando em tempos pré-covid, é uma cidade que, fruto da sua geografia, inclinação até ao mar e bom planeamento urbano (com ruas bastante largas na maioria dos bairros e prédios relativamente baixos) nos oferece muita luz, não tem a luz de Lisboa, mas também tem muita luz». Além disso, é uma cidade «histórica».

«Existem várias dimensões da história e cultura ocidental associados a Barcelona, desde arquitetura, escultura, pintura, filmes, desporto etc.. Como são exemplo o espetáculo de chegada da tocha dos Jogos Olímpicos a Barcelona ou a Sagrada Família de Gaudi. É uma cidade riquíssima», destaca. 

Desde o início da pandemia que as rotinas sofreram algumas alterações, mas o dia-a-dia do jovem natural de Lisboa vai-se desenrolando dentro da maior normalidade possível. «Os restaurantes fecham às 15h30 e eu tenho aulas durante o dia, portanto compro a minha comida e cozinho em casa. O supermercado é um bocadinho mais caro do que em Lisboa, mas não é assim tanta diferença. Antes da pandemia a cidade tinha valores de casas estupidamente caros, uma das coisas pelas quais os catalães se manifestam bastante, porque dizem que estão a perder a cidade para os turistas, um bocadinho à imagem de Lisboa», compara.

Numa cidade multifacetada, que oferece não só a possibilidade de estender a tolha ao sol, como passeios por trilhos montanhosos no inverno, no tempo livre – e dentro daquilo que é possível dadas as restrições, numa cidade ainda a meio-gás –, aproveitar o habitual bom tempo de Barcelona é palavra de ordem para quem por lá anda. «Como esta cidade tem muito sol, as pessoas passam a vida nos parques, nas praças, na praia. É uma cidade tão completa que é capaz de oferecer praia no verão e tem as montanhas no inverno. Há montes de circuitos, ciclismo, corrida…» avança, antes de recordar as duas fases de confinamento que o país atravessou: «a primeira, em março, tal como Portugal, e uma segunda agora, marcada pelas manifestações dos catalães. As questões da independência da Catalunha criam na população uma vontade de se fazer ouvir quando não concordam com medidas, e esta segunda fase tem tido bastante medidas passíveis de serem contestadas».

Apesar dos momentos de tensão, diz nunca ter-se sentido inseguro. «Já estive em países onde temi pela minha segurança e aqui isso nunca aconteceu», garante. «Normalmente eles têm estas manifestações com um número de pessoas elevado e, na maioria, não são manifestações agressivas. Param as estradas, fazem barulho e até fazem uns jogos nas principais ruas da cidade para mostrarem o seu desagrado. Também há uma fação pequena, que é a que tem mais visibilidade lá fora, que incendeia, que parte janelas, montras…», esclarece.
Em contagem decrescente para terminar os estudos, o regresso a Portugal já tem data marcada: «Já assinei contrato com uma consultora e em setembro começarei a trabalhar».