Nicolas Cage. De vendedor de pipocas a ícone de Hollywood

Aos 57 anos, o ator casou-se pela quinta vez, desta feita com uma bailarina japonesa 31 anos mais nova. Para quem conhece a sua vida e as suas excentricidades, não é nada de surpreendente.

No dia 16 de fevereiro Nicolas Cage, um dos maiores nomes de Hollywood, voltou a mostrar ao mundo a sua maneira extravagante e muito própria de viver a vida. Depois de quatro matrimónios, o ator voltou a casar-se, desta vez com a bailarina japonesa Riko Shibata, 31 anos mais nova.

Para quem o conhece apenas pelas personagens que interpreta, este acontecimento pode parecer insólito, mas na sua vida privada Nicolas Cage tem um percurso fora do convencional. Desde os cinco casamentos (alguns deles precipitados), aos estranhos animais de estimação (cobras, tubarões e crocodilos) e à prematura organização do local onde quer que o seu corpo repouse depois de morrer, o seu historial é marcado por obsessões inusitadas e aspetos bizarros.

A infância e adolescência Nascido a 7 de janeiro de 1964 em Long Beach, na Califórnia, Nicolas Kim Coppola é um dos três filhos do professor universitário August Coppola e da coreógrafa Joy Vogelsang.

Logo no dia do seu nascimento, e sem ter consciência disso, o ator viveu aquela que seria a sua primeira perda, a morte do irmão gémeo, Jonathan, que faleceu minutos depois de Nicolas ter nascido. Curiosamente, em 2002 o ator viria a interpretar o papel dois gémeos com personalidades opostas – Charlie e Donald Kaufman – no filme Inadaptado, de Spike Jonze.

Aos cinco anos, assistiu à separação dos pais, tendo ficado, juntamente com os seus outros dois irmãos Mark e Christopher Coppola, à guarda do pai – a sua mãe não podia cuidar dos filhos pois sofria de um transtorno bipolar e passava longas temporadas internada em hospitais psiquiátricos. Essa realidade traumática da infância e adolescência haveria de servir-lhe de inspiração para muitas das suas personagens.

A sede de viajar e conhecer o mundo fê-lo pensar em entrar para a Marinha, mas a necessidade de desconstruir as seus anseios, medos e emoções, era maior, por isso decidiu seguir a via artística.

Aos 12 anos, Nicolas decide trocar a Beverly Hills High School, colégio onde estudava em Long Beach, por São Francisco, tendo ingressado na Escola de Teatro, Cinema e Televisão da UCLA. Passados dois anos, em 1981, conquistou o seu primeiro papel, no filme The Best of Times.

Nicolas é sobrinho do famoso realizador e produtor Francis Ford Coppola, irmão do seu pai. Contudo, ao iniciar a carreira, preferiu não utilizar o nome de família de maneira a não se esconder nas sombras do tio. O ator queria um nome que o identificasse por si só e que cortasse qualquer tipo de vínculo familiar: de Nicolas Coppola transformou-se em Nicolas Cage, em homenagem ao super-herói da Marvel Comics, Luke Cage.

As luzes da ribalta Foi em 1982 que Cage conseguiu um pequeno papel no filme Fast Times at Ridgemont High, mas a maioria das suas cenas foi cortada, o que acabou por desanimá-lo. Desiludido com a representação, foi trabalhar como vendedor de pipocas no Fairfax Theater, acreditando que essa seria a única hipótese que teria para seguir uma carreira relacionada com o cinema. Mas rapidamente percebeu como estava enganado. No ano seguinte, participou no filme Valley Girl e nunca mais parou. Seguiram-se seis filmes de pouco sucesso, até chegar a Moonstruck, onde atuou ao lado de Cher, em 1987. Mas foi em 1990 com Wild at Heart que o ator, finalmente, conquistou reconhecimento.

Desde cedo que Cage mostrou uma personalidade artística e processos criativos que o distinguem dos seus pares. A prova disso é a sua forma díspar de processar, viver e interpretar as suas personagens: em 1989, no filme Vampire’s Kiss, comeu uma barata viva para entender realmente o seu personagem. Em 1984, no filme Birdy, extraiu dois dentes sem anestesia para fazer jus ao seu papel. No mesmo ano apareceu em Racing with the Moon e The Cotton Club, protagonizado por Richar Gere e dirigido pelo seu tio, Francis Ford Coppola. Em 1995, em Leaving Las Vegas (Morrer em Las Vegas), onde lhe coube o papel de um alcoólico no fim da linha, filmou embriagado para melhor encarnar o seu personagem. O filme valeu-lhe o Óscar de melhor ator e um Globo de Ouro.

A par de filmes de culto, Cage nunca recusou partipar noutros mais lucrativos, como The Rock, Con Air – Fortaleza Voadora e Face Off. Em 1998, City of Angels tornou-se um dos mais aclamados do ator. Nesse mesmo ano teve direito a uma estrela no Passeio da Fama, em Hollywood.

Depois de três anos agitados, em que participou em filmes dos mais diversos géneros, em 2002 estreou-se na realização com Sonny. O seu maior sucesso de bilheteira dá-se quatro anos depois com National Treasure, um filme de aventuras da Walt Disney. Mas o retorno financeiro e o reconhecimento da crítica andaram habitualmente de costas voltadas.

Desde 2002, Cage participou em mais de 40 filmes de qualidade irregular, levando muitos fãs a apontar-lhe a falta de critério na escolha dos projetos que abraça. Em 2009 voltou a convencer a crítica com The Bad Lieutenant: Port of Call New Orleans, que lhe valeu o prémioda Associação de Críticos de Cinema de Toronto.

* Editado por José Cabrita Saraiva