Vacinas de reforço ainda este ano?

No Reino Unido, o vice-presidente do comité de vacinação defendeu esta semana que devem ser consideradas já este outono, mesmo que por precaução. Comissão Europeia ainda não se pronunciou. Nem Portugal.

Com a campanha de vacinação da covid-19 em curso, o cenário de vacinas de reforço poderem vir a ser dadas ainda este ano para aumentar a proteção começa a ser equacionado. Pfizer e Moderna já anunciaram estar a fazer ensaios de vacinas de reforço, isto numa altura em que vão surgindo diferentes resultados sobre o grau de proteção conferido pelas atuais, que se tem mostrado elevado mas menor no caso das novas variantes, nomeadamente a sul-africana e a brasileira.

As atenções a nível europeu têm estado centradas em aumentar o ritmo da vacinação perante os atrasos nas entregas da vacina e esta semana a Comissão Europeia anunciou um acordo com a Pfizer para mais quatro milhões de doses. Mas em relação à eventual necessidade de serem utilizadas doses de reforço já este ano e como serão garantidas aos Estados-membros ainda não existe uma posição. Questionada pelo Nascer do SOL sobre se se manterá a negociação centralizada, a Comissão Europeia remeteu o dossiê para a Agência Europeia do Medicamento, que também não se pronunciou.

‘Certamente não queremos ver um inverno como este’

A Pfizer anunciou há duas semanas o estudo de uma terceira dose. Neste caso, seria igual às primeiras, mas a empresa acredita que poderá conferir maior proteção. Por sua vez, a Moderna anunciou esta a semana a inscrição dos primeiros 60 participantes para o estudo de vacinas de reforço contra a variante sul-africana. 

Se os impactos da vacinação ainda estão a ser medidos, com a maioria dos países europeus ainda apenas com 9% da população com a primeira dose, no Reino Unido, onde 23 milhões de britânicos já têm a primeira toma (mais de 30% da população), o vice-presidente do comité técnico de vacinação abordou esta semana a questão das vacinas de reforço e assumiu que o cenário mais provável é mesmo que venham a ser administradas já no próximo outono.

As declarações foram feitas numa entrevista ao jornal médico British Medical Journal. «Certamente não queremos ver um inverno como este. Se temos novas variantes a circular, se temos níveis mais baixos de imunidade devido à vacinação, então torna-se um imperativo fazer um reforço», defendeu Anthony Harnden, admitindo que as doses de reforço poderão vir a ser dados a grupos mais vulneráveis da população ou a toda a população e sugerindo que isso deve acontecer entre agosto e setembro. «Acho que provavelmente tomaremos uma decisão ousada de recomendar uma dose de reforço, mesmo que não tenhamos todas as evidências da necessidade, porque as consequências de não imunizar com a dose de reforço são muito grandes. Se ficar provado que é necessário meses depois, pode ser tarde demais», afirmou.

O avanço das vacinas de reforço implicaria aumentar ainda mais a produção, numa altura em que o estrangulamento das entregas tem sido o principal problema nas campanhas de vacinação. Esta semana ,a Agência Europeia do Medicamento aprovou a vacina da Janssen, propriedade da Johnson & Johnson, a quarta a ter luz verde a nível europeu e a primeira que requer apenas uma dose. Esta nova vacina deverá começar a chegar a Portugal em abril. Está prevista uma entrega inicial de 1,25 milhões de doses. Até aqui, a maioria das vacinas administradas no país foram da Pfizer. Segundo dados avançados esta semana pelo jornal Eco, até 5 de março foram recebidas cerca de 1,19 milhões de vacinas em território nacional, das quais 843.189 da Pfizer, 84 mil da Moderna e 259.200 da AstraZeneca.

Manuel Carmo Gomes, epidemiologista e membro da comissão técnica de vacinação, diz ao Nascer do SOL que a administração de doses de reforço é uma possibilidade, mas considera prematuro uma decisão, uma vez que as vacinas estão a ser desenvolvidas ainda. O especialista salienta também que os resultados têm mostrado que as atuais vacinas conferem proteção contra as novas variantes e que uma maior avaliação é esperada ao longo dos próximos meses.