Autárquicas: prova de fogo para os partidos

Depois dos maus resultados de 2017, as eleições autárquicas assumem-se como mais uma prova de vida para os partidos, exceção feita ao PS que parte para esta corrida com a vantagem larguíssima conquistada há quatro anos. 

As eleições autárquicas impuseram-se na agenda política e mediática. Serão eleições mais importantes e decisivas para o PSD e a sua liderança. De uma forma indireta, Rui Rio será mais uma vez testado em urnas, o que coloca o ónus dos resultados sobre a forma como tem orientado a principal oposição política. O contexto é complexo. De há cerca de um ano a esta parte, a crise pandémica determinou uma paz política sinalizada por um consenso generalizado sobre a estabilidade necessária ao combate à covid e às múltiplas discussões entre cientistas quanto às melhores medidas a tomar nos períodos de confinamento e desconfinamento. Há quem entenda que a política se tornou refém da ciência como se fosse possível supor que em cada político existisse um viroligista ou um infecciologista preparado para agir e tomar decisões com conhecimento próprio. 
 
Com as dificuldades de gestão e algumas decisões erráticas tomadas ao longo destes últimos meses, nem sempre isentas de crítica, as opções de natureza política pura e dura passaram inevitavelmente para um segundo plano, até surgir o momento de alguma clarificação e de decisão. 

Depois dos maus resultados de 2017, as eleições autárquicas assumem-se como mais uma prova de vida para os partidos, exceção feita ao PS que parte para esta corrida com a vantagem larguíssima conquistada há quatro anos. 

Como sempre acontece em eleições autárquicas, Lisboa constitui-se como a prova de fogo principalmente para os partidos do chamado arco da governação. O PS tem um trunfo importante que assegura a continuidade da gestão da capital desde a saída de António Costa para o Governo. Fernando Medina é um homem tranquilo, apontado muitas vezes como sucessor de Costa. Não se lhe conhecem inimigos declarados nem incapacidade para estabelecer pontes à esquerda sempre que necessário. Para recordar um dos slogans de François Miterrand – a força tranquila – revela uma das linhas da governação socialista da capital. 

O líder do PSD estava confrontado com uma decisão difícil, sem que os dados estivessem todos do seu lado. Obrigado a encontrar nomes fortes para as principais autarquias do país, Rio sabia que iria ser avaliado interna e externamente pela escolha que fizesse para Lisboa. A sua opção foi Carlos Moedas. Natural de Beja, filho de comunistas tal como Medina, Moedas tem um percurso profissional que o distingue a juntar à formação de excelência que adquiriu nas mais prestigiadas universidades dos Estados Unidos.

O Governo da troika liderado por Passos Coelho gerou, como é sabido, anticorpos num país desvalido pela austeridade. Moedas irá ser confrontado com este passado dada a posição que teve como um dos principais interlocutores com a troika. Qualquer que venha a ser o resultado, será um confronto político elevado que irá conferir um interesse acrescido ao debate ideológico nas eleições do último trimestre do ano.