Vacina da AstraZeneca volta a ser usada com sinais a estar atento

Avaliação da Agência Europeia do Medicamento concluiu que vacina é segura e benefícios superam riscos. Casos de tromboembolismo associado a baixa de plaquetas, raros, vão continuar em investigação.

Depois da toma de uma vacinada são explicados sinais que podem ocorrer e o que fazer. A investigação da Agência Europeia do Medicamento à vacina da AstraZeneca, suspensa na maioria dos países europeus, concluiu que a vacina é segura e que não estão a verificar-se mais casos de trombose do que seria expectável dado o número de pessoas que está a ser vacinado. No entanto, casos raros de coágulos sanguíneos associados a uma baixa de plaquetas, que não estava descritos nos ensaios, levam a autoridade europeia do medicamento a manter a vigilância e a reforçar as indicações que devem ser dadas às pessoas quando fazem a vacina. Não foi estabelecido um nexo de causalidade da vacina e a agência europeia do medicamento admite que um dos cenários que foi igualmente considerado foi poderem ser resultado de uma infeção, dado estarem também descritos no caso da covid-19. Enquanto a investigação prossegue, vai ser atualizado o resumo de características do medicamento, a informação que vem na bula, e ontem a Agência Europeia do Medicamento adiantou as orientações que devem ser transmitidas à população: após a vacina, se sentirem falta de ar, dor no peito ou estômago, inchaço ou arrefecimento de uma perna ou braço, dor de cabeça forte ou visão turva, uma hemorragia que não estanca e nódoas negras, devem procurar o médico.

É com avisos que visam que qualquer caso seja sinalizado rapidamente e com a confiança para recuperar que a vacina da AstraZeneca será retomada na próxima semana no caso de Portugal. Tal como os países suspenderam a vacina a diferentes velocidades, e sem ter havido uma recomendação da EMA nesse sentido, a retoma também não acontecerá em todos no mesmo dia. Itália e Alemanha retomam o uso da vacina já esta sexta-feira. Espanha na próxima quarta-feira e a ministra da Saúde anunciou que este prolongamento da pausa serve para as autoridades reconsiderarem quem deve fazer a vacina, isto depois de a região de Madrid ter suspendido o uso da vacina a pessoas com mais de 55 anos. O ministro da Saúde francês anunciou também a retoma da vacina na sexta-feira e que ele próprio irá tomá-la.

Cá também António Costa sublinhou durante a semana que foi vacinado com a vacina da AstraZeneca e foi também o caso de milhares de profissionais de saúde, dado que até à semana passada a vacina era dada a pessoas com menos de 65 anos, o que tinha sido alargado na última semana para aumentar o ritmo de vacinação dos idosos perante a escassez de vacinas. Como o i avançou na edição desta quinta-feira, em 195 mil doses administradas foram reportadas no país 202 reações adversas e segundo o Infarmed houve dois casos de eventos tromboembólicos, mas sem as características dos eventos que suscitaram a investigação da EMA.

Questionados ontem pelo i na conferência de imprensa se em função das conclusões da agência europeia do medicamento haverá alterações nos grupos da população a quem é destinada esta vacina, o presidente do Infarmed Rui Santos Ivo salientou que não foi estabelecido um nexo de causalidade com os cassos raros detetados e que as informações da EMA, que ontem ainda se aguardavam em detalhe, são as que serão fornecidas aos profissionais. “Apesar de termos alguma informação hoje teremos de esperar pelos documentos oficiais que serão disponibilizada na forma final e que os peritos nacionais e europeus estão a analisar e emitirão as suas recomendações”, disse depois Graça Freitas.

Reações raras não foram em idosos mas em menores de 50 anos

Segundo um comunicado da EMA publicado já ao final do dia, ao todo, em 20 milhões de pessoas vacinadas no mundo, foram sinalizados 25 casos de tromboembolismo associado a trombocitopenia (baixas contagens de plaquetas). São este tipo de ocorrências, que ainda não é claro se resultam ou não da vacina, que estão em investigação. Ocorreram num intervalo de 14 dias após a toma.

A maioria dos doentes eram mulheres com menos de 55 anos, mas a agência admite que isso pode resultar de o facto de até aqui nas campanhas de vacinação dos diferentes estados membros a vacina inglesa ter sido usada mais em pessoas mais novas. E o indicador que motiva que a investigação prossiga é que se no caso dos eventos tromboembólicos no geral não foram sinalizados mais casos após a toma da vacina do que seria expectável na população em geral, estes são quadros clínicos raros, que aliás podem ser causados pela própria covid-19 e é difícil estimar o que seria o expectável se as pessoas não tivessem a fazer a vacina, diz a EMA. Com base em informação epidemiológica pré-covid, a agência calculou que até 16 de março seria expectável haver um caso de coagulação intravascular disseminada (uma das patologias em causa) no universo de pessoas vacinadas neste período. Foram detetados cinco. Também nesta faixa etária seriam expectáveis 1,35 casos de trombose venosa cerebral e foram reportados 12. “Um desequilíbrio semelhante não é visível na população mais velha a quem foi dada a vacina”, indica a EMA.