Sismo. “À partida, as pessoas não se devem alarmar”

Terramoto sentido em Lisboa ocorreu na mesma zona dos grandes abalos de 1531 e 1909 e, por isso, é “normal”.

A cidade de Vila Franca de Xira e a vila de Pavia foram os pontos mais a norte e a sul, respetivamente, do epicentro do sismo que se registou, esta quinta-feira, a cerca de oito quilómetros a este de Loures. Para Fernando Carrilho, chefe da divisão de Geofísica do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), este fenómeno “não é surpreendente”.

Zona dos grandes abalos de 1531 e 1909

“É uma zona sismicamente ativa, do ponto de vista instrumental. Ocorre numa zona de perigo, em Lisboa, mas creio que não haja razão para preocupação”, começa por explicar Fernando Carrilho, em declarações ao i, referindo-se ao dois sismos que marcaram a História de Lisboa.

O primeiro, datado de 26 de janeiro de 1531, teve o epicentro em Vila Franca de Xira, uma magnitude entre 7,0 – 7,5 na escala de Richter abalou e provocou 30.000 mortos.

Segundo o artigo científico “The 1531 Lisbon earthquake”, publicado em 1998 no Bulletin of the Seismological Society of America, acredita-se que a causa foi uma falha geológica na região do baixo Tejo. Um terço das edificações da cidade foram arrasadas – a título de exemplo, o Paço da Alcáçova e a Igreja de São João foram ambos quase completamente destruídos.

Já o segundo, que decorreu a 23 de abril de 1909, causou 42 mortos e 75 feridos e teve uma magnitude de 6,3 na mesma escala.

O estudo “Sismo de Benavente de 1909: Observações e modelação de danos e perdas”, realizado pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil, nota que o sinistro provocou 42 mortos – 30 na freguesia de Benavente, 7 na freguesia de Samora Correia, 3 na freguesia de Santo Estêvão e 2 na freguesia de Salvaterra de Magos – e 75 feridos.

O profissional do IPMA realça que o mais recente terramoto “tem este impacto na população porque acontece perto das zonas habitadas”. E informa que, pelas 18h30, o instituto já havia recebido 850 testemunhos.

Ainda que o epicentro se tenha localizado a cerca de 10km a noroeste de Alcochete, o IPMA sabe que o abalo foi sentido, a norte, até Vila Franca de Xira, cidade ribatejana, e, a sul, na vila de Pavia, no concelho de Mora, no Alentejo.

Haverá razão para alarmismo?

“Existe atividade histórica relevante”, avança Fernando Carrilho, salientando que a ocorrência deste fenómeno “não é surpreendente”, apesar da atividade sísmica ”simplesmente não ser tão ativa quanto a Sul em que é um pouco mais elevada”.

Tal ocorre “porque estamos mais próximos da zona de fronteira das placas tectónicas, que se estende até aos Açores e, assim, geram-se mais sismos”.

“É expectável pelas nossas estimativas de distribuição de efeitos que tenha sido esse o impacto”, revela o engenheiro, esclarecendo que “apesar da magnitude ser baixa, é possível que ocorram réplicas”. De acordo com a escala de Richter, um sismo pequeno varia entre os 3,0 e os 3,9, é frequentemente sentido, mas raramente causa danos. Por ano, no mundo, são registados aproximadamente 49 000 terramotos com esta magnitude.

“Em janeiro, por exemplo, o sismo de 2.7, foi mais pequeno”, afirma, lembrando o abalo do último dia daquele mês, que foi sentido com maior intensidade na região dos concelhos de Oeiras e Cascais, e também Almada, sendo que o epicentro localizou-se a cerca de 10 km a sul de Oeiras, na zona do delta do Tejo. “À partida, as pessoas não se devem alarmar”, conclui o responsável do IPMA.

Reações nas redes sociais

Nas horas posteriores à ocorrência do sismo, que foi sentido pelas 9h51, as redes sociais encheram-se de relatos.

No grupo “Gosto e falo de Oeiras”, a título de exemplo, uma publicação atingiu os 200 comentários. “Senti o sismo, estava a trabalhar em Barcarena”, “Em Carnaxide fez-se sentir e bem” ou “Eu senti muito bem! Em Oeiras, a dez minutos da estação” são algumas respostas que se podem ler.

Por outro lado, no Twitter, as piadas não tardaram. “Ao que parece houve um sismo em Lisboa! Afinal o Nuno Graciano tinha razão! Lisboa teve um abanão e já o teve, agora a candidatura dele deixou de fazer sentido”, escreveu um internauta, brincando com as afirmações do candidato do Chega à Câmara de Lisboa Nuno Graciano que, na terça-feira, defendeu que a cidade tem “vários problemas muito graves” e precisa de um “abanão”.