Vítor Bento garante: “Não entrava no BES se tivesse mantido exigência de contas aprovadas”

O economista disse que depois da resolução “o balanço fica um bocadinho indefinido”, sendo encomendada uma auditoria à consultora PwC.

Para o antigo presidente do BES e do Novo Banco não há dúvidas: "provavelmente não teria entrado no BES caso tivesse mantido a exigência de ter as contas do primeiro semestre de 2014 aprovadas". A garantia foi dada esta terça-feira, no Parlamento, onde está ser ouvido pelos deputados na audição da comissão de inquérito ao Novo Banco.

"Provavelmente se eu tenho mantido a exigência de só entrar depois das contas aprovadas, não teria chegado a entrar", disse Vítor Bento, referindo-se às contas do BES do primeiro semestre de 2014, prejuízos de 3,6 mil milhões de euros.

O economista disse que depois da resolução "o balanço fica um bocadinho indefinido", sendo encomendada uma auditoria à consultora PwC.

"Só no final dessa auditoria é que se ficaria a conhecer verdadeiramente a valorização dos ativos que constavam do balanço. Até aí era um bocadinho uma situação, se me permite a expressão, de limbo quanto a essa valorização", respondeu à deputada Cecília Meireles (CDS-PP).

Vítor Bento lembrou que essa auditoria só foi conhecida em dezembro, já depois da sua saída, e já antes das contas terem sido apresentadas no final de julho, mês que "entre outras coisas trouxe uma desvalorização assinalável na participação na PT", de 106 milhões de euros, segundo a deputada centrista.

"Depois, o impacto das exposições indiretas, papel comercial, obrigações, etc… ainda não estavam devidamente clarificadas" relativamente ao seu impacto total, segundo Vítor Bento.

Anteriormente na audição, Vítor Bento já tinha dito que o capital inicial dotado para o Novo Banco [4,9 mil milhões de euros] "estava demasiado à pele" em termos do cumprimento dos rácios prudenciais.

"O facto de ter um capital demasiado à pele era negativo, por um lado, para o 'rating do banco, e sendo negativo para o 'rating do banco tinha uma influência negativa na avaliação que as contrapartes faziam da própria atividade do banco, e do risco que o banco representava para essas contrapartes", nomeadamente em linhas de crédito do mercado, "essenciais para a normalização" da instituição, segundo o antigo responsável.

"A primeira sensação que tive quando me foi colocada a resolução, e nos termos em que foi colcoada, é que o banco bom seria um banco normal, que seria gerido, recuperado e dentro dessa recuperação tentar fazer a sua valorização", tendo percebido no dia seguinte "que o cenário não era esse" no quadro da resolução.

Vítor Bento disse ainda que o interlocutor principal no Banco de Portugal foi o governador Carlos Costa, mas não nas semanas seguintes à resolução (3 de agosto).

"Nas primeiras semanas após a resolução tivemos muito pouco contacto direto com o senhor governador, porque ele entretanto tinha ido de férias, o que era compreensível, tinha tido um período muito desgastante para ele, portanto só voltámos ao contacto com o senhor governador no dia 20 de agosto", referiu.