Valentina terá sido morta após o pai descobrir que era abusada sexualmente, revela a madrasta

A criança terá confessado ao pai que o “padrinho”, um amigo da mãe, lhe mexia nas partes íntimas e lhe pedia para mexer nos seus genitais, em troca de passeios de bicicleta e “outras coisas”. Sandro quis saber mais sobre o caso e “começou a bater-lhe porque ela [Valentina] queria encobrir a situação e ele [Sandro]…

Sandro Bernardo e Márcia Monteiro, pai e madrasta de Valentina, estão a ser ouvidos, esta quarta-feira, na segunda sessão do julgamento no caso da morte da menina, no Auditório Municipal da Batalha. Ambos estão acusados de homicídio qualificado e profanação de cadáver. Márcia revela que a menina terá sido morta após o pai descobrir que era vítima de abusos sexuais por parte de um amigo da mãe.

Nesta sessão, foram reproduzidas as declarações da madrasta no primeiro interrogatório judicial. Márcia Monteiro começou por contar que, no dia do homicídio, o pai da criança encontrou, pelas 10h, uns "papelinhos" que Valentina "tinha feito com os amigos na escola", nos quais, segundo o pai, diziam para lhe mexer nas partes íntimas. Mais tarde, Sandro terá querido saber mais sobre o caso e "começou a bater-lhe porque ela [Valentina] queria encobrir a situação e ele [Sandro] queria saber [o que se passava]". 

"Ele primeiro bateu com a mão no rabo. Depois ela começou a chorar e eu coloquei-me no meio para ele não a agredir. Ela disse que também fazia com o padrinho", disse Márcia Monteiro.

A criança terá então dito que o "padrinho [um amigo da mãe] lhe mexia no 'pipi'" e que lhe pedia para tocar nos seus genitais, em troca de passeios de bicicleta e outras coisas. Não terá contado a ninguém com medo que se zangassem com ela, revelou a madrasta. Nesse momento, Sandro ficou "cego" e começou a bater-lhe cada vez com mais força.

"O Sandro ficou completamente cego. Vi-o a começar a bater novamente nela, com muita força e eu sempre a tentar separar e ele a levá-la para a casa de banho. Ele já estava a bater em todo o lado. No rabo, nas pernas, com a mão…", contou, acrescentando que Sandro estava a atirar água quente para os pés da criança e lhe pediu para parar, ao que lhe foi respondido que ele é que era o pai.

Depois de Valentina sair do chuveiro, a madrasta terá reparado que ela não estava bem e que não se conseguia mexer. "E eu vi. Parece que ela olhava para mim a pedir ajuda", contou. Sandro não quis chamar os bombeiros ou o INEM.

Já na cozinha, Valentina "não se segurava sozinha" na cadeira e desmaiou. Márcia conta que a reanimou e que ela voltou a respirar, deixaram-na no sofá, tapada com um cobertor, e foram almoçar. "Disse para pedirmos ajuda. Ele disse que ela ia ficar bem. Aconcheguei-a no sofá. Ela respirava, vi o cobertor a movimentar", revela.

Depois de almoço, o casal saiu para fazer compras e foi Raúl, de 13 anos, filho de Márcia, quem ficou a tomar conta de Valentina. Por volta das 17h, ligou à mãe a dizer que a menina "estava a espumar da boca". Quando chegaram a casa, Márcia insistiu para pedirem ajuda médica mas o pai diz que "já não há nada a fazer".

Márcia Monteiro revelou ainda que ajudou Sandro a vestir a menina porque ele a ameaçou, dizendo que, se não a ajudasse, ia dizer que ela tinha sido cúmplice. "O Sandro obrigou-me a vestir a menina. Ele disse que se eu não a vestisse…", afirmou.

"Ele já tinha na cabeça dele o que era para fazer. Quando eu desci, o Sandro já estava no pendura. Eu sentei-me, não quis ver nada. Só fiz o que ele mandou. Não olhei para trás. Foi o Sandro que me disse para onde íamos, para os lados de Ferrel. Eu ia o caminho todo a chorar, e ele a chorar também. Estávamos em pânico.", disse. 

A madrasta contou ainda que sofria de violência doméstica e que discutia com frequência com o marido. Sandro chamava-lhe nomes e dizia que, se ela um dia o traísse, a matava.