Tuberculose. “País de baixa incidência” mas ainda sem estar controlado

Diretora do Plano Nacional para a Tuberculose acredita que Portugal está a fazer “um bom percurso” apesar do atraso nos diagnósticos.

“A tuberculose em Portugal é algo que pretendíamos que já estivesse controlado neste momento”, começou por dizer a diretora do Plano Nacional para a Tuberculose da DGS, Isabel Carvalho. Apesar de não estar totalmente controlada, com uma média de 18 casos por cem mil habitantes, a médica acredita que se está “a fazer um bom percurso”, assim como acontece com os restantes países da União Europeia.

Ontem assinalou-se o Dia Mundial da Tuberculose e para marcar a data a Direção-Geral da Saúde (DGS) realizou um webinar – encontro online – onde revelou alguns números referentes ao ano 2019.

Com menos de 20 casos por cem mil habitantes, Portugal apresenta uma baixa incidência de casos de tuberculose, no entanto ainda tem um longo caminho pela frente.

Uma das principais conclusões reveladas pelo Relatório de Vigilância e Monitorização da Tuberculose foi de que a taxa de notificação tem vindo a decrescer mas o tempo que passa até se ser diagnosticado é elevado. Em 2019, este número equivaleu a 74 dias, sendo que no anterior foi de 79. Em dois terços dos casos, o atraso no diagnóstico acontece devido ao “atraso do utente na valorização dos sintomas e procura de cuidados de saúde e em um terço dos casos com a resposta dos cuidados de saúde”. A demora no aparecimento dos sintomas – tosse persistente, febre, sudorese, expetoração e cansaço – é mais um fator a considerar no diagnóstico tardio.

“Em 2019 foram notificados 1848 casos de tuberculose em Portugal (1886 em 2018), correspondendo a uma taxa de notificação de 18,0 por 100 mil habitantes em 2019 e de 18,4 por 100 mil habitantes em 2018. O decréscimo anual da taxa de notificação nos últimos cinco anos é de 3,9%/ano” , pode ler-se ainda no relatório.

Também a taxa de incidência, relativa ao número de novos casos, sofreu um decréscimo, ainda que de apenas 0,5% quando comparamos o ano de 2019 com o anterior, sendo que o número de novos casos no ano em análise foi de 1696 e de 1740 no ano antecedente.

As regiões mais afetadas são, como em anos anteriores, as de Lisboa e Vale do Tejo e a região Norte. Também o género mais infetado continuou a ser o masculino, representando 66,9% dos casos. A localização mais frequente da doença é nos pulmões, tendo, no entanto, sido notório um decréscimo em relação ao ano anterior (74,1% em 2019 e 70,5% em 2018). 79,9% dos casos notificados foram testados para HIV.

Depois do relatório ter sido apresentado, manifestou-se Ana Dinis, delegada regional adjunta da ARS de Lisboa e Vale do Tejo, que realçou o facto de Portugal se ter tornado “num país de baixa incidência” apesar de serem de notar “as desigualdades ao nível das regiões” e também dentro das próprias regiões relacionadas com as características sociais das populações.

139 anos depois da descoberta da tuberculose por Robert Koch, a doença ainda mata cerca de quatro mil pessoas por dia, sendo uma das dez principais causas de morte a nível mundial.

O Programa Nacional para a Tuberculose para 2021-2022 pretende prioritizar a “reorganização da resposta assistencial à tuberculose, a otimização das plataformas de notificação, a melhoria da literacia em tuberculose na população em geral e nos profissionais de saúde e, por fim, a interligação entre as várias estruturas da saúde e sociais, permitindo uma resposta integrada”.

Portugal pretende reduzir 90% dos casos até 2035, cumprindo assim a meta traçada pela Organização Mundial de Saúde.