Cabo Delgado. Extremistas islâmicos estão a controlar a cidade de Palma

Grupos armados assolam a capital de Cabo Delgado com atos violento e obrigaram centenas a fugir da região.

A cidade de Palma, capital da província de Cabo Delgado, no nordeste de Moçambique, está há três dias consecutivos a sofrer ataques de extremistas islâmicos que estarão a controlar a cidade deixando um rasto de morte e feridos, entre os quais está um português.

“As forças governamentais retiraram-se de Palma, assim que a cidade foi tomada pelos grupos armados extremistas”, relevou uma fonte à agência de notícias AFP, enquanto outra confirmou que os extremistas assumiram o controlo da cidade, acrescentando que os combates continuavam na região.

Um dos mais violentos exemplos destes confrontos foram os sete civis que foram assassinados, enquanto estavam a ser retirados de um hotel por uma coluna militar. Estes ataques tiveram início um dia depois de a companhia petrolífera francesa Total e o Governo moçambicano anunciarem “o regresso gradual à atividade nas instalações de liquefação de gás na península de Afungi”, escreve o Expresso.

Desde quinta-feira que centenas de trabalhadores ligados à petrolífera, que suspendeu as operações de exploração de gás no local, estão a ser resgatados desta cidade. Cabo Delgado é uma zona rica em petróleo, e a presença da petrolífera como uma das razões para o crescimento da insurgência islâmica. Muitos dos residentes reclamam que não beneficiaram das indústrias de combustível da província e tornam-se, por isso, alvo fácil do Estado Islâmico, que recruta soldados entre a população mais desfavorecida.

Face a estes desenvolvimentos, responsáveis da Total e do Governo moçambicano reuniram-se e decidiram que, uma vez que as Forças de Defesa e Segurança não conseguiram expulsar os extremistas islâmicos, a petrolífera deve instruir todos os funcionários a abandonar Cabo Delgado.

Este é o ataque mais violento junto aos projetos de gás após três anos e meio de insurgência armada à qual a sede de distrito tinha até agora sido poupada. A Comissão Nacional dos Direitos Humanos de Moçambique já pediu apoio para o resgate de cerca de 600 funcionários do Estado que estão nas proximidades de Palma.

Português ferido Durante a operação de resgate, um português ficou gravemente ferido e teve de ser transportado para Pemba, por via aérea, a partir do aeródromo do recinto do projeto de gás natural, na península de Afungi, para onde foi resgatado juntamente com outras pessoas, disseram à Lusa fontes que acompanham a situação. O português juntamente com cerca de 200 pessoas encontram-se refugiados no hotel Amarula, em Palma, desde quarta-feira à tarde, a partir do momento em que o ataque armado à vila começou.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, falou este domingo de manhã com a mulher do cidadão português ferido nos ataques à cidade de Palma, Moçambique, confirmando que não se encontra em perigo.

“O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa falou, esta manhã, com a esposa do nosso ferido naquele ataque, e que está a ser [retirado] para Joanesburgo para tratamento médico, sendo, felizmente, os ferimentos que sofreu menos graves do que o que se temia inicialmente”, pode ler-se numa nota divulgada na página da Presidência, onde também é referido que o Presidente “continua a acompanhar com preocupação a situação no norte de Moçambique, em particular na sequência do ataque terrorista à cidade de Palma, perto de Pemba”.

Para tentar auxiliar nesta crise humanitária, Portugal vai enviar tropas para treinar o exército moçambicano no combate ao terrorismo em Cabo Delgado. Em abril, chegarão 60 efetivos para colocar esta missão em prática.  

Barco com 1800 refugiados  Um barco com 1.800 pessoas que fugiram dos ataques terroristas em Palma está ao largo de Pemba, onde deverá atracar em breve. Segundo a mesma fonte, a embarcação partiu no sábado de Afungi com destino ao porto de Pemba, encontrando-se já ao largo da capital provincial de Cabo Delgado.

No porto de Pemba concentram-se já familiares das pessoas que viajam no barco, a maioria trabalhadores do projeto de gás natural da região, liderado pela petrolífera francesa Total. Destes, cerca de 200 expatriados, de várias nacionalidades, refugiaram-se no hotel Amarula, em Palma, desde quarta-feira à tarde, quando o ataque armado à vila começou. Um residente que, juntamente com outros, fugiu de Palma, disse que eram visíveis corpos de adultos e crianças assassinadas nas ruas da sede de distrito.