Centeno recusa “estender indiscriminadamente” as moratórias

Governador do Banco de Portugal diz que fazê-lo só traria “efeito ricochete” tanto para a banca como para os clientes.

O assunto moratórias tem estado na ordem do dia. Muitas terminam em breve e os partidos quiseram ouvir o governador do Banco de Portugal sobre este assunto. Mário Centeno defende que “estender indiscriminadamente sem o enquadramento da EBA [Autoridade Bancária Europeia] teria um efeito ricochete na atividade bancária e dos clientes muito significativo”.

Na audição parlamentar a pedido do Bloco de Esquerda, o ex-ministro das Finanças explica ainda que esse prolongamento seria “uma verdadeira armadilha para as empresas no futuro” porque levaria a incumprimentos na banca. Defende que as empresas ficariam “sem acesso a crédito bancário”.

O governador do Banco de Portugal diz que “não podemos correr o risco de ficar para trás quando o resto dos países europeus já está a adaptar-se a viver num conjunto de medidas que são posteriores, um cenário posterior à crise económica”.

“Desde outubro, tivemos um aumento no crédito à habitação de 242 milhões de euros na moratória pública e uma redução de 785 milhões de crédito na moratória privada”, diz Centeno, indicando que esses dados indicam alguma transferência.

Mário Centeno falou em números: “Durante o ano de 2020, o setor bancário aumentou as imparidades em dois mil milhões de euros, mais 44% do que em 2019, e essa foi a primeira resposta que os bancos deram na preparação para eventos de incumprimento que possam surgir”, disse, acrescentando que o rácio de crédito malparado (NPL) ficou abaixo de 5% em 2020.

Mas como é que os bancos devem interagir com os clientes com moratória? Mário Centeno não tem dúvidas que “a negociação tem de ser bilateral, a reestruturação de crédito tem de ser vista em ligação direta com os clientes”, acrescentando ter evidência que “os bancos estão a seguir muito de perto esta situação, desde logo as moratórias cujo fim se aproxima”.

“O acompanhamento tem de ser dessa forma e estou consciente de que temos de preparar, nos próximos meses, preparar a resposta que venha a ser necessária para o fim das moratórias públicas e isso depende muito da evolução da economia até esse momento e da forma que consigamos associar todas as medidas que existem e que venham a ser criadas para tal”, acrescentou Centeno.