Desconfinamento! E agora?

Como garantir que quem vai disparar a famosa ‘bazuca’ vai dar um tiro certeiro no ‘tanque’ que tem pela frente? E será ela suficiente?

por Carla Magalhães
Diretora da Licenciatura em Gestão e Desenvolvimento de Recursos Humanos da Universidade Lusófona do Porto

 

O Plano Oficial de Desconfinamento, anunciado no passado dia 11 de março, veio dar uma nova esperança ao país, mas não podemos desviar a nossa atenção do Plano de Recuperação e Resiliência, que prevê um conjunto de reformas e investimentos para alavancar o crescimento económico e tem um período de execução até 2026. Este Plano tem três dimensões estruturantes: Resiliência, Transição Climática e Transição Digital. Foquemo-nos nas que estão mais ligadas aos Recursos Humanos. A dimensão Resiliência é a mais transversal, centrando-se nas pessoas e no desenvolvimento do território e integra, entre outras variáveis, as Qualificações e Competências (1359 M€), prevendo-se a criação de 15 mil postos de trabalho qualificados. No caso da dimensão Transição Digital, esta aponta para a necessidade da (re)qualificação dos Recursos Humanos, com grande foco no digital. Dois dos objetivos aqui propostos passam por dotar cerca de 800 mil pessoas com competências digitais e requalificar cerca de 36 mil trabalhadores nessa matéria. A este nível, estão previstos 650 milhões de euros para que as empresas possam aproveitar todo o potencial da digitalização. É ainda de salientar que, no geral, estão previstos 4,6 mil milhões de euros destinados diretamente ao investimento nas empresas. Perante este cenário – e porque qualificar nunca é demais, porque somos todos contribuintes e cúmplices dos nossos governantes e porque todos esperamos que o tão desejado desconfinamento seja muito mais do que isso – ficam no ar as seguintes questões:

– Como assegurar o uso transparente e sustentável desses fundos, quer por parte dos órgãos públicos, que por parte do setor privado?

– Como garantir que até 2026 teremos 15 mil novos postos de trabalho, 800 mil novas pessoas com competências digitais e 36 mil trabalhadores requalificados?

– Para quando um Portal de Transparência? Será mesmo para abril? E, se assim for, como garantir a sua real transparência, através de mecanismos independentes de fiscalização da informação?

– Como garantir que os fundos não terão um mero efeito paliativo na nosso economia e, em vez de investirmos em inovação e em políticas estruturais de desenvolvimento da nossa indústria, não iremos apenas tapar algumas feridas que voltarão a abrir quando esses fundos terminarem?

– Como garantir que quem vai disparar a famosa ‘bazuca’ vai dar um tiro certeiro no ‘tanque’ que tem pela frente? E será ela suficiente? Se consideramos que o Plano de Reestruturação da TAP prevê 463 milhões – ‘que darão para uns meses’ – como garantir que em vez de uma ‘bazuca’ não necessitaremos de um canhão?

Se de facto queremos entrar num registo militar, quando nos referimos à ajuda vinda da Europa, então aproveitemos para fazer uso de outra expressão que muitas vezes é referida, mas tão poucas vezes é aplicada – Estratégia! Como um dia um certo estratego disse: «As oportunidades multiplicam-se à medida que são agarradas!».