O mamute de papel

Para que fosse digno da maior estrutura do seu tempo (um recorde que a Torre Eiffel deteve até 1930), a Taschen não podia fazer um livro qualquer.

Volta e meia, vinda sabe-se lá de que recônditos, assalta-me a ideia de que preciso absolutamente de um certo livro que não é fácil encontrar. Há uns meses (julgo que nas últimas férias de verão), isso passou-se com um álbum da Taschen sobre a Torre Eiffel que tinha visto há muitos anos. Lembrava-me do formato sobre o alto – e por causa disso até já sabia onde o ia arrumar, junto de um volume também ‘fora do baralho’ sobre arranha-céus. Iam fazer um belo par. Mas primeiro era preciso encontrá-lo.

Fiz então o que costumo fazer nestas situações. Fui ao OLX, a plataforma online de artigos usados, onde se encontra de tudo um pouco, e pesquisei por ‘Eiffel’. Apareceram-me ofertas de porta-chaves, pósteres, medalhas, bibelôs e até garrafas alusivas ao famoso monumento. E também dois ou três livros, mas não o que eu procurava.

Durante semanas fiz essa pesquisa, que me devolvia sempre os mesmos bibelôs, quinquilharias e livros sem interesse para mim. Não estava a ver grande saída, até porque, embora a Taschen seja conhecida pela relação imbatível qualidade-preço, este era um caso um pouco especial – não se encontra qualquer exemplar por menos de cento e tal euros e o envio, dadas as dimensões e o peso, também não fica barato.

Até que se me fez luz. Eu tinha sempre procurado por Eiffel, por achar que quem quisesse colocar o livro à venda não poderia fugir a essa palavra, mas o título exato era La Tour de 300 Mètres (A torre de 300 metros). Por que não tentar? Fiz uma pesquisa por ‘tour 300’ ainda que sem grande fezada, confesso. E eis que se materializa o livro desejado. Parecia verdadeiramente um golpe de magia. Ainda por cima, o preço era consideravelmente mais simpático do que o mais barato que alguma vez tinha visto em livrarias online internacionais.

La Tour de 300 Mètres é na realidade uma reedição do livro que Gustave Eiffel publicou em 1900 numa tiragem limitada a 500 exemplares, com fotografias da construção da torre e as 53 pranchas de desenhos técnicos do projeto. As ilustrações mostram em grande detalhe a ‘ossatura metálica’, os ascensores, os restaurantes (francês, inglês, russo), etc.

Para que fosse digno da maior estrutura do mundo do seu tempo (um recorde que deteve até 1930, quando foi concluído o Chrysler Building, em Nova Iorque), a Taschen não podia fazer um livro qualquer. Com cerca de 60cm de altura, a escala de La Tour de 300 Mètres faz lembrar a de um cartaz. Ao seu lado, mesmo um volume de dimensões generosas (como aquele dedicado aos arranha-céus junto ao qual eu tinha pensado arrumá-lo) parece quase insignificante.

Não tem 300 metros como a famosa torre, é verdade, nem sequer três, como alegadamente terá o livro mais alto do mundo. Mesmo assim, não há estante onde caiba. La Tour de 300 Mètres é de longe o maior exemplar da minha biblioteca e um dos troféus mais prezados. Se outros volumes pesam como elefantes, este bem poderia receber o título de ‘mamute de papel’.