Os apparatchiks rosas

Há, na comunicação social, jornalistas que se comportam como verdadeiros apparatchiks.

Nada como começar com uma nota divertida. Esta semana assistimos na SIC a um momento hilariante, onde Porfírio Silva se recusava a responder às perguntas do jornalista Miguel Ribeiro, que acabou por perder a paciência com a cassete do deputado do PS. Miguel Ribeiro, depois de insistir várias vezes para o parlamentar responder à questão da falta de apoios sociais, percebeu que Porfírio Silva não queria responder diretamente à pergunta, optando antes por fazer propaganda política.

Não sei se no lugar de Miguel Ribeiro teria acabado daquela forma, falando no incómodo, mas certamente que teria acabado com aquela palhaçada. E o jornalista da SIC merece o aplauso porque, ao contrário de tantos outros, não faz parte da clique de lacaios do Governo, que fazem muitos sorrisos para desmentirem as notícias desfavoráveis ao Executivo de António Costa ou dos seus autarcas e institutos governamentais. Há, na comunicação social, jornalistas que se comportam como verdadeiros apparatchiks. O que é lamentável, mas basta ver de onde vieram e onde estão. Calculo que tenham entregue o cartão de militante antes de terem regressado ao jornalismo ativo, mas nunca se sabe. São uns seres pequeninos e desprezíveis.

Por isso, parabéns a Miguel Ribeiro que desligou o microfone a um deputado que poderá, seguramente, vir a fazer parte de algum conselho da RTP, talvez ao lado de Arons de Carvalho – fariam seguramente uma grande dupla.

Continuando em histórias divertidas, no dia 3 de março, na Assembleia da República, toda a oposição (!) votou três diplomas de apoio social urgente para sócios-gerentes e trabalhadores independentes, profissionais de saúde e pais em teletrabalho com filhos em casa. Leu bem: o PCP votou ao lado do Chega, da Iniciativa Liberal, do CDS, do PSD, do PAN, das deputadas não inscritas e, claro, do BE.

Os diplomas chegaram às mãos de Marcelo Rebelo de Sousa que disse de sua justiça: «A decisão do Presidente da República relativamente a três diplomas da Assembleia da República, adotando medidas sociais urgentes para a situação pandémica vivida, um deles sem qualquer voto contra e os outros dois com o voto favorável de todos os partidos parlamentares, salvo o do partido do Governo, invocando este a inconstitucionalidade dos diplomas, funda-se nas seguintes razões…».

Marcelo apontou as razões para promulgar os diplomas, deixando a porta aberta ao Governo para recorrer para o Tribunal Constitucional. Muitos constitucionalistas disseram que a aprovação de Marcelo era inconstitucional e Costa foi na conversa, explicando ontem porque não aceita a decisão do Presidente.

Acontece que o primeiro-ministro está a entrar num campo completamente minado, pois no próximo Orçamento do Estado será natural que todos os partidos da oposição queiram que fique assente a despesa que Costa não quer fazer agora. E se for aprovado no Orçamento do Estado não há lei-travão que belisque a medida. Além disso, o primeiro-ministro fez um enorme buraco no chapéu de chuva institucional, pois Marcelo não costuma esquecer-se das afrontas que lhe fazem em público e não tardará a deixar Costa bem à chuva. Parece evidente que o primeiro-ministro não percebeu que não tem maioria absoluta e que estas embirrações, por causa de 40 milhões de euros mensais, lhe poderão sair muito caros.

P.S. Tenho total repugnância pela extrema-direita como tenho pela extrema-esquerda. Mas ainda não percebi a razão de se ter apresentado o Relatório Anual de Segurança Interna e a maioria só ter destacado os perigos da união da extrema-direita com os negacionistas da pandemia. O SIS, e bem, tem fiscalizado esses movimentos, mas no referido relatório ninguém leu que há o perigo de grupos anarquistas poderem desenvolver «atividade terrorista de baixa intensidade»? E de a extrema-esquerda ter como objetivo, por vezes, de recorrer a «ações de cariz violento»? É estranho que não se tenha falado…

vitor.rainho@sol.pt