RTP: A estratégia da administração

Ao longo de 34 páginas, a administração da estação pública – Nicolau Santos e Hugo Figueiredo – fala nos planos para o futuro. Trabalhadores não estão convencidos da escolha da CGI.

As 34 páginas de plano estratégico elaboradas por Nicolau Santos e Hugo Figueiredo – membros do novo Conselho de Administração da RTP – convenceram o Conselho Geral Independente (CGI) mas não convencem os trabalhadores da estação pública.

O documento, a que o Nascer do SOL teve acesso, tem como tema As mãos no presente e os olhos no futuro e é dividido em cinco pontos principais – Mais qualidade e inovação nos conteúdos; Estar mais perto das pessoas; Investir em tecnologia digital multiplataforma; Uma organização em sintonia com a atualidade e Ações – depois completados por subtemas.

E é exatamente com os olhos no futuro que esta dupla quer melhorar a RTP, uma vez que defende que o projeto apresentado «coloca o seu enfoque no que é preciso assegurar para concretizar essa mudança. Uma mudança que se inicia agora, para conquistar os públicos de amanhã».

Nicolau Santos – que vem da presidência da Lusa – e Hugo Figueiredo – que já fazia parte do Conselho de Administração anterior – detalham vários fatores importantes para o desenvolvimento da RTP. 

Para começar, a dupla diz que «a informação tem de ser vista como um traço distintivo da RTP». uma vez que «só isso permitirá manter e reforçar a relação de confiança com todos os públicos». Públicos dos quais também fazem parte os jovens, aqueles que a estação define como o «calcanhar de aquiles» de todos os operadores tradicionais. Por isso, a ideia é «estar onde estão os jovens e com o que lhes interessa».

No que diz respeito aos canais, os autores do projeto defendem que a RTP1 «deve continuar a juntar pessoas».  A proposta passa então por «aumentar a diversidade e o rigor da informação. Mais filmes e séries, mais documentários. Mais programas para as famílias. Mais humor». Já a RTP Memória é uma incógnita. «A revisitar no âmbito do novo contrato de concessão. A transformar numa RTP 4 em articulação com a RTP 2?». 

Para os canais, a sugestão é simples: mais conteúdos, mais desporto, mais cultura, mais política, mais conteúdos.
As mudanças deverão contar ainda, segundo a proposta, com um investimento em tecnologia digital multiplataforma. Tudo com a promessa de «manter gestão equilibrada das receitas, custos e investimentos, divulgar as atividades de gestão e tornar facilmente acessíveis os respetivos indicadores e relatórios».

Em reação ao projeto, a Comissão de Trabalhadores da estação pública, em comunicado, falou na possível extinção da RTP Memória – assunto para o qual já tinha alertado –, descrevendo o canal como «um dos poucos projetos que, nos últimos anos, renasceu com vitalidade e criatividade tendo como aliado o maior tesouro da RTP que é o seu arquivo de imagens, a memória de grande parte do século XX».

No entanto, os trabalhadores dizem saber que «é necessário reduzir a nada a RTP Memória devido a compromissos já assumidos pelo Governo, que têm a ver com o alargamento da Televisão Digital Terrestre (TDT) no âmbito do 5G e com a consequente entrada na TDT de dois novos canais: RTP África e Canal Conhecimento».

Quanto às promessas do novo CA, os trabalhadores não têm dúvidas: «Mais promessas vãs, acrescentamos nós». Os trabalhadores comentaram ainda o título do documento e aconselham «a nova administração a pôr os pés no chão até porque, admitem os autores do documento, ‘longo e pedregoso’ será o caminho».