Esplanadas: corrida por um lugar

A abertura das esplanadas foi uma lufada de ar fresco para o setor da restauração. Mas a procura foi tal, que são já muitos os que estão a marcar horários ou a rejeitar pessoas.

Esplanadas: corrida por um lugar

A abertura das esplanadas era um dos regressos mais aguardados desta segunda fase de desconfinamento. Um pouco por todo o país, milhares de portugueses aproveitaram as esplanadas – principalmente no primeiro dia mas a procura manteve-se elevada durante a semana – para aproveitar o sol e voltar a usufruir deste espaço tão requisitado nesta altura do ano.

A vontade de regressar foi tanta que muitos são os restaurantes, sabe o Nascer do Sol, que começaram a limitar os espaços ou a ter de marcar horários para receber clientes. «É bom podermos ter os nossos clientes de volta», diz a proprietária de um restaurante em Lisboa que prefere não ser identificada. «Mas a hora de almoço, por exemplo, é igual para muitos e não há espaço para todos». Por isso, começou a aceitar algumas reservas para evitar aglomerados.
«E há alguns clientes que ficam chateados porque queriam comer, chegam aqui e acabam por não ter espaço porque a esplanada está cheia, dentro dos limites». A solução é esperar e, diz, muitos «não estão para isso». No entanto, esta proprietária assume que a abertura «é melhor que nada» e que é um passo, ainda que pequeno, para a melhoria do negócio.

Ainda assim, não deixa de mostrar alguma «preocupação» pois diz perceber que muitos não cumprem regras e que, «por uns, podem vir a pagar todos».

Numa ronda feita pelo nosso jornal foi possível concluir que para marcar lugar seria preciso antecipar ou adiar a hora de almoço. Um cenário que se repete à noite, uma vez que, os estabelecimentos são obrigados a encerrar às 22h30 e às 13h durante o fim de semana.

Mas se há quem arranje este género de soluções para evitar aglomerados, nem todos o fazem, o que levou o ministro da Administração Interna a garantir que quem não cumpre, será penalizado, podendo mesmo ter de encerrar. Para isso existirá um reforço de fiscalização.

Aliás, na última quinta-feira, a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) encerrou quatro estabelecimentos e instaurou 21 processos de contraordenação, no seguimento de uma ação de fiscalização a 194 operadores económicos em vários municípios, designada Operação Esplanada Segura.

Em comunicado, a ASAE avançou que a ação decorreu nos concelhos de Porto, Matosinhos, Chaves, Tarouca, Barcelos, Coimbra, Aveiro, Ílhavo, Mira, Castelo Branco, Figueira da Foz, Viseu, Guarda, Lisboa, Cascais, Oeiras, Évora, Loulé e Olhão.

O objetivo das 26 brigadas que estiveram no terreno era verificar o cumprimento dos requisitos legais estabelecidos para os estabelecimentos de restauração e bebidas e similares.

Cumprimento de regras para não haver retrocesso

Apesar destes casos, a Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) elogia clientes e empresas pelo cumprimento das regras sanitárias. No entanto, a associação apela a que todos cumpram as regras, «nomeadamente o distanciamento, o limite de pessoas por mesa, a utilização de máscara quando não se está a consumir, a desinfeção permanente das mãos, dos materiais e das zonas comuns», essenciais para que não se dê um passo atrás e os espaços voltem a fechar portas, «o que seria desastroso para todos nós». 

Ainda assim, há vários empresários do setor que se mostram preocupados pelo facto de muitos clientes não usarem máscara nas esplanadas e pedem ao Governo que clarifique as regras. «Nos últimos dias observámos o que estava a acontecer. Recebemos esta preocupação dos estabelecimentos da restauração e do comércio em geral. Na restauração tem a ver com o uso das máscaras e com o facto de os clientes não estarem a respeitar o pedido, e muitos empresários estão a pedir, que sempre que não estejam a consumir mantenham a máscara colocada. (…) Por isso, pedimos uma clarificação das regras de forma urgente para que se possa evitar um retrocesso no desconfinamento», disse à Lusa, Daniel Serra, presidente da Associação Nacional de Restaurantes, a Pro.var.

O responsável explicou ainda que um terço dos estabelecimentos está a operar e os restantes dois terços aguarda pelas próximas fases do desconfinamento – 19 de abril e 3 de maio – para poder voltar à normalidade. «Os empresários estão com o coração nas mãos porque não conseguem impor essa questão e muitos clientes quase de forma inconsciente acabam por incumprir», disse ainda.

‘Restauração precisa do apoio dos clientes’

Quem também se mostrou satisfeita com a reabertura das esplanadas foi a Associação Portuguesa de Hotelaria, Restauração e Turismo (APHORT) mas defende, ainda assim, que deve haver uma «necessidade urgente» de os clientes manterem um «comportamento responsável» no que diz respeito ao cumprimento das medidas de higiene e segurança.

«Estamos contentes com este regresso dos nossos clientes, queremos, obviamente, recebê-los nas nossas esplanadas, mas queremos poder continuar a fazê-lo durante muito tempo», diz Rodrigo Pinto de Barros, presidente da APHORT. «Nesse sentido,  é imperativo que as pessoas sejam cumpridoras e não facilitem porque, efetivamente, a pandemia ainda não passou e um eventual agravar da situação poderá obrigar-nos a recuar neste desconfinamento», acrescenta.

O responsável não tem dúvidas que «uma nova interrupção prolongada da atividade da restauração não será sustentável pelo que, mais do que apoios do Governo, precisamos agora do apoio e da colaboração de todos os clientes».

Recorde-se que a abertura das esplanadas fez parte da segunda fase do plano de desconfinamento mas os restaurantes ainda não estão a funcionar na normalidade. Se tudo correr como previsto, a 19 de abril os espaços deste setor podem aceitar, por mesa, quatro pessoas no interior e seis em esplanadas – agora são quatro. Mas a 3 de maio, a última fase do plano de desconfinamento, prevê máximo de seis pessoas por mesa no interior e 10 em esplanadas, sem limite de horários.