Sócrates prepara regresso com críticas à direção do PS

Ex-primeiro-ministro ataca “vigarice judicial” e insiste que o objetivo foi afastá-lo da vida política.

José Sócrates defende que “a Operação Marquês foi a Lavo Jato portuguesa”. Num artigo publicado no jornal brasileiro Folha de São Paulo, o ex-primeiro-ministro compara os dois casos e afirma que “o sistema judicial português foi manipulado para perseguir um adversário político”. 

O ex-primeiro-ministro explica que, quase sete anos depois de ter sido preso, a Justiça portuguesa confirmou que “a acusação, no que diz respeito à mais grave acusação de corrupção, não tem indícios, não tem provas, não tem fundamento”.

Sócrates conta que foi detido, em novembro de 2014, com “as emissoras de TV ao vivo”, e volta a garantir que este processo surgiu com o objetivo de impedir a sua candidatura à Presidência da República. “No Brasil, a Lava Jato afastou o PT do poder. Em Portugal, o processo Marquês impediu o Partido Socialistas de ganhar as eleições em 2015 e permitiu que o novo Presidente se candidatasse sem ter adversário apoiado pelo Partido Socialista”. 

Em 2016, o PS decidiu não apoiar oficialmente nenhum candidato nas eleições presidenciais. António Costa limitou-se a apelar aos socialistas para que se mobilizassem à volta das candidaturas de Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém. 
“Entendamo-nos bem. Nada disto foi um erro judicial, mas uma vigarice judicial. Tudo isto foi intencional, planeado e devidamente arquitetado. Aí e aqui, o mesmo método”, acrescenta.

“Só agora começou” José Sócrates está, há algum tempo, a preparar o seu regresso e vai lançar em breve um livro sobre o processo judicial com o título Só agora começou. O prefácio é de Dilma Rousseff. 

No livro, o ex-líder socialista tenta desmontar a tese do Ministério Público e ataca a direção do partido por não ter o ter apoiado durante este processo. “Durante estes quatro anos não ouvi por parte da direção do PS uma palavra de condenação desta prepotência. Encontrei nos militantes do PS um apoio e um companheirismo que não esquecerei. Mas a injustiça que agora a direção do PS comete comigo, juntando-se à direita política na tentativa de criminalizar uma governação, ultrapassa os limites do que é aceitável no convívio pessoal e político”, escreve Sócrates, num excerto divulgado pela TVI24. 

José Sócrates desfiliou-se do partido em maio de 2018. A decisão foi tomada depois de vários dirigentes socialistas terem assumido que a atuação do ex-primeiro-ministro e de Manuel Pinho os “envergonhava”.

Quando Sócrates foi detido, em Évora, recebeu a visita de vários socialistas, mas com o tempo foi perdendo esse apoio e acabou por abandonar o partido que liderou para “pôr fim a este embaraço mútuo”. Neste novo livro dedica várias páginas a criticar “o silêncio do PS”.