Número de casos de covid-19 em crianças está a aumentar

Segundo a Direção-Geral da Saúde, há uma tendência crescente de casos no grupo etário dos 0 aos 9 anos, algo que, para o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, está relacionado com a abertura das escolas.

Realizou-se, esta terça-feira, uma nova reunião do Governo com especialistas do Infarmed. Segundo a Direção-Geral da Saúde, há uma tendência crescente de casos no grupo etário dos 0 aos 9 anos, algo que, para o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, está relacionado com a abertura das escolas. Destaca-se ainda a "tendência de decréscimo nas hospitalizações e mortalidade". No entanto, os casos podem duplicar em 30 dias e todo o país ficar na "zona laranja", com 120 novos casos por 100 mil habitantes. Vacinação já terá prevenido 78 a 140 mortes.

DGS: Incidência moderada, tendência crescente e 636 mil portugueses em concelhos com maior risco

André Peralta Santos, diretor dos serviços de informação e análise da Direção Geral da Saúde, deu início à reunião. O país continua numa situação de incidência moderada, com uma incidência cumulativa a 14 dias de 71 casos por 100 mil habitantes, com uma tendência que de subida de infeções que a DGS classifica como ligeira.

Algarve e Alentejo com maior tendência de aumento de casos. São 22 os concelhos acima do limiar de 120 casos por 100 mil habitantes, o patamar de risco elevado definido pelos especialistas e adoptado pelo Governo para monitorização do desconfinamento. Nestes concelhos vivem 636 mil portugueses, indicou Peralta Santos.

Casos aumentam em crianças em especial em Lisboa e Vale do Tejo e Grande Porto

Segundo a análise da DGS, começa a verificar-se um aumento de casos nas diferentes faixas etárias, com excepção dos maiores de 80. Peralta Santos destacou a tendência crescente no grupo etário dos 0 aos 9, destancando que é mais intenso em Lisboa e Vale do Tejo e no grande Porto. "Já se começa a esboçar um aumento na população dos 25 aos 50 e 55, o que traduz população ativa", salientou.

Pela primeira vez foi apresentado nestas reuniões do Infarmed um gráfico com a situação nos lares, onde há atualmente 121 casos de covid-19 ativos. Em fevereiro, chegaram a ser mais de 12 mil casos ativos nos lares, balanço noticiado na altura pelo i.

Testagem aumentou na semana após a Páscoa

A testagem segue um padrão em que concelhos com maior incidência têm maior testagem, disse André Peralta Santos, salientando o aumento da testagem da semana da Páscoa para a anterior. Na maioria do país a taxa de positividade está abaixo de 4%, a linha vermelha definida pelos peritos a partir das recomendações internacionais sobre este indicador, havendo concelhos esporádicos onde é superior.

"Com o intensificar da procura de vírus na comunidade há um aumento da incidência e o que se espera é que esta procura depois se traduza numa diminuição da incidência", disse ainda Peralta Santos, dando o exemplo de alguns concelhos com incidência mais elevada nas últimas semanas.

"Mantém-se tendência de decréscimo nas hospitalizações e mortalidade"

Como mensagens finais, Peralta Santos salientou a inversão da tendência de descida de casos, nomeadamente nos mais novos, sublinhando que se mantém nos maiores de 80. "Mantém-se tendência de decréscimo nas hospitalizações e mortalidade", indicou também o responsável da DGS, não fazendo considerações sobre uma avaliação da segunda etapa de desconfinamento ou sobre a próxima, que o Governo decidirá esta semana.

INSA: RT de 1,09 no último dia com dados. Casos podem duplicar em 30 dias, tempo está a encurtar

Baltazar Nunes, responsável pela análise epidemiológico no Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, começa a apresentar o ponto de situação com a confirmação de que o país está numa "inversão da tendência", tendo entrado numa fase de crescimento de casos Na última reunião do Infarmed há três semanas o país estava com um RT de 0,9. Atualmente, na média dos últimos cinco dias, situou-se em 0,05, sendo no último dia da análise 1,09. O tempo de duplicação de casos é estimado em 35 dias. Na última reunião, a tendência era que num mês os casos baixassem para metade, portanto o cenário mudou diametralmente.

País pode levar duas semanas a um mês a ficar todo na zona laranja – 120 casos por 100 mil habitantes

Tendo em conta a atual taxa de crescimento de casos, o INSA calcula que dentro de duas semanas a um mês o país possa chegar todo ao limiar de 120 casos por 100 mil habitantes. Atualmente, apenas o Algarve está acima deste patamar. "Todas as regiões estão com Rt cima de 1, excepto Lisboa e Vale do Tejo, onde é de 0,99, pelo que o expectável é que todas possam chegar ao patamar de 120 casos por 100 mil habitantes dentro 15 dias a um mês", disse Baltazar Nunes.

INSA liga a abertura das escolas a aumento de casos nas crianças

Baltazar Nunes apresentou uma comparação entre a incidência por faixa etária após a abertura nas escolas no início do ano letivo e agora neste início do desconfinamento. Na altura, a abertura das escolas intensificou um aumento da incidência de novos casos que já se verificava desde o verão. Agora, o INSA associa a abertura das escolas a inversão de tendência de descida de casos nesta faixas etárias, desde logo crianças com menos de seis anos e mais recentemente nas crianças mais velhas.

Vacinação já terá prevenido 78 a 140 mortes

Baltazar Nunes apresentou os resultados de uma simulação matemática do que podem ter sido até aqui os impactos da vacinação.

A equipa do INSA conclui que a partir do momento em que se atingiu uma cobertura vacinal de 60% no grupo dos idosos com maiores de 80, a incidência de novos casos neste grupo etário que habitualmente seguia a de outras faixas etárias começou a ser 1,4% inferior em relação ao grupo dos 70 anos e 4% em relação aos 60 anos. Os investigadores analisaram dois impactos para o que terá sido o impacto da vacinação. Estimam que num cenário de impacto mais ligeiro, a vacina contribuiu para haver menos 3% de doentes em UCI, menos 9% em enfermarias e 78 mortes. Num cenário de maior impacto da vacina na redução da incidência, que neste período reduziu também por força do confinamento, poderão ter sido prevenidas 140 mortes. "Observa-se um impacto da vacinação na redução da incidência, que é significativa quando se compara o grupo dos 80 anos com o grupo dos 70 anos."

INSA defende priorização da vacina nos grupos mais frágeis, acima dos 65 anos

Nos comentários finais, Baltazar Nunes defendeu que os próximos passos devem ter em conta não só a situação epidemiológica nacional e por concelho mas também por faixa etária. O especialista defendeu que nesta fase, para compensar subida de casos, deve ser reforçada a testagem, rastreio de casos e voltou a um dos temas que tem motivado discussão no país: para Baltazar Nunes, as vacinas devem ser priorizadas para os mais frágeis, acima dos 65 anos. Recorde-se que o atual plano de vacinação reserva 10% das vacinas para trabalhadores essenciais, estando em curso a vacinação de professores e pessoal não docente, que será retomada já no próximo fim de semana.

Algarve e Madeira com maior prevalência da variante do Reino Unido

João Paulo Gomes, do INSA, fez o ponto de situação sobre as variantes do SARS-CoV-2 que circulam em Portugal. A variante inglesa domina a epidemia, com mais de 80% dos casos em março. A prevalência no entanto não é igual em todas as regiões e é maior no Algarve e na Madeira.

Em relação às outras variantes de maior preocupação, a sul-africana teve um "crescimento significativo", com 53 casos confirmados, quando na última reunião eram 24 e é a que suscita maior preocupação. Em março, representou 2,5% dos casos de uma amostra analisada, o que leva o especialista a estimar que na primeira quinzena de março terá havido 200 casos. Para já, os 53 casos são menos que os mais de 600 na Alemanha e 500 em França, mas o especialista salienta que também nestes países os casos confirmados não representam a totalidade dos casos, que serão milhares. Em vários países europeus tem havido um duplicar ou triplicar de casos desta variante. "Temos de estar muito atentos ao controlo de fronteiras para tentar perceber se há um descontrolo desta variante importante não só em termos epidemiológicos como clínicos por poder estar associada a falhas vacinas", disse, alertando que a maioria dos casos em Portugal terão sido introduções a partir de Espanha e diretamente de África do Sul.

Em relação às variantes brasileiras, João Paulo Gomes destacou boas notícias: não tem havido um aumento expressivo, o que considerou inesperado até dadas as ligações de Portugal ao Brasil. "Temos níveis residuais, o que é excelente para nós".

Especialista propõe indicador para ajustar incidência por concelho

Óscar Felgueiras, investigador da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e um dos autores da proposta de desconfinamento pedida pelo Governo, apresentou um modelo para avaliar o risco local. Na apresentação do plano, o matemático especialista em epidemiologia que tem trabalhado na resposta à pandemia na Administração Regional de Saúde do Norte, já tinha defendido que fosse usada uma correção da incidênca por concelho, por forma a refletir o risco de concelhos vizinhos de uns para os outros e suavizar situações em que concelhos mais pequenos, com poucos casos, passam muito precocemente para patamares de incidência elevado. "Um dos problemas da consideração da incidência concelhia como indicador único é por vezes haver pequenos concelhos onde o número de casos não muito grande é o suficiente para ter a incidência muito alta", explicou, dando o exemplo Vimioso: está com uma incidência cumulativa a 14 dias de 249 casos por 100 mil habitantes, o reflete 10 casos por 4 mil habitantes. "Se tivermos em consideração a sua vizinhança, 4 concelhos vizinhos, nesta região existem 36 casos para 67 mil habitantes. Se considerássemos a região, teríamos uma incidência de 53 casos por 100 mil habitantes." O investigador defendeu que as vantagens são sinalizar o risco associado à proximidade de zonas mais críticas, evitada a sobrevalorização de surtos em meios mais pequenos e favorecer uma maior continuidade geográfica neste indicador, notando também que existe a desvantagem de suavizar em excesso o risco em alguns casos.

A proposta do investigador para ajustar a incidência seria assim uma média da incidência concelhia e da incidência de vizinhança. Aplicando o indicador, alguns concelhos deixam de estar na zona de risco, mantendo-se o alerta no Alentejo, Algarve. Por exemplo Portimão, que a 10 de abril estava com uma incidência cumulativa a 14 dias de 371 casos por 100 mil habitantes, a incidência no universo de concelhos vizinhos é de 179 casos por 100 mil habitantes e fazendo então uma média, a incidência ajustada será 229 casos por 100 mil habitantes, o que leva a manter o concelho no nível de risco, explicou Óscar Felgueiras, que além de Algarve e Alentejo chamou ainda atenção para o aumento da incidência na zona do grande Porto.

Estudo define áreas críticas da pandemia no país

Carla Nunes, epidemiologista e diretora da Escola Nacional de Saúde Pública, apresentou uma análise das zonas críticas da pandemia no país, estudadas pela primeira vez. Ao longo das 57 semanas da pandemia, Grande Lisboa, Grande Porto, Nordeste transmontano, Moura e concelhos adjacentes no Alentejo foram as zonas que sistematicamente atingiram incidências mais elevadas ou incidências mais vezes acima do que era expectável dada a média nacional. Os períodos com maior dispersão foram o período de maior estabilidade no verão e na última vaga, ainda que com patamares de incidência muito distintos.

A mesma metodologia permite à equipa classificar clusters de risco espacial, o que fizeram para as últimas cinco semanas agrupando concelhos onde o risco relativo era superior a 2, duas vezes o esperado. "Conseguimos identificar a área mais crítica, as suas vizinhanças e perceber gravidades distintas dentro do mesmo cluster. Por exemplo Odemira na semana de 8 a 14 de março tinha um risco relativo de 4,78, quase cinco vezes mais olhando para o seu complementar, e vemos esse cluster a aumentar, esse mesmo concelho com 6,78 a aumentar e vemos a evolução ao longo do tempo", explicou Carla Nunes. "Para se perceber as causas destas áreas críticas será sempre necessário informação local, envolvendo diferentes parceiros", defendeu no final da apresentação a especialista.

Henrique Barros defende rede sentinela nas escolas

Henrique Barros, epidemiologista e presidente do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), faz uma apresentação sobre a evolução da covid-19 e escolas, que defende que são ambientes seguros.

O especialista começou por assinalar que, após a subida de casos nas crianças em março, está a desacelerar o aumento de casos nas crianças mais novas e aumentar nas restantes faixas etárias, excepto nos mais velhos. "O cerco vacinal que está a vir dos mais velhos para os mais novos deixa estas idades como as idades susceptíveis para a circulação do vírus", afirmou.

Henrique Barros apresentou o resultado de uma análise em dois agrupamentos escolares em Santa Maria da Feira e Paredes, com 1129 estudantes e 210 professores. Em ambas as escolas, mais de 20% das pessoas estudadas tinham anticorpos para o SARS-CoV-2, o que sugere uma prevalência de infeção semelhante nos últimos meses. Já em relação aos casos diagnosticados, a proporção das pessoas que tinham tido um diagnóstico foi mais alta numa escola do que noutra e a diferença entre estudantes e professores era mais marcada do que nos resultados das análises serológicas. "Isto prova um aspecto importante que tem a ver com a frequência de utilização de testes que pesquisam a infeção", disse Henrique Barros, que acredita assim que as diferenças nos diagnósticos se devem à menor ou maior testagem.

O investigador salientou que embora o peso da infeção nas escolas ter sido semelhante, nas duas escolas houve uma enorme variabilidade entre turmas, o que conclui que alerta para o papel de medidas de mitigação e para a possibilidade das infeções não estarem a acontecer no espaço escolar mas com contactos de fora, o que também sugere o estudo que fizeram. A probabilidade de estar infetado era maior em quem tinha tido um contacto de risco exterior à escola. O investigador propõe uma rede de escolas sentinela que permita acompanhar o que se passa nestes contextos para medidas mais atempadas.

Task-force de vacinação espera 1,9 milhões de vacinas em abril. Estratégia passa a ser "sequenciação etária pura"

Henrique Gouveia e Melo anunciou que está a ser ponderada uma nova estratégia de vacinação, "colapsando" a fase 2 com a fase 3 de vacinação, ou seja, começando gradualmente a chamar pessoas da fase 2 e da fase 3. O critério principal será a idade, com 90% das vacinas a ser dadas por ordem descrescente de idade e 10% das vacinas reservadas para doenças que conferem maior risco independentemente de as pessoas serem mais velhas ou não.

"No mês de abril teremos disponíveis 1,9 milhões de vacinas para administrar à população portuguesa", indicou o coordenador da task-force, apontando para uma média de 100 mil vacinas por dia neste trimestre. Mais de 15% da população já tem a primeira dose e mais de 6% a segunda dose.

A fase 2 está já a avançar e a fase 1 está quase concluída, sendo esta semana a transição para a nova estratégia. O responsável admite que os cálculos da pessoas a vacinar foram feitos por excesso, pelo que a cobertura pode ser maior do que a calculada, com mais de 90% dos maiores de 80 com a primeira dose e maiores de 50 com doenças prioritárias também acima de 80%, profissionais de saúde quase todos e professores e pessoal não escolar até ao secundário ficará também quase todo vacinado.

Já foram vacinadas 400 mil pessoas da fase 2 e continuarão a ser chamadas por idade, atualmente estão a ser chamados septuagenários, o que Gouveia e Melo descreve então com uma "sequenciação etária pura", por vista a obter mais fluidez. Os grupos alvo são de dez em dez anos.

Todas as pessoas com mais de 60 vão poder fazer a vacina até à última semana de maio/junho

O coordenador da task-force adiantou ainda novas metas: Henrique Gouveia e Melo indicou que entre a última semana de maio e primeira semana de junho espera-se que todas as pessoas com mais de 60 anos já tenham recebido pelo menos a primeira dose da vacina, " o que nos dá alguma segurança". Até julho e agosto a expectativa é cobrir a população acima dos 30 anos, indicou o responsável. Quem tem menos de 30 anos fica assim para o fim.

Tendo em conta que os grupos etários acima dos 60 anos representaram 96,7% dos óbitos por covid-19 desde o início da epidemia no país, o responsável diz acreditar que já a partir do verão haja uma proteção significativa na população.

Além da convocatória pelos serviços de saúde, vai avançar o processo de autoagendamento das vacinas, indicou o responsável, sem dar detalhes.