Um triângulo explosivo para a saúde

É nas Ciências da Nutrição que encontramos as ferramentas para fazer a educação alimentar e nutricional tão importante para finalmente controlarmos a nossa saúde

Por Nelson Tavares

Diretor da Licenciatura em Ciências da Nutrição da Universidade Lusófona

O tecido adiposo no corpo humano é essencial ao nosso bem-estar, apesar das tendências da moda erradamente ditarem o contrário. Este tecido é responsável pelo acumular de energia na forma de gordura; pela proteção dos órgãos internos e por ajudar a regular a temperatura corporal. Mas quando existe um consumo excessivo de alimentos, somado a um deficit no dispêndio de energia acumulada, o tecido adiposo sofre um processo ‘silencioso’ de remodelação. Especificamente, 70 a 80% dos indivíduos com obesidade passam por esse processo inflamatório crónico e subclínico de remodelação, que afeta tanto a estrutura quanto a função normal do tecido, a lipoinflamação. Esta inflamação das células de gordura está relacionada com o aparecimento de várias doenças, sendo de destacar as doenças cardiovasculares.

No Inquérito Nacional de Saúde com Exame Físico (INSA) de 2018, detetou-se excesso de peso em 38,9% da população adulta entre os 25 e os 74 anos; e verificou-se que 28,7% da população adulta tinha obesidade. Também em 2018, o Observatório Nacional da Diabetes indicou que em Portugal, a prevalência da híper glicemia intermédia (níveis elevados de glicose no sangue), atingiu 28% da população com idades entre os 20 e os 79 anos. A híper glicemia intermédia é um fator de risco para o desenvolvimento da diabetes, sendo até considerada como uma pré-diabetes.

Pela nossa saúde devemos manter-nos fora deste triângulo explosivo, mais ainda agora, em tempo de pandemia. Viver com lipoinflamação, obesidade e híper glicemia pode agravar o prognóstico de quem testar positivo para a SARS-CoV-2.
Atualmente a alteração de estilo de vida através de uma alimentação saudável e prática regular de exercício físico, pode ser suficiente para reverter os vértices deste triângulo explosivo.

Podemos reduzir os níveis elevados de lipoinflamação, híper glicemia e obesidade, mas devemos ir mais além, fazendo a prevenção primária, ou seja, evitar chegar a estes níveis perigosos. Ao educarmos a população para se alimentar e nutrir bem, de uma forma saudável, estamos a dar um contributo concreto na promoção da saúde do país. E é nas Ciências da Nutrição que encontramos as ferramentas para fazer a Educação Alimentar e Nutricional tão importante para finalmente controlarmos a nossa saúde.