Novo livro de Sócrates é afinal um livro velho na gaveta desde 2018

Ex-primeiro-ministro travou publicação da obra quando sorteio colocou processo da Operação Marquês nas mãos do juiz Ivo Rosa.

por Felícia Cabrita e João Amaral Santos

O novo livro de José Sócrates, intitulado Só Agora Começou – uma edição da Actual, do Grupo Almedina –, que hoje chega às bancas, é, na realidade, um livro antigo que o ex-primeiro-ministro tinha pronto para lançar em setembro de 2018, mas que acabou por ficar na gaveta depois do sorteio eletrónico que colocou o processo da Operação Marquês nas mãos do juiz Ivo Rosa, como divulgou o Nascer do SOL em janeiro de 2020.

O plano de José Sócrates seria utilizar o terceiro livro com a sua assinatura – que teria como título A Justiça É a Política por Outros Meios (um trocadilho à frase de Clausewitz segundo a qual “a guerra é a continuação da política por outros meios”) – como parte da sua estratégia de defesa, partindo da suposição que a instrução do processo seria distribuída ao juiz Carlos Alexandre (que dirigiu os interrogatórios aos arguidos).
A obra estava concluída e o contrato assinado com a editora Guerra & Paz, mas o volte-face fez o primeiro-ministro recuar no lançamento.

Teoria do complô

O livro que hoje chega às bancas, quase três anos depois, compara a acusação de que o autor é alvo com a de Lula da Silva, ex-Presidente do Brasil, dizendo que ambos são vítimas de conspiração e perseguição política internacional, pelas suas ideias de esquerda. Os “executores” do conluio seriam os juízes Carlos Alexandre e Sérgio Moro. E na sombra, a conspirar em ambos os casos, teria estado uma certa corrente da direita política, embora não especificada. 

Só Agora Começou inclui uma nota introdutória mais atual, datada de dezembro de 2020, em que José Sócrates confirma que travou a publicação da obra com 150 páginas assim que soube que “pela primeira vez o processo Marquês iria ter um juiz”, referindo-se a Ivo Rosa. O autor explica, porém, que tinha prometido si mesmo publicá-la “quando a fase de instrução terminasse”. E recorrendo a terminologia bélica, bem ao seu estilo, o ex-primeiro-ministro começa logo nas primeiras linhas a afinar a mira para os combates que se seguem: “Quando lá fora se organizam para te difamar e lançar peçonha sobre tudo o que disseste ou fizeste, é preciso crer em ti com toda a força de alma. Nada possuir e a nada estar agarrado — eis a melhor posição no combate. Seis anos depois, quero dedicar este livro a todos os que estiveram ao meu lado na batalha”.