Em Alcântara, mais contentores não!

A ampliação que se prepara no Terminal de Alcântara é um atentado à cidade e aos lisboetas, com um forte impacto visual e aumento do tráfego poluidor de camiões ao longo da zona ribeirinha.

De uma vez por todas, tem de ser assumido que, no presente e no futuro, Alcântara não comporta um terminal de contentores. Não é bom para a cidade, nem para os lisboetas, nem tão pouco para o Terminal. Nem é bom nem faz qualquer sentido uma atividade com aquelas características no centro da cidade.

A ampliação que se prepara no Terminal de Alcântara é um atentado à cidade e aos lisboetas. Chama-se ‘modernização e aumento de eficiência operacional’ à criação de uma muralha de contentores, colocação de pórticos com forte impacto visual e aumento do tráfego poluidor de camiões em Alcântara e ao longo da zona ribeirinha. Algo que não deveria ter sido permitido, mas foi.

Corria o ano 2008 quando um grupo de lisboetas se manifestou contra a pretensão de ampliação do terminal de contentores de Alcântara. A perspetiva era aterradora, com a criação de uma enorme muralha de contentores entre a cidade e o Tejo e destruição da Doca do Espanhol. A guerra não foi totalmente ganha, mas foi evitada a triplicação dos contentores e a destruição da Doca. A polémica envolveu, para além da ampliação do terminal, um discutível prolongamento da concessão sem concurso (que se verificou). Então, foi permitida a ampliação através do ‘aumento da eficiência’.

O que está agora em causa são as consequências dessa permissão do Governo de então que se materializam na criação de uma barreira continua de contentores com cerca de 1 km de extensão a separar Lisboa do rio com forte impacto visual, agravado com a instalação de enormes pórticos e aumento do movimento de camiões na zona de Alcântara.

A insistência em manter o terminal de contentores naquele local não tem nenhuma vantagem, criando uma barreira entre a cidade e o rio e mantendo o terminal espartilhado sem a extensão desejável.

A evolução das atividades portuárias em todo o mundo tem privilegiado a deslocalização ou construção de infraestruturas de operação de contentores sem o condicionamento da envolvente urbana e a conversão das anteriores localizações com atividades relacionadas com a náutica de recreio. É isso que faz sentido em termos de planeamento, mas também dos impactos provocados.

Lisboa não perde a dimensão portuária por eliminar um dos vários terminais de que dispõe (de contentores e não só em Santa Apolónia, Beato e Poço do Bispo). Mais, a atividade portuária não se esgota na operação de contentores. Lisboa pode e deve converter o terminal de Alcântara noutras atividades, nomeadamente na ampliação da oferta para a náutica de recreio tão deficitária em Portugal e com um potencial de desenvolvimento de atividades económicas de maior valor acrescentado, mais adequadas naquela zona da cidade.

E depois há a questão da afirmação de uma estratégia nacional para os portos que, se continuar a ser adiada, corre o risco de ser dispensável face à concorrência dos portos dos países vizinhos (Espanha e Marrocos).

Entretanto, em Alcântara, na falta de uma visão que promova a cidade de forma equilibrada, importa não desistir de travar decisões que prejudicam o presente e o futuro de Lisboa.