O elo mais fraco

Quando todos querem comprar, os preços são muito altos. A melhor altura para comprar, é quando todos os media e a opinião comum dizem para vender

Por Pedro Ramos

Nova Iorque, abril, 2021

Queridas Filhas,

Para um investimento vingar muitas coisas têm que correr bem. Basta uma delas falhar para o investimento não resultar. Os marinheiros conhecem bem isto. Por exemplo, quando deitam âncora, para que o navio se imobilize, precisam que cada um dos elos da corrente seja forte. Basta um dos elos partir (o elo mais fraco) para a ancora se perder e o navio ficar à deriva.

Em investimentos, esses elos incluem, entre outros, qualidade da oportunidade, honestidade da gestão, estratégia da empresa, avaliação, timing, liquidez e estabilidade emocional.

Qualquer falha de um destes temas leva a maus resultados. Oportunidades fracas levaram a muitos elefantes brancos como o projeto Quibi que tentou criar uma Netflix para telemóveis. Ou como várias aldeias olímpicas e estádios pelo mundo fora. Falta de honestidade da gestão leva à ruína da empresa como aconteceu com a Enron ou a Wirecard. Estratégia errada leva a perdas avultadas como a Kmart e a Sears que não se adaptaram ao mundo do comércio eletrónico. Investir a preços demasiado elevados leva a altas perdas como quando a Time Warner comprou a AOL por $165 Bn USD em 2000 para depois a vender por $4,4 Bn em 2015. Ideias cedo demais levam a falhas de projetos, como a Boo.com que vendia produtos de desporto na internet e foi à falência em 2000. Hoje em dia, a Zalando e outros têm bastante sucesso e lucros com o mesmo negócio. Liquidez, a falta de acesso a caixa, é a principal causa de falência de empresas. Por exemplo, a Lehman Brothers faliu em 2008 quando perdeu acesso a liquidez dos outros bancos e da Federal Reserve.

Contudo, o elo que mais frequentemente quebra é a estabilidade emocional. A natureza humana gosta do conforto. Sente confiança quando outros pensam igual. Mas isso leva a resultados medíocres. Quando todos querem comprar, os preços são muito altos. A melhor altura para comprar, é quando todos os media e a opinião comum dizem para vender. Abundam histórias de pessoas que perderam muito. Investidores que venderam antes do mercado bater no fundo, frequentemente se gabam sobre como foi a decisão certa e como o mercado vai cair ainda mais. Nessas alturas, a natureza humana alimenta o pânico. Torna-se difícil seguir os argumentos racionais e agarrar oportunidades a preços de saldo. Por outro lado, se já temos investimentos feitos, a experiência dolorosa de ver a queda das suas avaliações começa a deixar mossa. A tentação de vender para aliviar a dor psicológica é grande. 

Mas se se vender um bom investimento quando os mercados estão em saldo, o elo quebra-se. A perda cristaliza-se. A oportunidade de recuperar esfuma-se. Se não se comprar, contagiado pelo medo coletivo, os excelentes retornos disponíveis desaparecem rápido. A natureza humana abre oportunidades e deixa armadilhas. É preciso lutar os impulsos para aproveitar as oportunidades e evitar as armadilhas. Por isso, o apoio de um investidor profissional pode ser muito importante. 

Não quer isso dizer que sempre que a ação de uma empresa desça se deva comprar. Pode haver razões, relativas à estratégia da empresa, liquidez ou outras que justifiquem a descida. É preciso saber discernir entre os dois.
Esta lição aplica-se também a outras áreas da vida.
Amizades – A qualidade das nossas amizades define-se nos momentos mais difíceis. Quando os nossos amigos estão em dificuldades apoiamos com amor? Quando nós estamos a passar por momentos difíceis estão lá de forma desinteressada? Ou será que o elo se parte?
Carreira – Quando a nossa carreira sofre um revés; quando poucos acreditam no nosso trabalho; o que fazemos? Acreditamos na nossa missão e ajustamos à nova realidade? Ou perdemos confiança em nós e desistimos da nossa missão?
Liderança – Quando as coisas estão difíceis, acreditamos na equipa que construímos e treinamos? Ou começamos a apontar o dedo e a descartar responsabilidades? 
Grande parte da vida, depende de quanta força damos ao elo mais fraco.