Autárquicas: Oportunidade para a mudança

A crise no PSD é profunda e não tem a ver com a atual liderança, mas sim com a sua própria decadência. 

Muito se tem falado de Passos Coelho e de Rui Rio e qual dos dois tem mais capacidade para liderar o PSD. Quando ouvimos alguns comentadores na televisão ou quando nos debruçamos sobre alguma imprensa escrita, por vezes ficamos com a sensação de que só um teve sucesso à frente do PSD e o outro só tem tido insucesso. Se tudo isto fosse um truque de ilusionismo até podíamos acreditar, mas a realidade não são truques são dados obtidos pelo voto em eleições. 

Todos nós sabemos que ser líder da oposição é o lugar mais difícil de desempenhar, mas esta dificuldade é igual tanto para o PSD como para o PS.

Passos Coelho foi presidente do PSD no período entre 09 de abril de 2010 a 16 de fevereiro de 2018 e primeiro-ministro de 21 de junho de 2011 a 26 de novembro de 2015. É uma grande personalidade da vida política portuguesa e admirado principalmente nos militantes e simpatizantes do PSD, mas daí a ser desejado como o salvador da Pátria vai uma grande distância. É uma pessoa honesta e inteligente, pode e deve ter ambições, mas será muito nefasto que, alguns profetas da desgraça e do ‘mal dizer’, quererem fazer dele o D. Sebastião que vai aparecer numa manhã de nevoeiro para salvar o PSD. Passos Coelho tem a noção da realidade, não precisa nem quer aparecer numa manhã de nevoeiro, mas sim estar ao lado do atual líder.

A crise no PSD é profunda e não tem a ver com a atual liderança, mas sim com a sua própria decadência. Até 2009 o partido tinha implantação Nacional, em 2017 quando Passos Coelho saiu da liderança o partido tinha perdido eleitorado em todo o litoral, desapareceu no Alentejo e desceu no interior. Entre os anos de 2011 a 2015 o PSD perdeu mais de 750.000 votos nas eleições legislativas. Em 2017 nas eleições autárquicas a nível Nacional o PS obteve 159 Câmaras (37,82%) e o PSD obteve 79 Câmaras (16,07%). No Concelho de Lisboa o PS obteve 27,3% de votos e o PSD obteve 11,22% dos votos. No Concelho do Porto o PS obteve 33,3% dos votos e o PSD obteve 10,39% dos votos. Podendo concluir-se que o PSD na liderança de Passos Coelho, deixou de ser um partido com implantação urbana e passou a ser um partido rural, conforme ilustra o gráfico.


 
Inverter essa tendência nas próximas eleições autárquicas já será sucesso. O mundo está em constante mudança, o avanço nas novas tecnologias de informação e do conhecimento e a visibilidade dos factos tornaram-se imediatos. Hoje todo o nosso saber é feito através da investigação e da comunicação e sem estas capacidades somos analfabetos.

Os partidos políticos nomeadamente o PSD e PS, adaptaram-se a estas novas formas de conhecimento? Não. Em consequência Portugal está a atrasar-se em relação a outros países, como mostram as estatísticasiInternacionais. Não querendo particularizar nenhum partido uma vez que é transversal a todos, é penoso ver parlamentares a serem escolhidos por pertencerem a uma Concelhia ou a uma Distrital e estarem 10, 15, 20 anos ou mais na Assembleia da República, passarem por vários líderes, estarem sempre de acordo para não perderem o emprego e intelectualmente continuarem como entraram sem honra nem glória apenas aprenderam os cantos do Palácio de São Bento. Assim não dá.

Rui Rio tornou-se presidente do PSD legitimado com a maioria dos votos dos militantes, mas não tem tido uma tarefa fácil, encontrou o partido em cacos e muito enfermo. Os seus oponentes ao perderem a eleição, não se preocuparam em unir o partido e continuaram numa cavalgada quase suicida para destronar o líder eleito. Com esta conduta tem-se tornado muito difícil o sucesso. 

Rui Rio enquanto líder fez tudo bem? Não. O PSD sendo o maior partido da oposição, tem o seu maior palco na Assembleia da República, aí enfrenta o Governo com as suas debilidades e apresenta as suas propostas. É aliciante ouvir as intervenções de Rui Rio, são bem preparadas e comentadas nos órgãos de informação durante vários dias. Porém não conhecemos outras intervenções e outros protagonistas. Que falta nos faz no Parlamento pessoas como Morais Sarmento, David Justino, Paulo Mota Pinto, Joaquim Sarmento, Miguel Poiares Maduro, Carlos Moedas, Tiago Moreira de Sá entre outros.