Marcelo pede que se tirem lições do passado colonial português

Marcelo foi apladido de pé por todos os presentes, à excepção de André Ventura. O Presidente disse que Portugal devia assumir a toda a sua história, com tudo o que ela teve de bom e de mau. 

Marcelo Rebelo de Sousa começou por recordar a guerra colonial na sua intervenção, na sessão solene de celebração do 25 de Abril de 1974, no Parlamento.

"Passaram há um mês 60 anos de um tempo que havia de anteceder a data de hoje”, iniciou o Presidente da República, que relembrou o "cerca de milhão de jovens portugueses que deixaram as suas casas e o seu país para “combater noutro continente”, e muitas vezes morrer nestas batalhas, referindo-se à Guerra Colonial, que começou no ano de 1961, e durou 13 anos. "É tão difícil, senão impossível explicar esses 13 anos, sem falar dos períodos antes", alertou ainda Marcelo Rebelo de Sousa, referindo os cinco séculos anteriores, de passado colonialista, que levou ao estalar do conflito.

É necessário “olhar com os olhos de hoje e tentar olhar com os olhos do passado que as mais das vezes não nos é fácil de entender”, defende Marcelo Rebelo de Sousa, que fez questão de relembrar que “o olhar de hoje não era o desses tempos”, referindo-se a uma "densidade personalista, de respeito da dignidade da pessoa humana, da condenação da escravatura e do esclavagismo, na recusa do racismo e das demais xenofobias que se foi apurando, representando um avanço cultural e civilizacional".

Marcelo Rebelo de Sousa deixou ainda uma palavra aos capitães de Abril, começando por referir que "não vieram de outra galáxia". "Foram estes homens, eles mesmos, não outros, os heróis daquela madrugada", prossegiu o Presidente da República, apontando ainda a sua homenagem ao ex-Presidente António Ramalho Eanes, o único antigo chefe de Estado presente no plenário nesta sessão solene.

O Presidente da República aproveitou ainda para deixar uma reflexão: "Nada como o 25 de Abril para repensar o nosso passado, quando o presente é ainda tão duro", falando sobre as difíceis condições atuais, deixadas pela pandemia da covid-19, e as questões políticas que envolvem o país.

Os que "chegaram rigorosamente sem nada”, e os que “sofreram conflitos internos herdados da colonização nas suas novas pátrias” não foram esquecidos por Marcelo Rebelo de Sousa no seu discurso, onde também não esqueceu a "justiça" que ficou por fazer aos que combateram "cá e lá", e aos que viveram “a mesma odisseia”.

O estudo do passado e a retirada de lições, defende o Presidente da República, não deverá passar pela “mera prisão de sentimentos, úteis para campanhas de certos instantes” "O 25 de Abril foi feito para libertar, sem esquecer, nem esconder", defendeu ainda Marcelo Rebelo de Sousa.

"Não há, nunca houve, um Portugal perfeito nem condenado; só há um Portugal, que amamos, além dos claros e escuros”, concluiu o Presidente da República, esperando que os anos que faltam para o 50.º aniversário desta data sirvam para “assumir as glórias que nos honram e os fracassos pelos quais nos responsabilizamos”. O discurso valeu a Marcelo Rebelo de Sousa um plenário completamente de pé, a aplaudir, à exceção do deputado André Ventura.