Entre a pandemia e a inovação, a Sétima Arte persiste

Este domingo, a indústria cinematográfica provará que resistiu à pandemia. Com medidas de segurança bem definidas e uma lista longa de filmes, atores, diretores e outros elementos-chave da Sétima Arte que serão galardoados, os Óscares mantêm-se firmes e de boa saúde na sua 93.ª edição.

Entre a pandemia e a inovação, a Sétima Arte persiste

A noite mais especial de Hollywood aproxima-se a passos largos. Neste domingo, a 93.ª edição dos Academy Awards, habitualmente designados de Óscares, terá lugar no Dolby Theatre e na Union Station, em Los Angeles, nos EUA, dois meses depois da data prevista devido ao impacto da covid-19 na Sétima Arte.

É de recordar que a Academia anunciou, em junho de 2020, que adiaria a cerimónia, de 28 de fevereiro para o dia atualmente estipulado, no âmbito da pandemia que assolou o mundo, alargando o período de elegibilidade dos filmes até 28 de fevereiro de 2021. Também é de mencionar que os critérios para esta seleção já tinham sido modificados para que fossem contabilizados os filmes que, originalmente, seriam lançados no cinema, mas que acabaram por ter a sua grande estreia nos serviços de streaming. 

Ainda que esta não seja a primeira vez em que o maior dia desta indústria tenha sido adiado, mas sim a quarta, a possibilidade de filmes lançados em dois anos civis distintos concorrerem entre si não era considerada desde 1934, quando a janela temporal de análise das obras cinematográficas estendeu-se até 17 meses, ou seja, poderiam ser premiados filmes lançados entre 1 de agosto de 1932 e 31 de dezembro de 1933.

Para que os participantes estejam seguros, a Academia tem tomado medidas para protegê-los ao máximo. De acordo com a revista Variety, quem assistir à cerimónia não terá de usar máscaras enquanto estiver em frente às câmaras. Esta informação terá sido veiculada numa reunião entre representantes da Academia, na passada segunda-feira.

Esta flexibilização relativa ao uso de equipamento de proteção individual não se aplica aos momentos em que os convidados não estão sob os holofotes dos media ou até a assistir aos intervalos comerciais.

Por outro lado, o órgão de informação anteriormente referido, que garante que  organização está à assemelhar-se à de «uma produção televisiva», explicou que a Union Station somente receberá 170 pessoas e a medição da temperatura corporal das mesmas será obrigatória à entrada da cerimónia. Naquilo que diz respeito à realização de testes à covid-19, três é o número exigido até domingo.

«Temos muita prática. Esta indústria esteve na vanguarda da criação de protocolos para fazer as pessoas voltarem a trabalhar com segurança», começou por dizer um dos produtores do evento, Steven Soderbergh, ao site Deadline Hollywood. «Estou no meio das filmagens do meu segundo filme durante a covid-19. Sabemos como abordar situações como esta. É extremamente trabalhoso, é extremamente complexo logisticamente e é caro», garantiu.

«Foi um ano em que não foi possível encontrarmo-nos cara a cara e há ótimos filmes e talentos incríveis. Mal posso esperar por conhecê-los a todos», disse Alexander Nanau, realizador de Collective, filme nomeado para melhor produção internacional e melhor documentário, que poderá viajar entre a Roménia, o seu país de origem, e os EUA.

Candidatos a melhor filme

Mesmo num ano atípico, oito obras disputam o Óscar de Melhor Filme. Na liderança, concorrendo a dez categorias distintas, encontra-se Mank, de novembro de 2020, com a ação a desenrolar-se nas décadas de 30 e 40 do séc. XX, narra a história da escrita de Citizen Kane – de 1941 – pelo crítico social e argumentista alcoólatra Herman J Mankiewicz, interpretado por Gary Oldman, espelhando o trabalho que desenvolveu com Orson Welles.

Lançado em janeiro de 2020, no Sundance, The Father, a história de um pai e de uma filha que aprendem a lidar com a demência tem como estrelas Anthony Hopkins e Olivia Colman. Por outro lado, Judas And The Black Messiah trata-se de um drama biográfico sobre a traição de Fred Hampton – Daniel Kaluuya -, presidente da secção de Illinois do Partido dos Panteras Negras, no final dos anos 1960, em Chicago, pelo informador do FBI William O’Neal. 

Sob a direção de Lee Isaac Chung e vencedor do Grande Prémio do Júri, do Sundance, Minari conta a história de uma família coreana que se muda para uma pequena fazenda no estado do Arkansas em busca do sonho americano. No entanto, a vida familiar é totalmente alterada com a chegada de uma avó que não tem papas na língua.

Já Nomadland, com estreia em setembro de 2020 no Festival de Cinema de Veneza, espelha a vida de Fern – Frances  McDormand – após o colapso económico de uma cidade empresarial na zona rural do estado norte-americano do Nevada, que faz as malas e parte para a estrada numa caravana, aventurando-se e descobrindo a vida fora da sociedade moderna.

Entre o humor e o suspense, Promising Young Woman, que estreou no Sundance, está nomeado para cinco categorias dos Óscares, dando a conhecer a jovem Cassie – Carey Mulligan – cujo futuro foi destruído por um evento misterioso. No entanto, não se deixa abalar e, entre a inteligência e a astúcia, vive uma vida dupla secreta à noite e tenta corrigir os erros do passado.

Dado a conhecer ao grande público no Festival Internacional de Cinema de Toronto, em 2019, Sound Of Metal baseia-se na história de Ruben – Riz Ahmed -, baterista numa banda de heavy metal, que começa a perder a audição. Confrontado com o agravamento da sua condição, consciencializa-se de que perderá a carreira com a qual sempre sonhou. A namorada, Lou – Olivia Cooke -, não o abandona e investe numa espécie de «reabilitação» para surdos. A partir daí, Ruben tem de escolher se pretende voltar à vida que sempre conheceu ou àquela que foi obrigado a viver.

The Trial Of The Chicago 7 é uma longa-metragem fiel ao caso real do julgamento d’Os Sete de Chicago, um grupo de ativistas e manifestantes acusado, pelo governo  dos EUA, de conspiração e incitação à revolta, durante protestos contra culturais contra a Guerra do Vietname, durante a Convenção Nacional Democrata de 1968, na cidade mais populosa do Illinois.

Recorde-se que, à época, um júri federal foi convocado para considerar as acusações criminais, dividindo os possíveis motivos para a existência das mesmas em quatro áreas: uma conspiração dos manifestantes para cruzar as linhas estaduais e incitar a distúrbios; violações pela polícia dos direitos civis dos manifestantes pelo uso de força excessiva; violações da rede de TV do Federal Communications Act e das leis federais de escuta.

O talento britânico

Este é um bom ano para os ingleses, com vários indicados nas categorias de melhor ator e atriz principal. Na primeira categoria, três dos cinco indicados são britânicos – Anthony Hopkins – que ganhou o British Academy Film Awards – BAFTA, Riz Ahmed e Gary Oldman – Herman J. Mankiewicz em Mank. Já na categoria de atriz principal, Carey Mulligan e Vanessa Kirby – Martha Weiss em Pieces Of A Woman – estão na lista restrita.

Na categoria de melhor ator coadjuvante, Daniel Kaluuya – interpretou o socialista revolucionário Fred Hampton em Judas and the Black Messiah – é o favorito após vitórias nos prémios BAFTA, Globos de Ouro e Critics ‘Choice e Screen Actors’ Guild. A seu lado, Sacha Baron Cohen – deu vida a Abbot Hoffman, cofundador do Youth International Party, também conhecido por ‘Yippies’, em The Trial Of The Chicago 7 –  também está na corrida, com Olivia Colman indicada como melhor atriz coadjuvante. Por outro lado, a escritora e diretora de Promising Young Woman, Emerald Fennell – mais conhecida por ter interpretado Camilla Parker Bowles, mulher do príncipe Charles, em The Crown -, é a primeira mulher britânica a ser indicada para melhor diretora.

O poder das mulheres 

Antes do anúncio das nomeações de 2021, apenas cinco mulheres tinham sido selecionadas para melhor realizadora em toda a história dos Óscares e apenas uma ganhou: Kathryn Bigelow, com The Hurt Locker, em 2010.

Agora, para além de Fennell, também Chloé Zhao está indicada para vencer o galardão, sendo igualmente a primeira mulher asiática nomeada. 

Na categoria de atuação, Viola Davis é a primeira mulher negra a receber duas indicações de melhor atriz. É de lembrar que havia sido pré-selecionada na categoria com The Help em 2012, e em 2017 ganhou o prémio de melhor atriz coadjuvante pelo seu desempenho em Fences. A atriz de 55 anos também foi indicada para melhor atriz coadjuvante por Doubt em 2009, sendo assim a atriz negra mais nomeada de todos os tempos.
O recorde de diversidade racial
Nove dos indicados para melhor ator não são pessoas brancas, em comparação com somente uma, Cynthia Erivo de Harriet, em 2020: Riz Ahmed, Steven Yeun – Jacob Yi em Minari – e o falecido Chadwick Boseman – Levee Green em Ma Rainey’s Black Bottom. Torna-se relevante referir que, para além de Boseman, que morreu com cancro, aos 43 anos, em agosto do ano passado, somente outros seis atores foram nomeados postumamente e dois ganharam: Heath Ledger – com The Dark Knight, em 2009 – e Peter Finch – com Network, em 1977.

Este é também o primeiro ano em que dois atores de origem asiática aparecem na categoria de melhores atores, isto é, para além de Yeun, Yuh-Jung Youn, Soon-ja em Minari, é a primeira artista coreana nomeada para um Óscar.