Covid-19. Casos aumentaram 60% nos jovens dos 10 aos 19

Diagnósticos continuam a diminuir na população com mais de 70. Na última semana, aumentaram apenas nos mais jovens e ligeiramente na população com mais de 60, que só deverá ficar coberta pela vacinação no fim de maio. 

Os casos de covid-19 diagnosticados no país parecem ter estabilizado na última semana mas analisando com mais detalhe o número de diagnósticos por faixa etária percebem-se dois movimentos: pela segunda semana consecutiva, o grupo etário dos 10 aos 19 anos é o que regista o maior aumento de casos, enquanto continuam a diminuir os diagnósticos nos grupos etários mais velhos e mais vulneráveis, agora com maior cobertura vacinal, além de se ter verificado também uma redução significativa no grupo dos 30 aos 39 anos. No caso das crianças e jovens entre os 10 e os 19 anos, o salto é significativo: ao longo da semana foram diagnosticados 585 casos de covid-19 nesta faixa etária, mais 60% do que na semana anterior, quando já tinha sido o grupo em que mais tinham subido os diagnósticos.

Também na faixa etária dos 0-9 anos voltou a haver uma subida nos diagnósticos, com 260 casos diagnosticados na semana passada, um aumento de 18% face à semana anterior. Ao todo foram diagnosticados 845 casos em crianças e jovens até aos 19 anos de idade, quando na semana anterior tinham sido 586. Se ao longo da epidemia, nas suas diferentes fases, o peso da infeção nestes grupos etários era idêntico ao da população mais velha, continua a verificar-se uma diminuição da incidência nos idosos. Na semana passada, foram diagnosticados 333 casos acima dos 70 anos de idade, dos quais 161 acima dos 80, o número mais baixo desde o verão. Na semana anterior 386. 

Mais velhos protegidos, mais novos susceptíveis Manuel Carmo Gomes, epidemiologista e professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, sublinha que na análise que têm vindo a fazer na FCUL esta subida reflete o aumento da incidência entre os 10 e 14 anos e não está ainda em causa um possível impacto da abertura do Secundário e Ensino Superior na semana passada, que só se poderá avaliar a partir da próxima semana. “Foi a razão pela qual achámos que seria prudente aguardar pelo menos uma semana para perceber melhor o impacto da abertura das escolas para o 2.º e 3.º ciclo após a Páscoa antes de avançar para a terceira etapa do desconfinamento a 19 de abril”, diz o investigador, sublinhando que se por um lado a cobertura vacinal na população mais velha permite antever uma menor pressão sobre os hospitais, a tendência de aumento da transmissão nos grupos mais jovens mostra que existe ainda terreno para a propagação da doença. E se os professores e pessoal escolar já têm largamente a primeira dose da vacina da covid-19, o mesmo não se verifica ainda com os pais ou no Ensino Superior e na faixa etária dos 50 e 60 anos, sendo que se espera a imunização de todos os maiores de 60 no final de maio. “O que é expectável é começarmos a ver o impacto da abertura do Secundário e do Ensino Superior durante o início de maio e o aumento de casos pode estender-se à população em idade ativa. É um mês decisivo.

A grande incógnita é perceber se o ritmo de vacinação compensa esta tendência de aumento de casos. Estou convencido que não vai ser problemático em termos de hospitalizações como o que vivemos, mas se houver um recrudescimento da epidemia pode tornar-se prejudicial para a retoma do país numa altura em que nos aproximamos de uma maior retoma da atividade turística”, diz o investigador, que defendia um maior faseamento da abertura para “ganhar tempo” para acelerar a vacinação. 

Na semana passada, o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças lançou um novo hub de projeções sobre a evolução da epidemia nos diferentes países da UE, que sugere para Portugal uma estabilização da epidemia até meio de maio em torno dos 3500 caso semanais menos de 40 óbitos por semana. Na última semana registaram-se menos mortes do que previam as projeções e este domingo pela primeira vez desde agosto não foi declarado nenhum óbito associado à covid-19.

A plataforma do ECDC reúne modelos de diferentes equipas e académicos e numa projeção combinada dos diferentes contributos admite-se ainda alguma amplitude para o que pode acontecer nas próximas semanas, em que no limite inferior o país chega a 15 de maio com cerca de mil casos semanais e, no pior cenário, cerca de 10 800, o que daria cerca de 1500 casos por dia – abaixo dos picos das últimas vagas da epidemia mas o suficiente para o país voltar a aproximar-se dos 200 casos por 100 mil habitantes na métrica usada nas comparações internacionais. 

Para Manuel Carmo Gomes, as projeções em termos de infeções vão ao encontro do cenário traçado na modelação feita por um conjunto de investigadores portugueses e holandeses e que levou ao apelo de adiar a decisão da etapa de desconfinamento que arrancou na semana passada. Quanto à próxima, que o Executivo decide esta semana, o investigador considera que o impacto é menos significativo do que o da reabertura da semana passada e que o essencial é manter a vigilância dos indicadores, como resposta em termos de rastreio de contactos e testagem, para detetar precocemente os casos. “Se tivermos feito asneira, já está feita”, diz.
 
Nova reunião no Infarmed Esta terça-feira os especialistas voltam a ser ouvidos no Infarmed para o ponto de situação epidemiológico. O RT voltou a subir nos últimos dias e está de novo acima de 1. No cálculo do INSA, que faz a média a cinco dias, o último cálculo que diz respeito à situação no início da semana passada, o RT era de 1 no continente. Carlos Antunes, da equipa de Carmo Gomes na FCUL, que calcula o indicador com menor desfasamento, estima que a 24 de abril o RT fosse de 1,07.

O Nascer do Sol procurou perceber junto da Direção-Geral da Saúde qual o ponto de situação nas escolas, nomeadamente quantas turmas estão em isolamento profilático (agora decretado a todos os alunos quando é confirmado um colega ou professor positivo), mas não foi possível ter resposta. Com o aumento de casos nestas faixas etárias, haverá agora mais jovens a ter de novo aulas à distância e o terceiro período decorre com estas duas modalidades em simultâneo.

Na semana passada, com o reinício das aulas para o Secundário e Superior e agora despistes em massa quando são detetados casos positivos, o país bateu o recorde de testes à covid-19, com dois dias com quase 100 mil testes, a maioria testes rápidos. Carmo Gomes diz que, em termos preventivos, fazer testes apenas uma vez quando reabrem as escolas permite ter uma fotografia daquele dia mas teriam de ser repetidos regularmente para serem uma medida eficaz na deteção precoce de casos. “O ideal seria no mínimo uma vez por semana”, diz.

A estratégia de testagem determina que nos concelhos com mais de 120 casos por 100 mil habitantes, na semana passada 43, sejam feitos testes periódicos nas escolas mas também em fábricas e outros locais de maior contacto, mas não foi estabelecida uma periodicidade e o plano de operacionalização da testagem, conhecido na semana passada, não definiu uma regra.