40% dos portugueses consideram ser difícil ou muito difícil ficar em casa

Políticos e peritos de saúde pública regressaram ao Infarmed, esta terça-feira, para analisar a evolução da pandemia de covid-19 no país. O encontro decorreu na semana em que o Governo decide se Portugal avança para a quarta e última fase do plano de desconfinamento, que deverá arrancar a 3 de maio. Veja aqui as prinicipais conclusões…

Aumento de concelhos com incidência superior a 120 casos por 100 mil habitantes

André Peralta, da Direção-Geral da Saúde (DGS), deu início às apresentações, com uma nota sobre os concelhos com incidência superior a 120 casos por 100 mil habitantes. "Nas últimas duas semanas, houve uma tendência essencialmente estável da incidência cumulativa a 14 dias, o que é um bom sinal. Quando olhamos para a sua dispersão geográfica, há alguma heterogeneidade", começou por explicar o especialista, frisando que, na última reunião, foram identificados 22 concelhos com incidência superior a 120 casos por 100 mil habitantes, sendo que esse número ascendeu a 37. Apesar disto, Peralta Santos realça que "nos grandes centros urbanos, há uma ligeira tendência decrescente, o que estabiliza a incidência nacional".

Crescimento em Paredes, Paços de Ferreira e Penafiel "causa alguma preocupação", enquanto situação em Odemira melhora

"Na última semana, pela densidade populacional e pelo número de habitantes, o crescimento em Paredes, Paços de Ferreira e Penafiel causa alguma preocupação", explicou Peralta Santos, destacando, porém, que "uma boa notícia é a inversão da tendência no município de Odemira".

Grupo dos maiores de 80 anos "é o mais protegido"

"O grupo que gera mais preocupação pela alta probabilidade de hospitalização e morte é o das pessoas com mais de 80 anos, mas mantém uma tendência decrescente e é o mais protegido", esclareceu.

Grupo dos 10 aos 39 anos com maior incidência de casos

"Fixámos a incidência ao dia 15 de março e observámos a sua variação ao longo do tempo. Todos os grupos etários estão abaixo da incidência desse dia, exceto o dos 10 aos 39 anos que está ligeiramente acima", disse Peralta Santos.

Pico de incidência de casos aos 25 anos

A incidência a 10 de abril mostra um “aumento nos mais jovens, com um pico aos 25 anos”. A 24 de abril, a incidência de casos desce na população dos 0 aos 9 anos e sobe nos jovens com idades compreendidas entre os 10 e os 19 anos.

Aumento de incidência de casos em municípios que avançaram no desconfinamento

"É provavelmente muito cedo para percebermos o impacto direto das medidas, mas a sua monitorização é sempre relevante para percebermos as tendências", declara Peralta Santos, adiantando que "os municípios que regrediram ou não avançaram no desconfinamento "têm uma tendência semelhante" e aqueles que avançaram "primam pela estabilidade" e os que avançaram com alerta "nos primeiros dias, houve um ligeiro aumento da incidência, mas parecem já esboçar uma tendência decrescente".

Algarve com "trajetória descendente" e Norte com "tendência crescente"

"Há a destacar o Algarve que iniciou uma trajetória descendente e a região Norte tem uma tendência crescente, apesar de registar menos de 120 casos por 100 mil habitantes", explicou Peralta Santos, avançando que "em meados de 15 de abril, a região Norte ultrapassou a média nacional", enquanto a região do Algarve "teve um pico muito expressivo no final de janeiro, mas nos últimos dias iniciou uma trajetória descendente”.

Tendência decrescente nas hospitalizações em enfermaria e UCI

"A ocupação em Unidades de Cuidados Intensivos [UCI] baixou das 100 camas, o que é manifestamente positivo", frisou o especialista da DGS. Naquilo que diz respeito aos utentes internados em enfermarias, "há uma tendência decrescente", não deixando de a relacionar com "o esforço de vacinação em curso". Naquilo que diz respeito às UCI, "é o grupo dos 50 aos 59 anos que tem maior ocupação".

Tendência decrescente na mortalidade

"A mortalidade tem uma evolução muito positiva. Atualmente, estamos com cinco mortes por milhão de habitantes", destacou.

Aumento da intensidade de testagem especialmente nos concelhos com maior incidência e grande esforço de testagem" nos jovens entre os 15 e os 21 anos

Os concelhos com maior incidência têm, como seria de esperar, uma procura maior da testagem, avançou.

"A positividade está abaixo do indicador de referência dos 4%, o que é muito positivo. Tentamos perceber se os municípios com incidência acima de 120 têm um padrão de testagem do que os municípios com menor incidência. E o que vemos é que têm um padrão de maior intensidade de testagem. Sabemos que existe a sazonalidade, que se refere aos fins de semana, mas o esforço de testagem tem vindo a aumentar", sublinhou.

Na população dos 15 aos 21 anos, houve um "grande esforço de testagem", na semana de 16 de abril.

"A positividade por idade está sempre abaixo do valor de referência dos 4%" sendo de "notar" que nas faixas etárias mais baixas é "sempre mais reduzida".

Índice de transmissibilidade próximo de 1

Seguiu-se a intervenção de Baltazar Nunes, responsável pela Unidade de Investigação Epidemiológica do Instituto Ricardo Jorge.

"Observou-se um decréscimo na transmissibilidade, sendo que se estima um r(t) próximo de 1", começa por evidenciar Baltazar Nunes, salientando que ocorreu uma descida em relação ao r(t) de 1,05 divulgado na última reunião. "A tendência é estável e dificilmente iremos evoluir em qualquer uma das direções", deixou claro.

É de salientar que somente a região Norte tem o índice de transmissibilidade acima de um, mas a taxa de incidência é inferior a 120 casos por cem mil habitantes.

Sabe-se que o aumento da incidência está concentrado nos jovens com idades compreendidas entre os 10 e os 20 anos. “Mas daí para a frente não existe diferença” face à quinzena anterior e acima dos 80 anos mantém-se a redução da taxa de incidência, explica o especialista.

Relação entre a evolução da incidência e a reabertura das escolas

Baltazar Nunesfez um paralelismo entre a evolução da incidência e a reabertura das escolas, afirmando que “há algum resultado bastante positivo na forma como a epidemia se transmitiu nas escolas nesta fase de reabertura faseada da escola” até à semana de 16 de abril.

Portugal está "semelhante à Finlândia e perto do Reino Unido" em termos de R(t)

Portugal está “semelhante à Finlândia e perto do Reino Unido”, com o índice de transmissibilidade abaixo de 1 e entre 60 e 120 casos por 100 mil habitantes. Baltazar Nunes disse ainda que o país está entre aqueles que têm maior mobilidade, ou seja, que tem menos limites de circulação.

"Portugal acompanha naturalmente" aumento de mobilidade

Relativamente ao aumento da mobilidade, Baltazar Nunes adianta que "Portugal acompanha naturalmente este processo pela abertura e pelo levantamento das medidas de contenção", sendo que "os países com maior redução de mobilidade são a Noruega, a República Checa e a Áustria".

Simulação do impacto da vacinação

Baltazar Nunes traçou a situação epidemiológica do país em agosto por meio de dois cenários. Por um lado, se a cobertura de vacinas se mantiver – com as pessoas acima dos 60 anos vacinadas – e com um índice de transmissibilidade de 1,1 e uma taxa de incidência crescente – “verifica-se a redução da ocupação em UCI e enfermaria da população” da faixa etária acima dos 60 anos e também o decréscimo do número de mortes. No entanto, esta ocupação hospitalar aumentará na população com 30 ou mais anos. Se tal cenário se comprovar, no final de julho, haverá 110 camas ocupadas em UCI e 460 em enfermaria” por causa da Covid-19. “Os óbitos mantêm-se em valores muito baixos”, devido à vacinação da população mais velha, prevê o especialista.

Contudo, "num cenário mais controlado", se a inoculação das pessoas com mais de 60 anos aumentar e for aliada a medidas restritivas e ao índice de transmissibilidade controlado (1), “reduz-se o peso da doença nos 60 anos, mas também nos grupos etários com menor cobertura vacinal”. Deste modo, o país teria 100 camas em enfermaria ocupadas e 33 em UCI no final de julho. “E a maioria desta ocupação seria por pessoas abaixo dos 60 anos”, avançou.

Sequenciadas cerca de 550 amostras

João Paulo Gomes, microbiólogo e cientista, que exerce investigação no Centro de Bacteriologia do Instituto Nacional Ricardo Jorge, começa por abordar a vigilância das variantes do vírus em Portugal.

O especialista divulga que, na última semana, foram sequenciadas cerca de 550 amostras – 1800 é a meta para este mês, indicada pela Comissão Europeia – ou seja, em abril, a sequenciação deve ser feita entre os 20% e os 25% do total de casos, o que é uma “excelente” notícia.

Variante britânica cresce em Portugal

Naquilo que diz respeito aos resultados da sequenciação, João Paulo Gomes mostra um quadro com países que têm a variante britânica acima dos 70%. Portugal tem “ainda uma tendência crescente”: há duas semanas eram 83% dos casos, agora são 89% a 90%.

Variante brasileira cresce em todos os países e seis casos da variante indiana registados em Portugal

Naquilo que concerne a variante brasileira, a mesma cresce em todos os países, sendo que existem 73 casos de covid-19, em Portugal, associados à mesma e 44 foram identificados nas últimas duas semanas. A seu lado, o país tem 64 casos da variante sul-africana, 11 dos quais nas últimas semanas, enquanto a Alemanha e a França registam perto de mil casos desta. "Isto é o reflexo da abertura das fronteiras", diz o especialista.

“Não temos dúvidas de que o mês de abril alterará significativamente estes dados”, adiciona João Paulo Gomes, acrescentando que a variante brasileira poderá subir e a da África do Sul deverá manter-se. Também importa referir que esta semana foram detetados os primeiros seis casos em Portugal da variante indiana, todos em Lisboa e Vale do Tejo, com “três introduções distintas” no país.

Imunidade populacional

O especialista admite que, como a população está cada vez mais imunizada, não é de estranhar que tenhamos de “lidar” cada vez mais com as mutações do vírus que se adapta ao nosso sistema imunitário.

A variante do Reino Unido está no nosso país, na Europa e vai dominar o mundo. Existem relatórios que a associam a uma maior taxa de mortalidade.

Mais de 200 mil pessoas inquiridas sobre vivência da covid-19

"Vamos fazer uma viagem pela importância da vacinação", começou por declarar Henrique de Barros, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, cuja intervenção assenta nas “vacinação, variantes genéticas do vírus e mortalidade”.

"Em fevereiro, reiniciámos o encontro com milhares de pessoas que aceitaram participar, dando-nos informação sobre aquilo que foi e é a sua vivência da pandemia", explicou, referindo-se ao estudo que denomina de "Diários da Pandemia" e cuja amostra foi de mais de 200 mil pessoas.

Se a vacina não existisse, "a capacidade de mitigar" a doença "seria de 25%"

O especialista projetou um cenário em que a vacinação não existe, concluindo que o valor do índice de transmissibilidade subiria e “a capacidade de mitigar” a doença “seria de 25%” mesmo com medidas restritivas. 

Com a vacinação, que acredita que está a ser bem recebida pela população em geral, “a probabilidade de um desfecho fatal hoje é aproximadamente cinco vezes mais baixo do que no início da pandemia e é globalmente metade do que foi ao longo do ano”, o que considera ser um “extraordinário ganho”. 

Variante brasileira associada a risco de morte mais elevado

De acordo com Henrique de Barros, a variante britânica aumenta o risco de morte por covid-19, que é de 4,2%. A seu lado, a variante espanhola, quando foi predominante, significou um risco de morte de aproximadamente 6,2%- No caso da sul-africana é de 10,4% e a brasileira corresponde a 13,3%.

Tendo em conta que a taxa de letalidade varia com a idade, o sexo, a região do país e o mês de infeção, é possível afirmar que o valor global do risco de morte está nos 2%, sendo que as variante podem modificá-lo. Porém, Henrique de Barros acredita que "é possível, com medidas de proteção e com a vacinação, garantir" os valores que estão fixados como mais seguros.

"A covid-19 não se distribui de forma aleatória"

Carla Nunes, Diretora da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade NOVA de Lisboa, salienta que "a COVID-19 não se distribui de forma aleatória", sendo que "a forma como a infeção se dissemina no espaço e no tempo permite identificar padrões que podem indicar possíveis fatores que influenciam o aparecimento ou transmissão da infeção – por exemplo, densidade populacional, desemprego, ou zonas rurais vs zonas urbanas; e identificar as medidas de mitigação mais adequadas às características de cada região".

Odemira melhora naquilo que é o "risco mais grave"

"Nos clusters com tendências temporais distintas, e no período decrescente em análise (18Jan -29Mar), houve identificação de áreas que com recuperação mais lenta e outras áreas com recuperação mais acelerada", evidencia Carla Nunes, salientando que a possível recuperação, "apesar de ser sempre relativa", depende de vários fatores: do nível da infeção na comunidade no início do período em análise, das medidas nacionais e locais em vigor e da adoção das mesmas pela população. 

Nestes clusters, o Sul encontra-se numa “situação bastante grave”, tendo Odemira melhorado no que é o “risco mais grave”. Esta análise conjuga o índice de transmissibilidade com o número de casos, lançando uma série de “alertas” em zonas geográficas concretas.

Barómetro covid-19: 1 em cada 5 portugueses está ansioso ou triste

Verifica-se uma estabilização nos indicadores referentes à auto perceção do estado de saúde, ainda com cerca de 1 em cada 5 respondentes (21,8%) a reportar sentirem-se ansiosos, tristes ou agitados “todos os dias” ou “quase todos os dias” devido ao confinamento.

Verifica-se também uma tendência de estabilização no que se refere à adoção de medidas de proteção, como a utilização de máscara, higienização das mãos e manutenção da distância física. Observou-se também um aumento da percentagem de pessoas que, nas últimas 2 semanas, esteve num grupo de 10 ou mais pessoas, correspondendo à data da análise a agora em 8.6% (em comparação com 1.8% – 19Fev) enquadrado com o processo de desconfinamento.

40% dos portugueses consideram ser difícil ou muito difícil ficar em casa

A investigadora concluiu que, relativamente à facilidade de adoção de medidas de proteção contra a covid-19, verificam-se ligeiras oscilações, mantendo-se o padrão de resposta semelhante, com uma maior dificuldade na adoção de medidas como ficar em casa (40% considera ser difícil ou muito difícil) ou evitar estar com amigos ou familiares (47,5% referiu ser difícil ou muito difícil). 

"O limite da idade de dois tipos de vacinas pode condicionar" a inoculação

Henrique Gouveia e Melo, coordenador da task force para o Plano de Vacinação contra a COVID-19 em Portugal, faz o ponto de situação do mesmo, começando por afirmar que há uma “ligeira evolução positiva da disponibilidade, no segundo trimestre, com 9,2 milhões de vacinas, no entanto, o limite da idade de dois tipos de vacinas que o país está a usar pode condicionar a utilização até meio milhão de vacinas”.

Os impactos desta redução têm consequência no ritmo de vacinação “ligeiramente” no terceiro trimestre e “atrasar a meta dos 70% de proteção da população”.

No final da semana mais de 22% da população terá a primeira dose"

O vice-almirante Henrique Gouveia e Melo realça que a disponibilidade mensal de vacinas “tem crescido exponencialmente e vai estabilizar a partir de maio”. “No final da semana mais de 22% da população terá a primeira dose”, garantiu.

Task force espera vacinar pessoas com mais de 60 anos até 23 de maio

Gouveia e Melo sublinhou ainda que espera, até 23 de maio, ter todo o grupo de cidadãos com mais de 60 anos vacinado. A faixa etária dos 80 já está totalmente vacinada, com pequenas exceções, adianta ainda, estando agora o plano a “progredir fortemente” na faixa etária dos 70-79 anos.

Até 2 de maio, a task force espera ter vacinado os cidadãos com mais de 70 anos, até 13 de junho quem tem mais de 50 anos e até 1 de agosto quem tiver mais de 30 anos. 

“Tem havido um processo de adesão crescente à medida que os portugueses entendem ser o sucesso, pelo menos imediato, da vacinação”, diz Presidente da República

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, agradeceu “de forma muito impressiva”, aos intervenientes pela “substância e clareza”, assim como aos que continuam nesta “missão essencial que ajuda os decisores políticos, nomeadamente Governo, mas também PR e Assembleia da República”. Na ausência desta conjugação de esforços, "não seria tão fácil, ou não seria possível, aos decisores agirem como têm agido ao longo de um ano”.

Rebelo de Sousa sublinha a inter-relação entre a vacinação e a gestão da pandemia que foi salientada pelos intervenientes, adicionando que “o progresso da vacinação, que merece ser saudado e destacado, vai acompanhando a par e passo muita da gestão da pandemia e da própria evolução da pandemia”.

“Tem havido um processo de adesão crescente à medida que os portugueses entendem ser o sucesso, pelo menos imediato, da vacinação”, adianta.

“O trabalho destas equipas junta-se ao genérico de todos quantos no domínio da Saúde têm tido um protagonismo nesta crise pandémica”, garantiu.