“Radiação 5G está mais do que estudada”

Numa altura em que o 5G poderá ser brevemente uma realidade em Portugal, ainda se ouvem críticas sobre os possíveis efeitos nocivos para a saúde. Ao Nascer do Sol especialistas falam em críticas que ‘não são suportadas por nenhum estudo científico’ e desmistificam as dúvidas.

Apesar de ainda estar a decorrer o leilão do 5G em Portugal, a sua implementação no nosso país está cada vez mais perto. No entanto são várias as vozes que se fazem ouvir que alertam para os problemas que a radiação poderá trazer para a saúde. Mas será mesmo assim? O Nascer do SOL falou com dois professores e investigadores na área para tentar desmistificar o assunto. 

«Esta conversa é sempre um pouco uma conversa de surdos porque dá a sensação que é como se as coisas fossem ‘ou há perigo ou não há perigo’. E não é assim que funciona», começa por dizer Rui Luís Aguiar, professor da Universidade de Aveiro e investigador do Instituto de Telecomunicações. E deixa um exemplo: «O micro-ondas. Ninguém no seu bom juízo vai colocar-se dentro do aparelho. O que as pessoas não sabem é que o comportamento do micro-ondas é muito semelhante ao comportamento das redes wi-fi. A internet local funciona na gama das frequências do micro-ondas. Qual é a diferença? Uma coisa chega-lhe às mãos com potências um milhão de vezes inferior à outra. Portanto, a radiação eletromagnética faz mal? Claro que faz, vem do micro-ondas… É só aumentar a potência».

Na verdade não é disso que estamos a falar. Aqui falamos de radiação não ionizante. «O que significa que todas as comunicações que estamos a falar neste momento para serem utilizadas em Portugal são não ionizantes, estão profundamente estudadas». Diz ainda Rui Luís Aguiar que existem organismos mundiais que analisam o efeito da radiação eletromagnética nos corpos vivos e essas instituições definem níveis de radiação máximos de perigo. «Os sistemas de comunicações 5G são feitos para uma ordem de grandeza abaixo desses níveis. Isto é o pico do sistema. O que quer dizer que, em média, estaríamos a falar de valores 100 vezes inferior aos níveis de segurança». 

O professor da Universidade de Aveiro questiona: «As pessoas acham que tenho algum desejo de morrer e de estar a promover uma tecnologia da qual vou ser um grande utilizador para depois me fazer mal à saúde? A radiação de 5G nas gamas que estamos a falar neste momento está mais que estudada e os níveis de potência que estamos a falar não são perigosos», garante.

Vamos ter mais antenas? Vamos. No entanto, isso não significa maior risco. Até pelo contrário. «É menos perigoso o 5G pelo facto de ter mais antenas. Não é por causa das antenas que há mais exposição», explica Rui Luís Aguiar. Porquê? «Não é a exposição que conta, é a potência. A potência dos telemóveis, o que colocamos no ouvido junto ao cérebro, varia com a distância a que está a antena». Ou seja, «quanto mais longe estiver a antena, maior vai ser a potência do telemóvel. É por isso que aquela noção de que ter mais antenas dá mais radiação, não dá nada. Porque o importante não é a radiação da antena, é a radiação que o telemóvel vai fazer. E se tem as antenas mais próximas o telemóvel vai transmitir menos potência. É precisamente ao contrário daquilo que as pessoas dizem», garante.

E há mais radiação? «É verdade que no total há mais radiação», explica. «Até é questionável mas o que importa não é só o total. Dada a forma como a radiação varia, a grande questão não é a radiação no total mas a radiação junto a si. Quanto mais longe estiver a antena maior vai ser a potência que vai ter o seu telemóvel para comunicar, maior vai ser a radiação junto a si. Portanto, antenas mais próximas são 5 estrelas, gastamos menos energia no telemóvel», explica. 

Aliás, o 5G será até menos prejudicial que o 4G. «No 4G, não há demonstrações de perigos de saúde e o 5G está a ser feito cumprindo mais cuidados de saúde que o 4G. Se temos toda uma experiência de anos com uma dada tecnologia e a próxima é ainda mais cuidadosa, porquê que as pessoas esperam que haja problemas com a próxima?», questiona Rui Luís Aguiar.

Já o professor António Rodrigues, professor do Instituto Superior Técnico e investigador do Instituto de Telecomunicações, lembra que vivemos rodeados de dispositivos que criam campos eletromagnéticos à nossa volta, como é o caso das antenas de difusão de TV e radio, as antenas dos sistemas de comunicações móveis e mais perto do nosso corpo a radiação do écran do computador, dos dispositivos Bluetooth e os terminais móveis. «Ao longo da evolução das tecnologias digitais de comunicações móveis, do 2G até ao 5G, a potência média de emissão dos terminais móveis tem vindo a decrescer no sentido de vir a limitar tanto quanto possível o nível de radiação dos terminais», diz ao Nascer do SOL.

António Rodrigues recorda ainda que existem normas internacionais e europeias que estão espelhadas na legislação portuguesa que limitam os valores de radiação para os limites de segurança estabelecidos. «Os valores são constantemente monitorizados pela Anacom e normalmente as antenas operam em Portugal com valores 50 vezes mais fracos do que os estabelecidos nessas normas».

Para já, o 5G utiliza basicamente o mesmo tipo de tecnologia que o 4G e, por isso, «não difere muito do ponto de vista de radiação a que os seres humanos serão expostos».

No que diz respeito às críticas ao 5G, António Rodrigues garante que «não são suportadas por nenhum estudo científico e são amplificadas por notas nas redes sociais que são credíveis». Garante ainda o investigador que «por vezes, somos influenciados por aquilo que vemos à nossa volta». E deixa um exemplo prático: «Para um utilizador em Lisboa, a intensidade de radiação recebida a partir de uma antena de emissão de TV colocada em Monsanto é superior àquela que recebemos da estação de base à qual o nosso terminal móvel está ligado».