Montepio. Mutualista com perdas de 18 milhões e auditor com reservas

PwC coloca reservas à capacidade de recuperação dos impostos diferidos registados no balanço.O i sabe que sem os impostos diferidos, os capitais próprios seriam de 500 milhões negativos.

A Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG) apresentou prejuízos de 18 milhões de euros, em 2020. Tal como o i já tinha avançado, de acordo com os estatutos, a entidade liderada por Virgílio Lima deveria ter apresentado os resultados no final de março, mas o presidente foi adiando a apresentação de resultados face à divergências com a auditora PwC. No documento a que o i teve acesso, o auditor volta a colocar reservas à capacidade de recuperação dos impostos diferidos registados no balanço, que passaram de 833 milhões para 868 milhões. O i sabe que sem os impostos diferidos, os capitais próprios seriam de 500 milhões negativos.

E os alertas não ficam por aqui. “Tendo por base as projeções apresentadas pela administração, a entidade não demonstra capacidade para gerar resultados tributáveis suficientes que permitam recuperar parte substancial dos ativos por impostos diferidos registados”, acrescentando ainda que os valores apresentados no balanço em 31 de dezembro de 2020 e em 31 de dezembro de 2019 “encontram-se sobreavaliados por um montante materialmente relevante, a magnitude do qual não estamos em condições de quantificar, dada a incerteza inerente às projeções dos resultados tributáveis”.

Recorde-se que em 2019 apresentou perdas de 408,8 milhões de euros, sobretudo devido ao reforço das imparidades para o Banco Montepio, que comparam com lucros de 1,6 milhões de euros de 2018. Um dos pontos de discórdia tem estado relacionado com o facto de o presidente da Mutualista querer reforçar os fundos para atenuar os prejuízos dos exercícios. Uma situação que voltou a repetir-se.

Dúvidas sobre a continuidade

A auditora coloca também reservas em relação à continuidade da atual administração. “Estas condições indiciam que existe incerteza material relacionada com a continuidade”, refere o documento a que o i teve acesso, acrescentando ainda que “a continuidade das operações encontra-se dependente, nomeadamente, da concretização do Plano de Ação e Orçamento para 2021, aprovado pelo conselho de administração em 9 de dezembro, tendo presente o atual contexto desfavorável, associado aos eventuais impactos da pandemia”.

Outras dúvidas também são colocadas em torno do valor da participação financeira no banco e nas seguradoras. O i já tinha avançado que a avaliação do banco é um dos calcanhares de Aquiles e que tem vindo ganhar contornos face à situação financeira da instituição financeira: fechou o ano passado com prejuízos de 80,7 milhões. 

Estas incertezas impasse surgem numa altura em que terá de convocar a Assembleia Geral para proceder à votação do novo regulamento eleitoral da Associação Mutualista Montepio, e o i sabe que o atual presidente da Associação Mutualista Montepio Geral tem estado a tentar criar consensos internos para se apresentar às eleições, que deverão ocorrer até ao final do ano.

O nosso jornal sabe que tem havido dificuldades por parte de Virgílio Lima na obtenção de apoios fora do circuito habitual caracterizado por forte ligação ao PS. Se até ao momento, Lima já obteve o acordo de Maria de Belém Roseira para encabeçar a lista para a Assembleia de Representantes, tentou fazer o mesmo com António Bagão Félix, mas o ex-ministro declinou o convite. Apesar das questões recentemente levantadas pela ASF relativamente à falta de adequação de Idália Serrão para manter a responsabilidade dos pelouros Financeiro e de Contabilidade, Lima mantém a confiança na administradora militante do PS.