Centeno. Medidas temporárias não devem tornar-se permanente

Governador afirma que apoio ao mercado de trabalho contribuiu para evitar queda de emprego.

O governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, afirmou que não se deve tornar permanentes medidas que foram criadas para dar uma resposta temporária à crise.

ão podemos querer manter no futuro medidas que foram criadas para serem temporárias", precisou o governador do Banco de Portugal na apresentação do Boletim Económico de maio onde o BdP faz uma análise da economia em 2020.

Estão neste caso, apontou, medidas como o 'lay-off' simplificado ou as linhas de crédito garantidas.

Tornar permanente medidas temporárias é, de resto um dos riscos identificados pelo Banco de Portugal na sequência da atual crise causada pela pandemia de covid-19, a que juntou outros dois: desigualdade social e a criação de pressão sobre o sistema financeiro.

Evitar queda de emprego

O Banco de Portugal publicou esta quarta-feira o boletim de maio que faz uma análise aprofundada da evolução da economia portuguesa em 2020. Segundo o documento, o "impacto da pandemia foi muito diferenciado em termos setoriais", mas "as medidas de salvaguarda do emprego contribuíram para conter a sua redução em 2%" e "a taxa de desemprego subiu apenas 0,3 pp, para 6,8%". 

"Em 2020, a evolução da economia portuguesa foi fortemente condicionada pela pandemia", pode começar por se ler na nota, referindo que "após sete anos de crescimento consecutivo, e de redução generalizada do risco nos diferentes setores institucionais, as estimativas apontam para uma queda da atividade em Portugal de 7,6% em 2020, superior à contração de 6,8% na área do euro, refletindo sobretudo uma maior exposição ao turismo".

O choque pandémico foi ainda minorado devido à "preservação das condições de financiamento favoráveis e às medidas de apoio às famílias e às empresas, com destaque para os subsídios às empresas e a suspensão de obrigações fiscais". No caso das empresas, em específico, "as linhas de crédito com garantia pública e o regime de moratórias permitiram suprir as necessidades de liquidez". 

"As despesas com juros das administrações públicas reduziram-se pelo sexto ano consecutivo. O rácio da dívida pública aumentou 16,8 pp, para 133,6% do produto interno bruto (PIB), refletindo o défice orçamental de 5,7% do PIB, a acumulação de depósitos de 4,6% do PIB e a contração do PIB de 7,6%. O aumento da dívida pública em Portugal foi superior ao da área do euro", é ainda referido.

Durante o contexto pandémico houve ainda uma descida dos preços, com a taxa de inflação a reduzir "para -0,1% (0,3% em 2019), refletindo sobretudo a evolução dos preços dos bens energéticos e dos serviços". "Apenas os preços dos bens alimentares apresentaram um aumento significativo de 1,8%", acrescentam.

Por fim, "a economia portuguesa reduziu a sua capacidade de financiamento face ao exterior". "Esta evolução é diferenciada nas componentes da balança. O saldo conjunto da balança corrente e de capital situou-se em 0,1% do PIB (1,2% em 2019). A balança corrente passou a registar um défice de 1,2% do PIB, em contraste com o excedente médio de 0,5% em2018 e 2019. Por seu turno, o saldo da balança de capital aumentou para 1,3% do PIB, por via dos recebimentos dos fundos da União Europeia", remata o documento.