Israel-Palestina. Tensões em alta na Cidade Santa

Israel autorizou uma marcha nacionalista por bairros árabes, quando Jerusalém parece um “barril de pólvora”.

Dias após a polícia israelita tomar de assalto a mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém, disparando granadas atordoantes e balas de borracha num dos locais mais santos do islão, durante as orações da noite, ferindo cerca de duzentos palestinianos, as autoridades israelitas decidiram este domingo autorizar as paradas do Dia de Jerusalém, marcadas para segunda-feira. Trata-se da ocasião em que os judeus mais nacionalistas celebram a ocupação da cidade santa, atravessando os bairros árabes de bandeiras na mão – teme-se que o pior, face à escalada da tensão.

“O barril de pólvora está a arder e pode explodir a qualquer momento”, alertou Amos Gilad, antigo dirigente da Defesa israelita, citado pela Associated Press, Apelava a que as marchas do Dia de Jerusalém fossem canceladas, ou que o seu percurso alterado para evitar o Portão de Damasco, na Cidade Velha, um ponto de encontro tradicional dos palestinianos no Ramadão, cujo o acesso foi restrito este ano pelas autoridades israelitas, tornando-se um dos centros dos protestos. 

Contudo, o epicentro da contestação é Sheikh Jarrah, um bairro palestiniano no leste de Jerusalém, onde seis famílias foram despejadas das suas casas pelas autoridades israelitas, para colonos se instalarem. Poderia ser uma ocorrência meramente rotineira, não se tivesse tornado um símbolo do esforço de Telavive para afastar palestinianos de regiões estratégicas. Centenas de manifestantes têm-se reunido em Sheikh Jarrah todas as noites, contra os despejos, enfrentando bastonadas e cargas de polícia montada, 

“Eles querem expulsar os árabes e assim conseguirem rodear a Cidade Velha”, acusou Abdelfatah Skafi, de 71 anos, um dos que arriscam ser despejados, ao New York Times. O caso deverá ser decidido pelo Supremo Tribunal israelita na segunda-feira – a decisão, penda para que lado pender, poderá inflamar ainda mais os ânimos.

É que os colonos israelitas também estão a fazer deste caso um cavalo de batalha, alegando que o bairro palestiniano foi construído ao pé da tumba de um rabi do séc. III, Simão o Justo.

“Pergunto-lhe”, disse Aryeh King, dirigente do movimento de colonos e número dois da câmara de Jerusalém, à revista nova-iorquina. “Se és o dono da propriedade e alguém a ocupa, não terias o direito de o tirar da tua propriedade?”.